Uma semana depois de Joaquim Faria ter abordado a ministra da Saúde e o presidente do conselho de administração do Hospital de Vila Franca de Xira para se queixar da forma como o pai foi tratado nas urgências daquela unidade de saúde, pouco ou nada mudou. A história de Joaquim Faria, de 51 anos, que partilha o nome com o seu pai, correu a região depois de O MIRANTE ter publicado um vídeo onde este aproveita o final da visita de Marta Temido ao Hospital de Vila Franca de Xira para se queixar da forma como o pai tem sido acompanhado naquela unidade. “Deixaram um homem de idade com um problema cardíaco durante 12 horas à espera de ser atendido numa sala fria. Onde está a humanidade disto?”, criticou.
Ex-emigrante e residente em Arruda dos Vinhos, Joaquim Faria estava desesperado por não conseguir ver o problema do pai resolvido. Perante o embaraço causado pela situação em frente aos jornalistas, Carlos Andrade Costa, administrador do hospital, tentou resolver a situação garantindo que ninguém deixou o utente ao abandono. “Não, isso não é verdade, o meu pai foi abandonado”, retorquiu Joaquim, que chegou a dormir no carro à espera que o pai fosse atendido.
Acabou por ser a ministra a sugerir que, uma vez que iam continuar a visita ao hospital, Joaquim Faria os acompanhasse para perceberem melhor a situação. Afinal a visita acabou a poucos metros dos jornalistas. “Meteram-me num gabinete, o presidente e a ministra foram dar a sua volta e fiquei lá com outras directoras. Não senti que tivesse havido uma solução para o problema. Quando voltaram falaram um pouco comigo, ouviram-me mas não quiseram mais saber do assunto”, recorda a O MIRANTE.
Utentes precisam de reclamar
Joaquim Faria, o pai, tem 75 anos, foi páraquedista e serviu na Guerra Colonial. É natural do concelho de Alenquer e a esposa é da Lourinhã. Quando voltou da comissão militar trabalhou numa fábrica americana de produção de componentes para televisões em Arruda dos Vinhos. O filho trabalha em arquitectura e remodelações.
O problema de saúde surgiu há um ano quando se começou a sentir cansado. Uma bateria de exames revelou um problema numa válvula do coração. Foi operado em Novembro de 2021 e enviado para casa. Em Dezembro começou a sofrer desmaios e sempre que ia ao Hospital de Vila Franca de Xira era visto por um médico e enviado para casa, sempre depois de várias horas à espera.
Depois de abordar a ministra e graças à “muito boa vontade de um médico estagiário e uma enfermeira” que estavam de serviço, lá se percebeu que afinal precisava de um pacemaker. Foi operado novamente mas continua a desmaiar. Tem agora um novo leque de exames agendados para os próximos dias. “Até estão a pensar dar-lhe apoio psicológico porque esta semana foi má demais para ele. Passou dois dias nas urgências sentado num cadeirão e nem almoço ou pequeno-almoço lhe deram. Foi desumano”, lamenta o filho, que critica que pouca gente se dê ao trabalho de criticar as situações que não estão a correr bem no hospital.
“Infelizmente, quando a oportunidade aparece muita gente cala-se mas isto não pode continuar assim. Quando entrei no hospital houve várias pessoas que me tinham visto em O MIRANTE e disseram-me que tinha feito bem. Houve enfermeiras e alguns médicos que, em privado, me deram os parabéns por ter enfrentado a ministra. O hospital não está a funcionar como deve ser mas o problema não é dos médicos nem dos enfermeiros, é da administração”, critica.
“Saúde não é propriedade de um administrador”
Na última semana também a comissão política concelhia do PSD de Vila Franca de Xira lançou críticas à gestão de Carlos Andrade Costa lamentando que durante a visita do deputado Ricardo Baptista Leite à unidade muitas das questões não tenham sido respondidas.
“O objectivo era conhecer os problemas do hospital mas o presidente do conselho de administração não respondeu de forma clara a nenhuma”, critica o PSD, que condena que o seu deputado não tenha tido o mesmo tipo de tratamento que a ministra da Saúde. “Quando um utente interpela o gestor e a ministra os microfones dos jornalistas foram desligados. Foi conhecido o teor da conversa quando O MIRANTE divulgou o vídeo cumprindo a verdadeira função de informar de forma isenta a população”, acrescenta a nota. O PSD de Vila Franca de Xira diz-se indignado e preocupado com a forma como o hospital tem vindo a ser gerido por Carlos Andrade Costa e termina lembrando que “a saúde é um direito e é de todos, não é propriedade de um qualquer administrador hospitalar”.