“Não tenho perfil para estar acomodada e gosto de fazer coisas diferentes”
Zita Freire, 42 anos, é administradora, juntamente com o marido, do restaurante Mosteiro dos Leitões, na Zibreira, concelho de Torres Novas.
Tirou dois cursos mas como gosta de desafios e sair da sua zona de conforto arriscou e foi trabalhar na área da restauração. A perda do seu pai quando tinha 19 anos foi um choque, mas tudo o que aprendeu com ele são ensinamentos que lhe ficaram para a vida. Tem dois filhos, uma menina de 14 anos e um menino de 9, e quer apenas que sejam felizes e sigam atrás dos seus sonhos.
Gosto de sair da minha zona de conforto e desafiar-me. Fui uma privilegiada porque os meus pais permitiram-me ter uma vida independente na infância e adolescência. Nasci em Portugal mas emigrei muito pequena com os meus pais para a Suíça. Fiz lá o primeiro e segundo ano de escolaridade mas gostava mais de estar na Linhaceira (Tomar), onde sempre vivi, por isso vim viver para casa de familiares onde completei o 3º e 4º anos. Voltei à Suíça durante mais dois anos até que regressei novamente e passado cerca de um ano os meus pais vieram de vez. Aprendi novas culturas e consegui adaptar-me sempre bem.
Venci um concurso de Miss Praia e ganhei um curso de manequim durante um ano em Faro. Tinha 15 anos e os meus pais mudaram toda a sua vida e foram comigo. Tenho uma admiração enorme pelos meus pais porque nunca me proibiram de nada e sempre me incentivaram a fazer o que queria. Fiz o curso e percebi que não gostava daquela área e não queria ser modelo. Se os meus pais não me tivessem deixado ir poderia ter ficado a vida toda a pensar ‘e se eu gostasse da vida de modelo’?
A morte do meu pai foi a grande perda que tive na minha vida. Escolhi o curso de Serviço Social depois de ter passado pelo período de doença do meu pai que faleceu quando eu tinha 19 anos. Quando contactamos com uma realidade tão dura, uma situação que nunca pensamos passar por ela, conhecemos profissionais que já lidam com estas situações e fazem toda a diferença na vida de quem passa por momentos tão difíceis.
Os jovens considerados delinquentes foram crianças muito maltratadas pela sociedade. O meu estágio foi na área da delinquência juvenil e foi muito enriquecedor. Essas crianças precisam de apoio escolar e apoio em casa. Sem o apoio acabam por desistir da escola e passam da idade da vítima ao jovem delinquente indesejado pela sociedade. A culpa é de todos nós e não há apoios suficientes do Estado nem existe uma supervisão das casas onde vivem. Ainda há muito trabalho a fazer nesta área.
Não tenho perfil para estar acomodada e gosto de fazer coisas diferentes. Tirei um outro curso, de consultoria, e pertencia aos quadros de um município. Tinha tudo o que se pode desejar mas sempre gostei de fazer coisas diferentes. O meu marido, Bruno Figueiredo, já trabalhava e geria o restaurante Mosteiro dos Leitões, na Batalha, e eu comecei a dar uma ajuda. Primeiro na área do marketing e fui-me apaixonando pela restauração.
O restaurante na Zibreira tem sido uma surpresa e criamos um novo nicho de mercado. Convidaram-nos para abrir o Mosteiro dos Leitões junto a uma área de abastecimento de combustível e tive receio, ao início, de arriscar mas tem corrido muito bem. Abrimos em Junho de 2020 e quando houve novo confinamento criámos o serviço de take-away e as sandes de leitão, que têm sido um sucesso. Agora vamos implementar o serviço meal to you, uma plataforma online de entrega de comida. Vamos fazer a experiência em Torres Novas mas a intenção é alargar a todo o país.
Aproveito as viagens de carro para pensar e criar novas ideias. Estou sempre a inventar ideias novas. Vivemos na Linhaceira (Tomar) e vou todos os dias para a Batalha e para a Zibreira. São muitos quilómetros por dia e aproveito os momentos no carro para pensar e relaxar. Tive receio de trabalhar com o meu marido mas nunca estamos juntos. Faço questão de jantar todos os dias com os meus filhos e acompanhá-los nos deveres da escola. A minha mãe tem sido um grande apoio para ficar com os meus filhos sempre que é preciso.
Não vou impor aos meus filhos que fiquem com o nosso negócio de restauração. Eles vão fazer o que querem e o que lhes der prazer. Se quiserem ficar com os restaurantes tudo bem, mas tem que ser uma decisão deles. Adoro viajar e quero muito conhecer São Tomé e Príncipe. Adorei conhecer o México, não só pelas praias, mas sobretudo pela cultura diferente. Gosto de conhecer culturas diferentes da nossa. Sou muito impulsiva e digo tudo o que penso, para mim é um defeito. Gostava de conseguir observar e só depois falar.
Entrevista publicada em Fevereiro de 2022