Crónicas do Brasil | 27-11-2022 08:01

O fundamentalismo bolsonarista

Bolsonaro, depois da ressaca, afirmou em um evento que ainda não acabou, afinal existem generais golpistas como ele, mas Biden ganhou as eleições americanas e isso mudou tudo no frágil equilíbrio da democracia latino-americana.

O fundamentalismo aponta como real algo que não é impossível, mas altamente improvável. A possibilidade de recuar até a criação dos mitos para explicar a realidade tangível, criou tantas perspectivas mágicas que liberou o pensamento mágico, limitado pelos fatos científicos. Os neofascistas brasileiros adoram contestar qualquer coisa que seja científica, mesmo comprovada pelas experiências e pelo uso, como é o caso das vacinas e dos remédios. Bolsonaro, por exemplo, declarou sigilo sobre o seu Cartão de Vacina e afirmou muitas vezes que não tomou nenhuma das doses recomendadas, mas como é um mentiroso contumaz, com esse sigilo incompreensível parece confirmar o contrário do que afirma. Por que não mostrar o cartão vazio? Não, ele faz o inverso, o esconde. Este é o mito esboroado.

Os aliados de Bolsonaro querem transformá-lo em um líder da oposição ao novo governo, que começará em janeiro. O PL está nutrido com muito dinheiro do Fundo Partidário para investir nessa ideia, mas com um garoto-propaganda como Bolsonaro é difícil apostar em um projeto coerente com começo, meio e fim, geralmente ele começa pelo fim. Será muito difícil para os seus aliados controlarem os seus arroubos, misto de fundamentalismo, negacionismo e grosserias de toda à ordem. Por outro lado, o PL, através de Valdemar da Costa Neto, entrou no TSE com um pedido de verificação extraordinária do resultado do segundo turno das eleições, mas sem nenhuma prova, como de costume. O ministro Alexandre de Moraes, não só não aceitou a denúncia, que chamou de litigância de má fé, como estabeleceu uma multa de R$ 22, 9 milhões ao PL e aos outros partidos da coligação, além do bloqueio do repasse do Fundo Partidário às siglas da coligação, caso não sejam apresentadas provas, mas logo depois decidiu que só o PL será penalizado, atendendo assim os presidentes dos outros partidos que alegaram não terem sido consultados por Valdemar da Costa Neto sobre esta ação. A decisão do ministro cabe recurso, mas se for confirmada abala profundamente os cofres do PL, que tem agora 99 deputados federais e 14 senadores, além de dois governadores e muitos deputados estaduais pelo Brasil afora. Por isso é curioso o fato de não questionarem o primeiro turno, apenas o segundo, afinal, as urnas eram as mesmas?

Bolsonaro -depois da ressaca- afirmou em um evento que ainda não acabou, afinal existem generais golpistas como ele, mas Biden ganhou as eleições americanas e isso mudou tudo no frágil equilíbrio da democracia latino-americana. Não há dúvida que boa parte das Forças Armadas brasileiras ainda acalenta a ideia de um golpe militar ao estilo de 64, que costumam chamar de movimento, mas sem o apoio dos americanos não há nenhuma chance. O general Mourão, vice-presidente, é um dos defensores da tese de que não houve ditadura, mesmo com tudo que aconteceu naqueles 21 anos de regime de exceção. Como se percebe, em boa parte da caserna brasileira ainda não há espaço para a democracia, mas os militares brasileiros estão de mãos atadas para um golpe e, finalmente, cobraram de Bolsonaro o fim das manifestações que não param de causar transtornos para a maioria da população. A história de um menino que iria fazer uma operação oftalmológica para não perder a visão de um dos olhos, barrado em um dos bloqueios feitos nas rodovias, comoveu a muitos. O pai do menino é bolsonarista e mesmo revoltado não pode desfazer o malfeito, mas ouviu esta frase de um dos seus pares na barreira, que disse que poderiam passar a pé e que não se importava se o menino ficasse cego.

Em uma live de 12 minutos publicada no seu Instagram, Maria Cristina Mendes Caldeira, ex-mulher de Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, partido de Bolsonaro, ameaçou jogar tudo no ventilador, caso o seu ex-marido prossiga em sua saga de questionar o resultado das eleições em apoio ao atual presidente e contra a democracia. Ela afirmou ter muitos documentos incriminatórios, onde constam, inclusive, sonegações do Clã Bolsonaro. Declarou, sem apresentar provas, que Michele Bolsonaro teria sido um caso do seu ex-marido e também do deputado federal, Laerte Bessa (PL). A fé cega dos bolsonaristas no mito esboroado, no entanto, não se abalará, porque acreditam que Bolsonaro é “imbrochável” e, por suposto, “incornável”. Valdemar alegou que isso são mágoas, mas ele foi preso em 2012 justamente pelo depoimento prestado por ela na CPI do Mensalão e foi condenado a sete anos e dez meses em regime semiaberto. A pena foi extinta, em 2016, pelo ministro Luís Roberto Barroso do STF, acatando o parecer de Rodrigo Janot, procurador-geral da República à época. A propósito, Ricardo Janot, é aquele que declarou em entrevista que, no auge da Lava-Jato, foi ao STF (Supremo Tribunal Federal) armado para matar o ministro Gilmar Mendes. Chegou a retirar a pistola do coldre e a engatilhar sob a beca. O seu plano era atirar na cabeça do ministro e depois suicidar-se. Ficaram a dois metros um do outro.

Vinicius Todeschini 25-11-2022

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