Crónicas do Brasil | 19-03-2016 14:09

À Beira do Colapso

Na última semana uma sucessão de acontecimentos elevou a níveis assustadores a pressão na panela da crise política no Brasil.

Na última semana uma sucessão de acontecimentos elevou a níveis assustadores a pressão na panela da crise política no Brasil. Desde as manifestações de domingo passado em São Paulo, contra o governo, replicadas em centenas de cidades país afora, até as manifestações pró-governo de ontem, também repetidas em centenas de cidades, o Brasil atravessou uma semana perto do colapso institucional e da convulsão social, semana que culminou numa guerra de números para ver qual dos lados em confronto levou mais gente às ruas. Depois das manifestações de domingo, dia 13, contrárias ao governo, passou a circular a notícia de que Lula seria feito ministro. Na quarta-feira o juiz Sérgio Moro, de primeira instância, que conduz o processo das investigações contra Lula, entregou para a rede Globo de Televisão gravações sigilosas que vinham sendo feitas com sua autorização desde o mês de fevereiro. Moro quebrou o sigilo das gravações na iminência de ver o ex-presidente excluído da esfera das investigações conduzidas por ele juiz, uma vez que, empossado ministro, Lula passaria a ser investigado não pelo juiz Moro e sim pela mais alta corte do país. A divulgação das conversas do ex-presidente com amigos, políticos, assessores e aliados incluiu uma conversa entre Lula e a própria presidente Dilma, o que elevou a crise a seu pico. Nada de criminalmente comprometedor contra Lula ou Dilma foi descoberto nos grampos liberados pelo bilioso juiz Moro. A conversa com Dilma, a respeito de um documento concernente à nomeação de Lula como ministro, durou menos de um minuto e foi quase protocolar. Nas demais, o que se viu foi o que todos sabem: o ex-líder metalúrgico não tem papas na língua. Na falta dos crimes não descobertos, os hipócritas e moralistas de plantão se indignaram com a incontinência verbal do ex-presidente quando ele larga palavrões no meio de conversas absolutamente privadas, ou quando, indignado, falando a um aliado, diz que o Brasil está diante de um Judiciário acovardado, de um Legislativo acovardado, de um Congresso acovardado. O ministro Celso Mello, do Superior Tribunal Federal, reagiu em discurso, sem mencionar Lula, afirmando que “o Judiciário foi insultado” e que aquela “não é uma Casa de covardes.” Também teria causado grita entre feministas uma gravação em que Lula pergunta onde estariam “as mulheres de grelo duro do PT”, querendo saber por que elas não agiam. Assim, foi o linguajar de Lula que de fato provocou a grita entre seus adversários de todos os lados e produziu a grande celeuma da semana. Lula divulgou na última quinta-feira uma carta aberta em que reafirma seu respeito ao Judiciário. Em certa altura, escreve: “Não tive acesso a grandes estudos formais, como sabem os brasileiros. Não sou doutor, letrado, jurisconsulto. Mas sei, como todo ser humano, distinguir o certo do errado; o justo do injusto. Os tristes e vergonhosos episódios das últimas semanas não me farão descrer da instituição do Poder Judiciário. Nem me farão perder a esperança no discernimento, no equilíbrio e no senso de proporção de ministros e ministras da Suprema Corte”. Nas redes sociais não foi menor a indignação e a grita em defesa do ex-metalúrgico já tantas vezes humilhado por não ter passado por uma universidade. No Facebook seus simpatizantes perguntam: “O que querem eles, afinal? Queriam que Lula, na situação em que se acha, falasse como uma freira, como uma mocinha do Colégio Sacré-Coeur?” A guerra de números que encerrou esta semana envolve a quantidades de participantes nas manifestações do dia 13 e nas de ontem, dia 18, pró-governo e pró-PT. A imprensa, em especial as Organizações Globo, minimizaram os números dos participantes das manifestações de ontem, que teriam sido 13 vezes menores que as contrárias ao governo e ocorridas em menor número de cidades. Nas redes sociais, onde circulam informações mais confiáveis, o que se constata é que o país está de fato assustadoramente dividido.

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