Crónicas do Brasil | 04-03-2022 12:30

A Nova Ordem Mundial (enquanto isso no Brasil..) 

Vinicius Todeschini

O leste europeu está tenso, porque a fronteira com a Alemanha é logo ali e os alemães dependem da OTAN para se defender da Rússia. O domínio do mundo por uma só potência é o sonho recalcado -o Complexo de Rei- que habita, ciclicamente, homens reais, homens aparentemente insignificantes a ponto de serem subestimados, como foi Adolf Hitler e como Vladimir Putin era, pelo menos até agora.

Freud nasceu em Freiberg, na Morávia. Esse país fazia parte do Império Austro-Húngaro,  pertencia à Áustria. Logo depois da Primeira Guerra, em 1918, foi fundada a Primeira República da Checoslováquia, juntando checos, eslovacos, morávios, rutenos e algumas minorias, com o apoio do  governo americano da época. De lá para cá muita coisa mudou, Freud, por exemplo, foi parar em Viena,  inventou a psicanálise e ficou conhecido como austríaco. Hitler, em 1938, anexou os Sudetos à Alemanha porque havia muitos alemães naquela região e, logo em seguida, todo o país, mas na verdade a maioria  do povo falava línguas eslavas. A geopolítica mundial não para de mudar e a cada nova época surgem ditadores prontos para alterar essa ordem, através de atos discricionários e sanguinários. Putin é homem da vez, pronto para mudar a geopolítica do leste europeu e aumentar seu território à custa de invasões a  países independentes, como a Ucrânia, terminando com “a paz” nesta região que, a rigor, nunca existiu.  

Boa parte do mundo ainda não percebeu o risco de brincar de bandido e mocinho a essa altura da  civilização. Com armas nucleares e o planeta à beira da exaustão por tanta agressão ao ambiente natural,  os donos dos exércitos mais poderosos da Terra, que poderiam impor a paz aos mais belicosos, não  parecem dispostos a mudar. Putin segue em frente e, mesmo que a Ucrânia ofereça resistência, através  de guerrilhas urbanas, parece inevitável a sua queda. Evidentemente que ele não vai parar por aí, até que  os países da OTAN o encarem no mesmo nível de poder de fogo. O leste europeu está tenso, porque a  fronteira com a Alemanha é logo ali e os alemães dependem da OTAN para se defender da Rússia. O  domínio do mundo por uma só potência é o sonho recalcado -o Complexo de Rei- que habita, ciclicamente, homens reais, homens aparentemente insignificantes a ponto de serem subestimados, como foi Adolf Hitler e como Vladimir Putin era, pelo menos até agora. 

Em carta aberta a Einstein, Freud coloca que, quando os seres humanos são incitados à guerra, há uma gama enorme de motivos e eles poderiam ser dispostos à maneira da rosa-dos-ventos. Nobres e  vis, alguns declarados e outros não, mas sem enumerá-los, certamente, prossegue ele, há o desejo de  agressão e destruição. O entrelaçamento das motivações idealistas com os desejos destrutivos dificulta ou, até mesmo, impede uma real compreensão do que levou determinado indivíduo, grupo ou nação a cometer atrocidades contra outro. Tantos os motivos idealistas, quanto os desejos destrutivos podem ser  verdadeiros. Quem sabe mais tarde se possa entender o que realmente aconteceu, mas nunca totalmente. A carta é longa e Freud conclui que: “ (…) não há maneira de eliminar totalmente os instintos agressivos  dos homens; pode-se tentar desviá-los num grau tal que não necessitem encontrar expressão na guerra”. 

Enquanto isso no Brasil, o atual presidente é aconselhado a não romper com Putin, porque sua  base eleitoral está ligada ao agronegócio, setor econômico que tem sido beneficiado com a liberação de  inúmeros agrotóxicos, só no final do ano passado aprovaram o registro de 550 novos produtos. Existe  também a mudança, via decreto, de passar para o Ministério da Agricultura o poder de decidir se um  agrotóxico se enquadra na categoria de produção orgânica. Os fertilizantes são fundamentais para esse  setor, mas com o aquecimento global novas terras, que antes eram congeladas, surgiram na Rússia para  o cultivo, o que poderá se tornar outra dificuldade para o segmento, cerca de 30% dos fertilizantes vêm de  lá. É importante ressaltar que o agronegócio não está interessado em resolver o problema da fome no  Brasil, haja vista, os aumentos aviltantes nos preços dos alimentos desde que Bolsonaro chegou ao poder,  o seu real objetivo é a exportação. Coube ao vice-presidente, Hamilton Mourão, dar a nota de lucidez sobre  essa questão: ”O mundo ocidental está igual ficou em 38 com Hitler, na base do apaziguamento. O Putin,  ele não respeita o apaziguamento. Essa é a verdade. Se não houver uma ação bem significativa…meras  sanções econômicas, que é uma forma intermediária de intervenção, não funcionam”. Claro que o  presidente desautorizou Mourão em sua fala. Disse que não é competência dele. Na verdade, Bolsonaro é  um presidente incapaz de enxergar o que acontece à frente dos seus olhos, apenas defende os interesses  da sua base, que é reacionária e contra qualquer medida que inclua o povo e beneficie a paz e o planeta. 

Vinicius Todeschini 03-03-2022

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