Médicos desesperados com a realidade do Hospital de VFX
Mais de duas dezenas de médicos de medicina interna escreveram à sua ordem profissional pedindo uma avaliação da situação e acusam a administração liderada do hospital de pintar um quadro de propaganda cor-de-rosa, como se tudo estivesse bem.
Não vale a pena a administração do Hospital de Vila Franca de Xira, liderada por Carlos Andrade Costa, pintar um quadro cor-de-rosa dizendo que tudo está a correr bem na unidade de saúde quando, na realidade, não está. A opinião é do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) que na passada semana lançou um “grito desesperado” de ajuda para a situação que se está a viver naquela unidade.
Numa carta enviada ao conselho de administração, os médicos acusam a gestão de Carlos Andrade Costa de ter visto e permitido “contínuas rescisões contratuais” nos últimos meses, agravando a falta dos já escassos recursos humanos. “Neste momento o desalento impera nos corredores do hospital e sabemos que recentemente a directora do serviço de medicina interna pediu a demissão invocando falta de meios”, lamenta o sindicato.
Além da debandada de médicos, deu entrada no Colégio de Especialidade de Medicina Interna da Ordem dos Médicos um pedido de apoio subscrito por 24 médicos do Hospital de Vila Franca de Xira, para que se estabeleçam limites à carga assistencial relativa a doentes internados e para que a ordem avalie e determine o número máximo de doentes por médico, necessário para manter uma actividade assistencial de qualidade, e impondo limites ao que o hospital está a fazer. “Este tipo de atitude apenas acontece em casos extremos. É um grito desesperado de clínicos que temem pela saúde dos seus doentes e exigem melhoria das condições de trabalho, pelo menos para os mínimos mais elementares que permitam a prestação de cuidados”, criticam.
Um especialista para 12 doentes
O agravamento crónico dos rácios de doente/médico obriga cada especialista a observar 12 doentes em Vila Franca de Xira, quando o último despacho ministerial estipula que o rácio normal seria de oito médicos por cada 60 camas, ou seja, pouco mais de 7 doentes por especialista. “Apesar dos contínuos alertas do SIM, o conselho de administração parece empenhado em esticar a corda sem reparar que a corda já deve ter partido. E investe na pintura de um quadro de propaganda cor-de-rosa em vez de ser verdadeiro para que se abordassem com seriedade os problemas e se procedesse à sua resolução”, acrescenta o sindicato.
O facto dos médicos de medicina interna terem de continuar a reforçar escalas no serviço de urgência é também alvo de críticas e o SIM fala mesmo em “perigosa insensatez”. Neste momento, segundo o SIM, estão para chegar mais rescisões contratuais, “o que irá agravar ainda mais a situação desesperante que se vive no hospital”.
A secretária regional do SIM, Maria João Tiago, que assina a carta enviada à administração, avisa mesmo que a elevada rotatividade de médicos e o recurso crescente a prestadores externos não são a solução, que isso é prejudicial para o serviço e utentes e que já nem a contratar prestadores o hospital gerido por Carlos Andrade Costa consegue ser competitivo.
Hospital tem estado a reorganizar serviços
Contactada por O MIRANTE, a administração da unidade de saúde diz que tem estado a reorganizar serviços com o objectivo de ultrapassar constrangimentos sentidos no serviço de medicina interna, que já perdeu mais de uma dezena de médicos. O hospital confirma que foi nomeada em Outubro do ano passado uma nova directora do serviço de medicina interna mas que esta deu conta da dificuldade de atrair médicos especialistas para preencher 12 vagas que se encontravam em aberto. Por isso, considerando esgotado o seu plano de gestão do serviço, apresentou a demissão, que foi aceite pelo conselho de administração.
O hospital diz que desde Janeiro já rescindiram contrato com a unidade dois médicos especialistas e dois médicos de formação específica. A equipa tem hoje 17 médicos.
“O mês de Junho reporta menos horas extra realizadas pelos médicos de medicina interna do que nos meses anteriores, razão pela qual não se reconhece o que está escrito na carta enviada para a Ordem dos Médicos”, considera o hospital.