Sociedade | 06-02-2022 18:00

Um parto complicado e o drama da família Vieira e do Francisco que sofre de paralisia cerebral

Francisco Vieira, de 21 anos, sofre de paralisia cerebral isquémica desde que nasceu e os seus pais e irmão dizem que Francisco é uma bênção para esta família de Vale da Pedra

Francisco Vieira vive agarrado a uma cadeira de rodas, em estado vegetativo, provocado por uma paralisia cerebral isquémica que poderá estar relacionada com as consequências de um parto complicado.

Reside em Vale da Pedra, Cartaxo, com os pais e o irmão; todos os dias a família entrega-se aos seus cuidados com amor, sacrifício e muita fé. Com a falta de apoios do Estado, a família conta com o apoio dos amigos e da população para angariar dinheiro e comprar uma casa com condições condignas para viverem.

Francisco Vieira, 21 anos, sofre de paralisia cerebral isquémica desde que nasceu. Natural de Vale da Pedra, concelho do Cartaxo, é para os pais, Francisco José e Clotilde Vieira, e para o irmão Luís, uma “bênção” que os ensina todos os dias a serem melhores pessoas e a não desistir perante as adversidades. O jovem sofreu complicações durante o parto e a privação de oxigénio deixou-o para sempre sem capacidades cognitivas e motoras e completamente dependente dos cuidados da família, que vive em sua função.
O drama da família Vieira começou quando Clotilde desmaiou no parto de Francisco, que nasceu no Hospital de Vila Franca de Xira. Clotilde ficou na sala de dilatação da maternidade até ser encontrada por uma auxiliar, mas as várias horas em que esteve sem sentidos privou o filho de oxigénio e causou-lhe danos irreparáveis. “Quando vi o Francisco pela primeira vez estava completamente deformado e da cor do carvão. Os médicos disseram-me que havia uma forte probabilidade de não sobreviver. São palavras que nos acompanham para toda a vida”, recorda a mãe com emoção. A fé e a força de viver de Francisco falaram mais alto e, cerca de 12 horas depois, foi transportado para o Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, onde ficou internado durante três meses. Para perceber se o problema de Francisco é genético ou resultou de negligência médica, os pais já o levaram a fazer vários exames em Portugal, na Alemanha e Holanda. Os resultados nunca demonstraram que há uma componente genética na origem da doença e por isso, as causas da doença de Francisco terão sido provocadas por erro médico.
Francisco José, de 60 anos, era técnico alimentar e reformou-se por invalidez após estar vários anos de baixa médica. Clotilde Vieira, de 47 anos, era ajudante de cozinha num restaurante em Azambuja e agora vive para cuidar do filho. O pai confessa que já passaram por graves dificuldades financeiras. As despesas com medicação, fraldas e viagens para o hospital só têm sido pagas porque sempre tiveram um grande suporte dos seus amigos e familiares.
A visita de O MIRANTE à casa da família Vieira serviu para contar a história de um jovem que sobrevive todos os dias graças ao amor dos seus familiares e aos esforços que fazem para garantir que nunca lhe irão faltar cuidados de saúde. O grande objectivo é juntar 50 mil euros para comprar uma casa com melhores condições para a família; alguns amigos solidarizaram-se e criaram uma campanha (Apoio ao Francisco) na plataforma “Gofundme” para quem quiser ajudar o poder fazer. “Temos tido alguns apoios por parte de instituições, mas é muito curto para as dificuldades que vivemos. As autarquias interessam-se pouco pelos casos sociais que existem nos seus concelhos. Os serviços de apoio social das câmaras têm que trabalhar mais e melhor porque há muitas pessoas a viver o drama do meu filho”, lamenta Francisco José.

“O FRANCISCO NÃO É UM COITADINHO”

Francisco Vieira é capaz de exprimir emoções como a alegria, a tristeza ou o desconforto; comunica-as através de sons ou de expressões faciais, mas não consegue falar nem tem coordenação motora. Durante o dia passa o tempo deitado na cama ou no chão do quarto, que divide com o irmão, de 16 anos; vai sendo estimulado com brinquedos e os pais nunca se cansam de falar para ele; o que mais gosta é de olhar para as peças de artesanato que o pai constrói com recurso a material reciclável como caixas de medicamentos e plásticos.
“O Francisco não é um coitadinho. A sociedade tem de se mentalizar que as pessoas com deficiência merecem o mesmo respeito e não podem ser discriminadas”, sublinha Francisco José. Por enquanto, os pais afirmam que vão fazer tudo para não internar o filho numa instituição porque sabem que com eles está mais protegido e com melhores cuidados, embora reconheçam que cuidar de uma pessoa de noite e de dia é uma tarefa hercúlea. “É preciso uma entrega e devoção muito grande, mas não há nada que o amor e a fé não consigam ultrapassar. Temos uma família muito unida e feliz e vamos até ao fim do mundo pelos nossos filhos”, afirmam com convicção.

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