Sociedade | 30-09-2022 07:00

Edição Semanal. Filstone vive dificuldades e despede meia centena de pessoas

Ricardo Jorge (à esquerda de Frederico Varandas) é administrador da Filstone, um dos principais patrocinadores do Sporting Clube de Portugal. Empresa vive dificuldades financeiras e acabou de despedir mais de meia centena de trabalhadores. Foto Sporting CP

Filstone atravessa dificuldades financeiras e despediu meia centena de funcionários para garantir a continuidade da actividade de exploração. Problemas na gestão da maior pedreira de Fátima também terão contribuído para crise financeira.

O negócio da exploração das pedreiras na zona de Fátima, concelho de Ourém, voltou à ordem do dia depois de O MIRANTE ter noticiado em primeira mão que a Filstone – Comércio de Rochas S.A está a atravessar graves dificuldades financeiras. A maior pedreira de Fátima, situada em Casal Farto, despediu cerca de meia centena de funcionários, uma medida que, segundo apurou o nosso jornal junto de um dos trabalhadores despedidos, também se deve a problemas de gestão.
O antigo funcionário revelou que as quebras da exportação do produto não são a única razão para o despedimento colectivo e que é muito provável que a empresa tenha de despedir mais pessoas nos próximos meses. Reconhecendo que a pandemia teve um impacto muito negativo na actividade da empresa, nomeadamente no que diz respeito ao condicionamento das vendas para a China, mercado responsável por cerca de 90% da exportação do produto, o ex-colaborador fala em “passo maior do que a perna” em vários cenários.
Recorde-se que a empresa fundada por Ricardo Jorge Filipe, que também é o administrador, comprou uma nova pedreira em Julho de 2021, em Alpalhão, concelho de Nisa, investimento que será outras das razões para o actual desequilíbrio financeiro da Filstone. A Filstone é também um dos principais patrocinadores do Sporting Clube de Portugal tendo inaugurado, em plena pandemia, o primeiro Filstone Center, em Yunfu, reforçando a presença dos seus materiais na China.
O ex-funcionário, que tinha um cargo de relevo na empresa, reforça que o despedimento colectivo teve como propósito viabilizar a empresa tendo em conta os maus resultados dos últimos dois anos. Uma vez que o processo de despedimento aconteceu há cerca de um mês o ex-colaborador afirma a O MIRANTE que ainda vai prestar mais declarações a curto prazo.
Um dia depois do nosso jornal ter noticiado em primeira mão o despedimento colectivo na Filstone, texto publicado no site do nosso jornal a 22 de Setembro, e que foi citado em vários órgãos de comunicação social, depois da agência Lusa ter agarrado no assunto, a empresa respondeu ao pedido de esclarecimentos afirmando que “em Agosto de 2022 procederam ao despedimento colectivo de 49 trabalhadores, das áreas administrativa e de produção (…) para efeitos da sustentabilidade da empresa e para garantir a continuidade da actividade abrangendo as pedreiras de Fátima, em Ourém, e Alpalhão”. A nota refere que vão permanecer na empresa 165 colaboradores. “A decisão resulta do decréscimo acentuado das vendas e do aumento dos custos de produção que inviabilizaram a manutenção de todos os postos de trabalho”, refere o comunicado.
No que diz respeito aos gastos em altos patrocínios a Filstone refere que “o facto de a empresa patrocinar actividades desportivas de âmbito nacional ou de âmbito local ou de organizar e patrocinar actividades de natureza cultural e actividades artísticas na freguesia de Fátima e no concelho de Ourém são totalmente alheias às dificuldades que geraram o despedimento colectivo”.

Pedreiras levaram PJ a Ourém

Os negócios das pedreiras de Fátima levaram a Polícia Judiciária a realizar uma visita à Câmara de Ourém a propósito dos processos de declaração de interesse público. A situação ocorreu em 2021 e foi debatida numa Assembleia Municipal de Ourém (AMO), depois do seu presidente, João Moura (PSD), ter sido questionado sobre se a escultura oferecida à AMO era a razão principal da investigação.
O deputado do PSD explicou apenas que pedra foi oferecida por um “mecenas”, referindo ainda que a ida da PJ se deveu a denúncias anónimas e nada teve que ver com interesses particulares.

Poder político de Ourém e empresas exploradoras de pedreiras estão de mãos dadas

José Alho, ex-autarca em Ourém e actual dirigente na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) de Lisboa e Vale do Tejo tem sido um dos maiores opositores no que diz respeito à expansão das pedreiras em Fátima. Questionado por O MIRANTE, José Alho mantém a posição de que a declaração de interesse público que serviu para a expansão das pedreiras devia ser um estatuto utilizado “de forma séria e verdadeira para bem do concelho”. “Continuo contra a medida aprovada que só serviu para facilitar a legalização das empresas. Não estamos a atribuir esse estatuto porque é importante para o concelho, mas sim porque as empresas precisam desse estatuto para laborarem. Ainda por cima, quando ainda não tinham regularizado um pedido de ampliação já estavam a pedir outro”, sublinha.
Em 2021 O MIRANTE esteve presente numa sessão camarária onde alguns moradores de Casal Farto apareceram para se queixarem da decisão de darem às empresas exploradoras das pedreiras declarações de interesse público municipal para a ampliação. O alvo foi apontado para a Filstone tendo sido dito que a empresa ultrapassava vários limites, nomeadamente no que diz respeito às poeiras, intensidades das explosões, sobretudo em horas fora do expediente, e passagem de camiões a alta velocidade.
Do lado oposto da barricada, o presidente da Junta de Freguesia de Fátima, Humberto Silva (PSD), tem sido um dos principais defensores da ampliação das pedreiras e da declaração de interesse público como revelou numa Assembleia Municipal de Ourém, em 2019, afirmando que era necessário “porque estavam em causa centenas de postos de trabalho”.
Fonte do PS que preferiu ficar no anonimato diz ainda que a política e as empresas que exploram as pedreiras estão de mãos dadas, dando como exemplo o facto do presidente da ASSIMAGRA (Associação Portuguesa da Indústria dos Recursos Minerais), ser liderada por Miguel Goulão, actual administrador da Filstone. O dirigente passou pela gestão de diversas empresas e associações, incluindo a Associação de Hotelaria e a Confederação do Turismo de Portugal, para além de ter sido secretário-geral da JSD (Juventude Social Democrata) e vereador na Câmara das Caldas da Rainha.

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