Crónicas do Brasil | 27-01-2023 10:00

Os super-ricos, o genocídio e mais uma entrevista de Lula

Vinicius Todeschini

A luta contra o fascismo arrefeceu no mundo inteiro porque as forças democráticas achavam que ele estava completamente vencido, mas os tempos mudam e com ele surgem novas tecnologias. Imaginem Joseph Goebbels com a internet à sua disposição hoje em dia! Ele faria a limpa no campo democrático e, certamente, existem muitos candidatos a reproduzirem o seu comportamento, enquanto isso, a figura napoleônica, de Putin assombra a Europa e a OTAN mantém a estratégia de esgotar os russos até que o destituam. Nunca leve flores à cova do inimigo, porque ele pode não estar ali.

A organização não governamental, Oxfam, divulgou esta semana um relatório anual sobre a desigualdade. Esses relatórios lançados anualmente são articulados com o Fórum Econômico de Davos, na Suíça, e, nesta última edição, ele confirma uma tendência capitalista em tempos de neoliberalismo globalizado, o crescimento em progressão geométrica da riqueza dos super-ricos. Segundo o relatório, nos últimos dois anos, os 1% mais ricos acumularam quase o dobro da riqueza obtida pelo restante do planeta. Outro dado alarmante, pela primeira vez, nos últimos 25 anos, houve um aumento da extrema riqueza e da extrema pobreza. As duas formas criadas por Marx de representação do capital, a segunda, nos tempos atuais, é a que mais malefícios produz a sociedade, D-D (dinheiro que gera mais dinheiro). A outra fórmula D-M-D (dinheiro que produz mercadoria e depois a vende para obter mais dinheiro) continua existindo, mas os lucros do capitalismo financeiro a superam amplamente. O capitalismo financeiro é o capitalismo líquido e assim como o amor líquido, criado por Zygmunt Bauman, ele não tem nenhum apego e nada e nem a ninguém. A velha lógica de Confúcio continua verdadeira: “Nada é o bastante para quem acha pouco o suficiente”. No caso do Brasil, tanto a super miséria, como a super riqueza são super visíveis.

A entrevista do presidente Lula concedida à GloboNews, no dia 18 deste mês, incomodou os super-ricos e os seus porta-vozes não deixaram barato. Eles usam o significante “mercado” quando se referem ao mal-estar que esta casta sente quando os seus ditames são contestados. Lula falou abertamente à jornalista Natuza Nery sobre as falhas absurdas nos Serviços de Inteligência das Forças de Segurança e não poupou ninguém. Disse em frases abertas que, se tivesse sido alertado sobre o movimento que culminou com a tentativa de golpe, jamais teria saído de Brasília. Ele estava no interior de São Paulo se solidarizando com as famílias vítimas das enchentes e assim que viu as cenas da invasão ligou imediatamente ao general Gonçalves Dias, chefe do GSI -Gabinete de Segurança Institucional- perguntando onde estavam os soldados responsáveis pela segurança e o general respondeu a ele que tinha chamado os soldados, mas eles não apareceram. Outro fato alarmante: a porta do Palácio do Planalto estava aberta, ou seja; alguém abriu a porta para os golpistas. O presidente credita o fracasso do golpe à reação imediata dos Três Poderes da República e aos governadores e culpou todos os Serviços de Inteligência; GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Exército, Marinha e Aeronáutica. Todos eles falharam em sua função precípua e deixaram o país à mercê dos terroristas. Falharam ou prevaricaram? Precisamos da resposta.

Lula acerta em ser contra a criação de uma CPI do golpe, porque seria dar voz aos representantes do fascismo e as suas narrativas absurdas. Eles atacam o sistema eleitoral brasileiro que lhes garante o mandato, legitimamente. O presidente também falou a respeito de criar uma Força Federal para tratar da defesa da Amazônia, que são rotas dos narcotraficantes e estão devastadas pelo garimpo ilegal. O objetivo é buscar uma proteção efetiva para chegar à meta do desmatamento zero em 2030. Lula também está preocupado com o crescimento mundial da extrema-direita no mundo e, principalmente, com a ameaça do ressurgimento de Donald Trump, nos EUA. Infelizmente, essa figura nefasta ainda não foi enterrada pela história e pode ressurgir, senão com a mesma força, mas ainda como uma ameaça para a democracia americana e mundial. Lula se encontrará em fevereiro com Joe Biden, nos EUA.

As forças progressistas e democráticas não sabem como combater as narrativas da extrema-direita, criadas incessantemente e divulgadas pela internet em quantidades industriais. Os pruridos éticos das forças antifascistas não oferecem nenhuma resistência mais eficaz aos fascistas. No caso da mais recente eleição brasileira, se não fosse o deputado federal, André Janones, que desistiu da sua candidatura e presidência para apoiar Lula, certamente a derrota nas redes socais seria vexatória. Ele conseguiu emparelhar o jogo a tal ponto que irritou Carluxo (Carlos Bolsonaro), o responsável pelas redes sociais do pai e uma das fontes mais perversas da criação das fake news bolsonaristas no país. Líder do gabinete do ódio, Carlos Bolsonaro, criou a imagem do pai como um homem despojado e não o responsável pelo genocídio dos yanomamis, onde as imagens remetem imediatamente aos campos de concentração nazistas, como Auschwitz e Treblinka. Parte do país ficou chocada e a outra parte não deu a mínima.

A luta contra o fascismo arrefeceu no mundo inteiro porque as forças democráticas achavam que ele estava completamente vencido, mas os tempos mudam e com ele surgem novas tecnologias. Imaginem Joseph Goebbels com a internet à sua disposição hoje em dia! Ele faria a limpa no campo democrático e, certamente, existem muitos candidatos a reproduzirem o seu comportamento, enquanto isso, a figura napoleônica, de Putin assombra a Europa e a OTAN mantém a estratégia de esgotar os russos até que o destituam. Nunca leve flores à cova do inimigo, porque ele pode não estar ali.

Vinicius Todeschini 26-01-2023

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1660
    17-04-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1660
    17-04-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo