Crónicas do Brasil | 04-05-2020 17:53

O soneto, sempre

O soneto, sempre
CARTAS DO BRASIL

Ontem como hoje e sempre, por rogo ou destino, somos transverberados por grandes poetas e seus sonetos. Grandes poetas como Carlos Newton Júnior, que abraça o soneto sem perder de vista o rés do chão, isto é, sem artifícios, avesso a todo recurso farfalhante.

Em língua portuguesa, a corrente dos mais fortes sonetistas tem seu início em Sá de Miranda, o primeiro grande elo, seguido por Camões, Diogo Bernardes, Gregório de Matos, Botelho de Oliveira e mais tarde por Bilac, Raimundo Correia, Antero, Cruz e Sousa, Camilo Pessanha, Augusto dos Anjos, Sá-Carneiro, Florbela Espanca, Pessoa. O soneto reinventado em cada um de seus novos elos, e depois por Bandeira, Quintana, Vinicius, Jorge de Lima, Jorge de Sena, Carlos Pena Filho. Poucos mais... acompanhados agora por Carlos Newton Júnior, que aqui não deixa de evocar elos anteriores, da nossa e de outras línguas, nominalmente ou por meio de eventuais e magníficas paráfrases. Heroicos solitários nessa sua embriaguez que não termina, são nossos melhores poetas, outra vez e incontáveis vezes transidos no ilusório desse amor maior – pelo soneto e pela mulher ideal – que será sempre “alucinação, musa e quimera”.

Como descrever ou definir o híspido recorte e a agônica beleza destes 101 poemas extraordinários de Ressurreição (Editora Nova Fronteira, 2019)? Dança ou danação no desafio da musa inalcançável por meio de uma jaula aberta, o soneto, esta música das esferas cingida em proteica forma-fôrma. São poemas de redenção, júbilo e tormento, todos embebidos no amoroso enleio que é o sequestro do poeta pela musa ou que palavra outra busque a mesma definição: encanto ou delírio, o nome que se quiser dar a um sonho que se sonha em direção nenhuma ou em todas as direções.

Ontem como hoje e sempre, por rogo ou destino, somos transverberados por grandes poetas e seus sonetos. Grandes poetas como Carlos Newton Júnior, que abraça o soneto sem perder de vista o rés do chão, isto é, sem artifícios, avesso a todo recurso farfalhante. Um poeta que nada deve e a ninguém, e caminha lado a lado com os clássicos que antes dele foram também vitimados pelos encantos da musa fatal. Esta mesma musa que não vingaria sem a febre dos poetas, imersos no sem nome do amor, esse oco que amplia e distorce o real que julgamos conhecer – e que não existe.

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