A morte de Pedrinho Matador
Com diagnóstico de sociopata e personalidade paranoide, Pedrinho nunca parou de matar e, mesmo preso, continuou matando compulsivamente. Passou cerca de 42 anos em prisões e foi descrito em inúmeras biografias, além de inspirar escritores e roteiristas como Jeff Lindsay, criador do psicopata-justiceiro “Dexter”, sucesso mundial que deu ao ator Michael C. Hall um Globo de Ouro como melhor ator.
Pedrinho Matador foi assassinado enquanto descansava em uma cadeira com uma criança no colo em frente à casa de uma tia, o miúdo nada sofreu. Dois pistoleiros mascarados passaram em um carro, dirigido por um terceiro, por uma ruela do bairro Ponte Grande em Mogi das Cruzes, estado de São Paulo, atirando, um deles estava com a máscara do Coringa. Depois que atingiram o alvo eles voltaram, desceram do carro e o degolaram. Condenado por 71 homicídios (ele afirmava que foram mais de cem), Pedrinho Matador, ao sair pela última vez da prisão, em 2018, se converteu e criou um canal no You Tube chamado “Ex-Pedrinho Matador com Jesus”, com cerca de 29 mil inscritos e mais de 2,5 milhões de visualizações. Em uma sociedade onde, somente, 10% dos crimes são resolvidos, ele se destacou por assumir que gostava de matar e este desejo, segundo ele, se manifestou pela primeira vez quando tinha 13 anos. Na ocasião, ao brigar com um primo mais velho ele o empurrou contra uma moenda. A sensação foi boa e ele seguiu em frente até o fatídico 5 de março, aos 68 anos.
Ele jurou matar o pai no velório da sua mãe e cumpriu. O pai assassinou a sua mãe e teria ferido o seu crânio enquanto ele ainda estava na barriga dela, ele o matou com mais de 20 facadas e, depois de matá-lo, arrancou uma ponta do seu coração e mastigou. Por ironia do destino, o seu primeiro homicídio, quando assassinou o vice-prefeito de Alfenas, Minas Gerais, foi por ele ter demitido seu pai do cargo de guarda-escolar. Pedrinho Matador não era um justiceiro, como dizia, e sim um vingador com motivações delirantes e difusas. A sua extensa lista de assassinatos não guarda coerência alguma, ele matava por impulso, mas acreditava que estava matando o pior da sociedade. Por esta lógica ele deveria ter matado a si mesmo, mas não o fez e seguiu matando até ser preso em 1973, no entanto, no trajeto que o levava até o presídio matou o outro preso que estava com ele na viatura.
Com diagnóstico de sociopata e personalidade paranoide, Pedrinho nunca parou de matar e, mesmo preso, continuou matando compulsivamente. Em 2002 foi solto, apesar da sua condenação ultrapassar 126 anos, porque a lei brasileira não permitia que ninguém ficasse preso por mais de 30 anos, em 2019 isso foi alterado para 40 anos e ele teve a sua pena aumentada para 400 anos, por crimes cometidos nas prisões por onde passou. Foi solto em 2007 e preso novamente, em 2011, por motim e cárcere privado. E assim passou a maior parte da sua vida, até que, em 2018, foi solto pela última vez e se converteu ao cristianismo, se declarando arrependido. Passou cerca de 42 anos em prisões e foi descrito em inúmeras biografias, além de inspirar escritores e roteiristas como Jeff Lindsay, criador do psicopata-justiceiro “Dexter”, sucesso mundial que deu ao ator Michael C. Hall um Globo de Ouro como melhor ator.
Pedrinho morreu como viveu e a sua vida não deveria influenciar ninguém, mas ele acabou se transformando em um ícone que inspira muitos jovens desassistidos na vida a trilharem o mesmo caminho O curioso é que nesses últimos quatro anos ele orientava os jovens a não seguirem o seu exemplo, mas em vão, porque no Brasil viver ou morrer é uma questão de origem e formação e este moedor de carne fresca parece imparável, além de cruel. A sua psicanalista, Iza Toledo, não pensava assim e aos prantos revelou todo o seu inconformismo com a execução do seu cliente. Ela disse que ele não merecia morrer daquela forma: “o que fizeram com ele foi a maior sacanagem do mundo”.
Pedrinho Matador representa uma face do Brasil, a face que já não é mais tão oculta assim, mas que é apresentada ao público, nos programas de grande audiência, feito um thriller e não o que é: uma realidade perversa e recorrente. A desigualdade social reproduz a cada dia mais filhos despatriados, enquanto isso (:) o escopo da Direita é se fechar cada vez mais em imensos condomínios e o da Extrema Direita é resolver tudo a bala, confirmando a nossa tendência de reproduzir, incansavelmente, a velha lógica colonialista. “A Esquerda Preponderante” nunca abraçou um projeto educacional que pudesse permanecer e, em algumas décadas, começasse a dar sinais de mudanças sociais efetivas. Leonel Brizola e Darcy Ribeiro deixaram um legado que jamais cumprido da forma que o projetaram. Continua sendo o único programa que poderia reverter -a médio prazo- o aumento implacável da marginalidade; filha da miséria e prima-irmã da ignorância. A vida bandida de Pedrinho Matador será, por muito tempo, inspiração para outros da mesma origem social, porque assim poderão viver alguns anos intensamente, tomando para si as coisas materiais e os elementos simbólicos que deem satisfação as suas pulsões e significado ao seu nome. O estrago que causarão, enquanto não forem abatidos, será cruel e injusto para muitos que cruzarem o seu caminho e a sociedade brasileira apontará o caminho a seguir para os inocentes culpados.
Vinicius Todeschini 24-03-2023