Personagens de Republiqueta
Lula continua dando munição para a Direita e, principalmente, para a Extrema-Direita, na sua tentativa de ganhar espaço internacional. Suas declarações sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia desagradaram muito os norte-americanos e os europeus. Tentando se impor como um líder da paz, mas com afirmações pouco elaboradas e sem nenhuma consistência diplomática, acabou alcançado o efeito contrário que pretendia.
O Brasil está em transição desde o início do século XIX, ou seja; ainda não alcançou o patamar de uma república verdadeiramente dita e por aqui personagens dignos de uma republiqueta qualquer, estas que, costumeiramente, os europeus e norte-americanos costumam chamar de república das bananas, não são raros. Não é lisonjeiro, mas é real e agora fomos invadidos por personagens assim, que brotaram em uma espécie de geração espontânea. Sinal dos tempos...
Bolsonaro com a sua trupe de histriônicos sem concorrência, inaugurou, despudoradamente, uma nova fase para o país, onde afirmações disparatadas e disparadas em uma profusão absurda tomaram conta do dia a dia dessa república em formação. Um novo paradigma para o risível foi fundado e agora ele baliza qualquer absurdidade como parte da rotina brasileira. Será um longo caminho para se construir uma nação, porque não há limites para pessoas assim e quando algumas são superadas pelos próprios fatos, surgem outras, que como moscas se reproduzem na proporção do lixo produzido.
Sergio Moro e os filhos de Januário (grupo de procuradores federais que se autodenominavam assim na malfadada Operação Lava-Jato, do qual Deltan Dallagnol era uma das estrelas) fazem parte deste elenco incomparável. O ex-juiz e, atual senador eleito pelo estado do Paraná, apelidado de pato e marreco por sua voz que lembra a destas aves, vive tropeçando na linguagem e cometendo gafe atrás de gafe, mas isso seria ‘café pequeno’ diante da permanente ameaça que representam os seus projetos políticos. Aliado dos norte-americanos e com a missão de combater qualquer movimento de esquerda que ouse questionar a hegemonia ianque, Moro segue firme nesta senda e, por último, acusou o juiz do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, de vender habeas corpus.
A ‘Operação Lesa Pátria’ não para de mostrar mais personagens de republiqueta na investigação da tentativa de golpe do dia 8 de janeiro. Esta semana surgiram imagens, divulgadas pela CNN, do general Gonçalves Dias, chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e homem de confiança de Lula, dentro do Palácio do Planalto no dia 8. Ao invés de resistir aos invasores as imagens sugerem que o general e um capitão (de nome não revelado) estão abrindo portas para os invasores. Isso é, no mínimo, intrigante, porque o general fazia parte do governo. Ele se demitiu após este episódio e ontem prestou depoimento à Polícia Federal. São cenas dramáticas de um país que se revelou para os desavisados o que, na verdade, sempre foi: um país sem “envergadura moral”, como diriam os juristas de outros tempos.
Lula continua dando munição para a Direita e, principalmente, para a Extrema-Direita, na sua tentativa de ganhar espaço internacional. Suas declarações sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia desagradaram muito os norte-americanos e os europeus. Tentando se impor como um líder da paz, mas com afirmações pouco elaboradas e sem nenhuma consistência diplomática, acabou alcançado o efeito contrário que pretendia. O presidente nunca perdeu esta característica de querer agradar a todos ao mesmo tempo, nem mesmo os 580 dias na prisão alteraram esse comportamento. No seu período presidencial anterior ele conseguiu, com rara maestria, manter os antagonismos sociais dentro de certo controle, mas os tempos são outros. Por fim, na reunião com ministros e governadores, no dia 18, o presidente se aventurou a falar sobre saúde mental, em função dos últimos ataques às escolas, mas também não foi feliz.
O deputado federal Dionilso Marcon, do PT, chamou de fake a facada que Bolsonaro sofreu em Juiz de Fora. Isso aconteceu durante uma reunião da Comissão de Trabalho na qual participava o filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro, que não perdeu a oportunidade para atuar no melhor estilo bufonesco. A cena é patética: enquanto xingava o colega com palavrões, bem ao seu estilo, ouvia do rival que a facada era fake, pois não havia sangue. Muitos pensam que a facada que Bolsonaro sofreu em Juiz de Fora não aconteceu, verdadeiramente, mas foi uma montagem para tentar ganhar às eleições de 2018, ainda no primeiro turno. A teoria é que ele tem sérios problemas digestivos, alguns dizem que ele é um paciente oncológico e necessita de cirurgias para diminuir a gravidade da situação. O próprio Lula afirmou duvidar da facada em uma entrevista, quando ainda estava preso em Curitiba.
Os líderes da Extrema-Direita sempre procuraram cooptar os potencialmente fanáticos e para isso criaram mitos e formas aparentemente não racionais, mas, paradoxalmente, meticulosamente calculadas. Muito embora pareçam desdenhar da ciência, na verdade a usam da forma mais técnica possível. Os seus fundadores eram figuras que, intencionalmente, se colocavam como bufões em cenas devidamente ensaiadas e encenadas para as multidões. O uso de técnicas teatrais aliadas à psicologia de massas continua dando resultados até hoje e, muito embora, o fascismo tenha passado por um longo período de ostracismo com a internet voltou com tudo e a ‘Esquerda Preponderante’ brasileira continua fornecendo farto material para eles roteirizarem e atuarem em suas redes sociais e nas mídias tradicionais.
Vinicius Todeschini 21-04-2023