Sem solução
O Brasil passa por uma crise de identidade e a desobediência civil passou a fazer parte do cotidiano do país. O mês de janeiro trouxe uma cifra que abalou a todos e mostrou o quanto governar este país é complicado. O desmatamento na Amazônia atingiu à cifra recorde de 322 Km, segundo o Instituto de Pesquisa Espaciais (INPE). A política bolsonarista, em quatro anos, transformou a Amazônia em uma terra sem lei e à mercê de aventureiros, mas o alerta vermelho está ligado.
O novo governo mal entrou e já começa a enfrentar crises de comando. O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, usou R$ 5 milhões do “Orçamento Secreto” (herança maldita do desgoverno Bolsonaro) para asfaltar as estradas que conduzem às propriedades da sua família e a sua fazenda. O ministro que pertence a um dos partidos que apoia o governo, o União Brasil, também usou um avião da FAB para deslocamentos, ditos urgentes, mas que incluíam rotas para atender os seus interesses particulares e, também, recebeu diárias. O ministro negou as irregularidades e disse que as diárias foram devolvidas. É importante ressaltar que os aviões da FAB têm um protocolo para o seu uso por autoridades.
O presidente Lula ficou visivelmente irritado com o ministro de Portos e Aeroportos, Marcio França, que, sem consultar a Casa Civil, anunciou um programa de passagens aéreas por R$ 200,00 para aposentados, servidores públicos e estudantes. A irritação do presidente foi devidamente destilada em ironia na reunião ministerial: “Toda e qualquer posição, qualquer ‘genialidade’ que alguém possa ter, é importante que antes de anunciar faça uma reunião com a Casa Civil”. O descompasso no comando do governo não é um bom sinal e o velho presidente sabe que os tempos são outros e não há tempo a perder.
O Brasil passa por uma crise de identidade e a desobediência civil passou a fazer parte do cotidiano do país. O mês de janeiro trouxe uma cifra que abalou a todos e mostrou o quanto governar este país é complicado. O desmatamento na Amazônia atingiu à cifra recorde de 322 Km, segundo o Instituto de Pesquisa Espaciais (INPE). Isso corresponde a uma área equivalente à cidade de Fortaleza, que tem quase 3 milhões de habitantes. A política bolsonarista, em quatro anos, transformou a Amazônia em uma terra sem lei e à mercê de aventureiros, mas o alerta vermelho está ligado, porque é um recorde negativo e, justamente, quando o Brasil busca resgatar à sua imagem junto à comunidade internacional.
Outro episódio lamentável dentro dessa lógica perversa foi uma manifestação do deputado federal do PL, Nikolas Ferreira, no Dia da Mulher. Eleito por Minas Gerais, ele foi o mais votado do país, com 1,47 milhão de votos. O deputado utilizou uma peruca loura e declarou em tom de deboche que se chamava ‘Nicole’ e que por isso tinha lugar de fala no dia 8 de março: “As mulheres estão perdendo seu espaço para homens que se sentem mulheres”, disse ele na tribuna do Câmara Federal. A fala transfóbica se estendeu por um bom tempo e foi, naturalmente, aplaudida pelos bolsonaristas que lá se encontravam. O número de votos do deputado é tão impressionante, quanto assustador, porque, afinal, existem pessoas que se sentem representadas assim. Ele já está sendo processado pela deputada federal trans, Duda Salabert (PDT-MG), por tê-la chamada de “ele”. É muito complicado debater com pessoas como o deputado Nikolas, porque você tem que rebaixar o nível até chegar ao dele e se conseguir, provavelmente, ele ganhará na experiência, mas ele sabe para quem fala...
Bolsonaro não passou aqui por acaso e o seu desejo de voltar não é uma mera retórica, é uma ameaça. O seu legado está aí, fazendo “escola” e como ele mesmo diz, ‘a sua missão não terminou’. O tempo perdido pela Esquerda em academicismos e preciosismos está se voltando contra ela mesma, porque “Guerra Cultural” se ganha com posições e não com imposições e discursos. O caso das joias de R$ 16,5 milhões em que Bolsonaro usou de coerção sobre os funcionários da Receita Federal para tentar liberar é mais um demonstrativo do modus operandi do seu governo. Com um discurso contra anticorrupção e uma imagem vendida de homem despojado, Bolsonaro enganou a muitos, mas agora essa imagem persiste somente entre os fascistas. As denúncias do ex-candidato à presidência, Ciro Gomes e, repetidas por ele no debate do primeiro turno das eleições, não deixaram dúvidas (:) Ele citou a venda da carteira de crédito de R$ 3,3 bilhões do Banco do Brasil por pouco mais de R$ 300 milhões; a refinaria Landulpho Alves vendida pela metade do preço a um fundo obscuro dos Emirados Árabes e os gasodutos e oleodutos da Petrobrás por um contrato de aluguel. “Aí tem”! Disse o candidato do PDT.
A ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) confirmou o uso de um software para o monitoramento de pessoas através de aparelhos celulares. O ministro da Justiça, Flávio Dino, autorizou a abertura de inquérito para apurar o uso desse programa para a espionagem dos desafetos do governo anterior. Não podemos esquecer que Sergio Moro, um juiz comprovadamente parcial e um político ambicioso, se demitiu do Ministério da Justiça acusando a Bolsonaro de querer impor nomeações no comando da Polícia Federal. A comprovação do uso da ABIN confirma esta estratégia e pela gravidade dos desdobramentos dessa investigação se poderá comprovar uma série de suspeitas sobre o uso dos órgãos de Estado por Jair Bolsonaro, família e agregados para atender os seus interesses. Eles tentaram transformar o Brasil em um puxadinho canhestro e fascista e não conseguiram, mas jamais desistiram de continuar tentando.
Vinicius Todeschini 17-03-2023