Sociedade | 26-10-2022 12:00

Mulheres rurais que trabalham e recebem igual aos homens na lenha e na cortiça

Sara Santos e Ioan Glodean estão em pé de igualdade com os colegas do sexo oposto

Separam a cortiça da lenha, mas não querem separações de género: Sara Santos e Ioan Glodean trabalham no campo com as mesmas tarefas e o mesmo salário dos homens e são exemplo do peso que as mulheres têm na força de trabalho agrícola. O MIRANTE conversou com as duas funcionárias da Floripinhas, de São José da Lamarosa, Coruche, a propósito do Dia Internacional da Mulher Rural, comemorado a 15 de Outubro.

Quem diz que as mulheres são o sexo fraco é porque não viu a facilidade com que Sara Santos e Ioan Glodean pegam nas pernadas dos sobreiros para as levar à máquina que separa a lenha da falca, um tipo de cortiça que se encontra nos ramos dos sobreiros. Os incontáveis quilos que passam todos os dias pelas mãos das duas funcionárias da empresa de exploração florestal Floripinhas, de São José da Lamarosa, em Coruche, não parecem sobrecarregá-las: Sara e Ioan trabalham no campo por gosto e, para ambas, isso é um descanso. “Chegamos à noite com o físico cansado, mas o psicológico vai leve”, garante Sara Santos, com a força guardada por detrás de um corpo franzino.
Hoje com 34 anos, Sara começou a trabalhar na agricultura com apenas 15 anos. Embora tenha tido outros empregos, não se imagina a fazer outra coisa. “Trabalhei em fábricas e num restaurante, mas não gostei, vinha de lá exausta da cabeça”, conta. Ao seu lado, na máquina de onde sai a falca rumo às fábricas, para ser transformada, e a lenha, que é vendida à tonelada, Ioan Glodean partilha o mesmo sentimento. Em Portugal há 18 anos, a romena residente nos Paços dos Negros, Almeirim, tem trabalhado sempre no campo e já o fazia na Roménia. A dificuldade em falar português não a impede de expressar a “paixão” pela cortiça. “Faço de tudo um pouco, mas é disto que gosto mesmo”, sublinha.

Trabalhar de igual para igual com os homens
Na labuta de todos os dias entre as 8h00 e as 17h00, Sara e Ioan estão em pé de igualdade com os colegas do sexo masculino. “Não há cá diferenças”, orgulha-se a portuguesa, que desde cedo viu a mãe e as irmãs também a trabalhar no campo. Apesar de desconhecerem a existência de um Dia Internacional da Mulher Rural, que se comemora a 15 de Outubro, Sara e Ioan carregam a importância que as mulheres continuam a ter na força de trabalho agrícola e que o patrão, José Alves, conhecido por Cabeça de Ferro, confirma. O empresário assegura que há igualdade salarial: “elas desempenham as mesmas tarefas, por isso ganham o mesmo que os homens.”
À carga laboral, Sara e Ioan, mães de dois filhos e duas filhas, respectivamente, somam ainda o volume das tarefas domésticas, quando chegam a casa, mas recusam que seja um fardo: “quando fazemos o que gostamos, tudo se aguenta melhor”, afirma Sara Santos, que espera que os filhos sigam outros passos. “Preferia que eles trabalhassem noutra coisa, mas se forem como a mãe e o pai, o mais certo é irem pelo mesmo caminho”, reconhece. Natural de Coruche e a morar nos arredores de São José da Lamarosa desde que se casou, há 15 anos, o sorriso tímido de Sara escancara-se quando o MIRANTE lhe pergunta se, daqui a uns anos, com o peso da idade, pretende ir em busca de trabalhos mais leves. “Não”, atira prontamente. “Quero fazer isto a vida toda.”.

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