Sociedade | 16-10-2022 10:00

Desavença entre chefe das finanças de Benavente e empregado de mesa acaba em tribunal

Adalberto Silva fez queixa da situação na GNR e critica a postura do funcionário público

Mariscada num restaurante do Porto Alto acabou com a GNR a ser chamada por causa de um desentendimento. Empregado de mesa natural do Brasil diz ter sido ofendido por um cliente com frases xenófobas. O visado, que é chefe das Finanças, nega as acusações.

O funcionário de um restaurante no Porto Alto queixa-se de conduta imprópria e racista do chefe das Finanças de Benavente para com a sua pessoa e fez queixa na Guarda Nacional Republicana. O funcionário público nega as acusações e ambos dizem que vão avançar na justiça para determinar a quem assiste razão.
Adalberto Silva, 36 anos, nasceu no norte do Brasil mas vive em Portugal há 16 anos e tem nacionalidade portuguesa. Vive e trabalha no Porto Alto, no restaurante A Torre, há 14 anos. No dia 12 de Setembro queixa-se de ter vivido uma situação inédita na vida, quando, alega, foi vítima de acusações de teor xenófobo por parte do funcionário público. O caso aconteceu durante um almoço onde estavam três pessoas na sala reservada do restaurante: o chefe das Finanças, Fernando Lopes e dois empresários. Fernando Lopes explica que não almoçou, que apenas se sentou à mesa de uma pessoa amiga que ali tinha almoçado e que esteve com ele à conversa, já após ter tomado a sua refeição.
Quando entrou para servir a mesa, Adalberto Silva diz ter sido imediatamente mal tratado. “Quando fui levar a sobremesa disse-me que faltava uma. Perguntou-me se eu estava a dormir, mandou-me abrir os olhos e até comentei com o meu colega que ele era bastante arrogante”, recorda o empregado do restaurante a O MIRANTE. Quando chegou a hora dos digestivos, Adalberto apareceu com uma garrafa de aguardente que serviu mas diz ter sido confrontado por Fernando Lopes a exigir que a garrafa ficasse na mesa. “Disse-lhe que isso não era possível e quando fui servi-lo tirou-me a garrafa da mão e carregou a aguardente dentro do copo dele, meteu umas duas doses dentro do copo. Agarrei novamente na garrafa e levei para o balcão”, critica.

Ignorar ordem para não fumar
Momentos depois, quando voltou à sala, Adalberto Silva viu o funcionário público a fumar dentro do estabelecimento. “Avisei-o que não era permitido fumar dentro da sala e ele respondeu-me que levasse um cinzeiro. Disse imensas vezes que não podia fumar. Nessa altura virei as costas e chamei a GNR. Foi um colega que conseguiu que ele apagasse o cigarro”, lamenta.
Quando a GNR chegou começou a confusão. “Ele alterou-se, começou a gritar comigo e a ofender-me em frente a toda a gente. Disse à GNR que eles deviam era procurar imigrantes como eu, acusou-me de ter documentos falsos, a GNR disse-lhe para ter calma”, recorda Adalberto. Da queixa apresentada no posto constam duas testemunhas: os dois militares que presenciaram a situação e o patrão de Adalberto Silva.
Poucos dias depois, segundo Adalberto Silva, um amigo de Fernando Lopes terá ido ao restaurante à sua procura para pedir desculpa. “Disse-me que ele era um homem de muito poder e que queria conversar comigo, que não queria que o caso fosse para tribunal, que as coisas se iriam complicar mais para a frente e que me queria pedir desculpa”, refere. No entanto Adalberto não quer um pedido de desculpas. “Quero que ele seja punido por não ter respeitado o meu trabalho e me ter ofendido. Pelo menos que leve uma reprimenda, que nunca mais faça isso com ninguém e se arrependa do que fez”, conclui.

Fernando Lopes nega acusações
Contactado por O MIRANTE, o chefe das Finanças de Benavente diz ser “absolutamente falso” que tenha estado ou participado numa mariscada. Diz desconhecer o que comeram, quanto pagaram, quem pagou e a quem foi emitida a factura. O funcionário recebeu o jornalista de O MIRANTE no seu gabinete, explicou o que terá acontecido mas não deu autorização para que a conversa fosse gravada. No mesmo dia enviou resposta às questões do jornal, dizendo ser “absolutamente falso” que tenha lançado insinuações racistas ao trabalhador mas onde reconhece ter sido verdade ter acendido um cigarro dentro do restaurante. “Julguei ser permitido fumar no estabelecimento, pois não vi qualquer sinal de proibição. Porém, quando o empregado me chamou a atenção, apaguei imediatamente o cigarro”, garante.
Após o incidente, Fernando Lopes diz ter-se prontificado a pedir desculpa a Adalberto Silva por um comentário que fez que reconhece não ter sido correcto mas, repete, não tinha qualquer conotação racista. “O senhor Adalberto Silva não quis aceitar o meu pedido de desculpas e exigiu que lhe pagasse uma indemnização de dez mil euros caso contrário iria para os jornais”, conclui.

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