Crónicas do Brasil | 17-04-2016 16:42

Santa Rosa e José Olympio

Da esquerda para a direita, José Lins do Rego, Carlos Drummond de Andrade, Cândido Portinari, o editor José Olympio e Manuel Bandeira na sede da J.O.

O lançamento do livro “Capas de Santa Rosa”, de Luís Bueno me fez recordar certo episódio que envolve não apenas o grande artista gráfico Tomás Santa Rosa, mas também outra personalidade nunca suficientemente lembrada e celebrada na sua importância para a indústria do livro no Brasil, o editor José Olympio Pereira.

O lançamento do livro “Capas de Santa Rosa”, de Luís Bueno (Ateliê/SESC, 2015 – veja nesta página a resenha assinada por André Seffrin) me fez recordar certo episódio que envolve não apenas o grande artista gráfico Tomás Santa Rosa, mas também outra personalidade nunca suficientemente lembrada e celebrada na sua importância para a indústria do livro no Brasil, o editor José Olympio Pereira. À frente da editora que levou seu nome e que se tornaria carinhosamente conhecida pelas iniciais J.O., José Olympio fez história, tendo a livraria se tornado literalmente a casa – ponto de encontros e de reunião – dos autores que publicava. É famosa a foto de José Lins do Rego à frente da livraria da editora J.O., ainda na rua do Ouvidor, imagem que é parte de uma rica iconografia a incluir fotos de Graciliano Ramos, de Jorge Amado, de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e tantos outros editados da casa que se tornaram amigos do anfitrião. Por sinal, o livro anterior de Luís Bueno, “Uma história do romance de 30” (Edusp/Unicamp, 2006) mencionado por Seffrin na resenha, provavelmente não teria sido escrito e a literatura brasileira do período – iniciado em 1928 com a publicação de “A bagaceira”, de José Américo de Almeida – não teria adquirido o relevo e a importância que veio a adquirir não fosse a atuação decisiva de José Olympio como impulsionador da literatura de alta qualidade então produzida no nordeste do país. Dois anos após a morte de José Olympio, em 1990, fiz parte, como roteirista, de uma equipe da hoje extinta TV Educativa do Rio de Janeiro que produzia um documentário sobre o editor com direção de Sônia Garcia. Foi quando soube que era natural de Batatais (SP) e que, depois de trabalhar durante anos como caixeiro da Casa Garroux, na seção de livros, adquiriu, em 1930, o rico acervo do bibliófilo Alfredo Pujol, iniciando assim o próprio negócio. No curso da pesquisa para escrever o roteiro estive várias vezes na sede da livraria e editora, então estabelecida na rua Marquês de Olinda, em Botafogo. Lá, compilando documentos e fotografias e garimpando em velhos arquivos, encontrei um tesouro: vários originais das capas desenhadas por Tomás Santa Rosa. Gouaches magníficos, bicos de pena inesquecíveis. Ao ler a resenha de Seffrin me veio à memória imediatamente a visão do acervo que tive em mãos e que lá permaneceu intacto. Logo o controle da J.O. seria adquirido pela Xerox do Brasil e, posteriormente, por outra editora, e me pergunto se – no trânsito de um lugar para outro – esse tesouro terá sido preservado. Espero que sim, para o bem da arte e da memória editorial do Brasil.

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