Crónicas do Brasil | 26-05-2023 10:00

Quem sabe não diz...

Vinicius Todeschini

Entre 2019 e 2022 foram 2.182 liberações do Ministério da Agricultura. Desses produtos, 45% são proibidos pela União Europeia. Só um exemplo para dar a dimensão da tragédia brasileira: a ametrina, usada em cultivos de abacaxi, café, cana de açúcar, banana, algodão e milho, que está em 27 dos produtos registrados, está associada pelos cientistas com o surgimento de câncer de próstata e dos ovários e banida da Europa há 20 anos. O povo precisa entender que são os seus inimigos.

Quem sabe não diz, afirma o ditado popular, mas se não diz como saberemos, se o que diria, confirmaria a sua suposta sabedoria. Os savant, seriam aquelas pessoas com necessidades especiais que possuem imensas dificuldades para realizar uma tarefa comum, como amarrar os cadarços, por exemplo, mas alguns são capazes de resolver problemas complexos de física quântica ou física nuclear, enfim, de serem virtuosos e muitas vezes geniais em algo. Mas quem acreditaria em um gênio que se mostrasse idiota? Nossas limitações não deveriam invalidar nossos potenciais, mas, a partir da Era Digital, a velocidade das coisas desestruturou conceitos de evolução, progresso e consciência que, possivelmente, tínhamos ou que, pelo menos, nos estruturava. Mas parece que jogaram fora a água da banheira junto com o bebê e ficamos à deriva em um mar de algoritmos, ao sabor da heurística e atacados por zilhões de estímulos. Já não existem fronteiras entre o real e o virtual capazes de organizar simbolicamente estas novas relações e as diferenças entre conhecimento, informação e sabedoria.

O Brasil vive esta época dentro da sua singularidade clássica (:) que é manter as diferenças nos seus devidos lugares e, jamais, aceitar mudanças que possam desestruturar o que funciona tão mal há tanto tempo. Aqui não se acredita nas instituições -o suficiente- para abandonar o culto aos carismáticos líderes que se sucedem no poder com ineficiência já comprovada pelos seus antecessores. Eles chegam com os seus acólitos para mandar no país e durante quatro anos, pelo menos, estamos submetidos à toda sorte de caprichos desses grupos políticos. Não há como um país progredir e se estabilizar, política e administrativamente assim, porque o poder concentrado nas mãos de poucos desestabiliza, divide e corrompe o país. Muitos brasileiros votam na esquerda ou na extrema-direita como se fosse a mesma coisa e bairros populares elegem pessoas que jamais passariam nestes lugares fora da época de eleições, por exemplo. A Reforma Política, com a inclusão do voto distrital, que seria uma maneira de se combater esse mal enraizado em nossa formação é procrastinada indefinidamente, mas a cada véspera de novas eleições majoritárias elas voltam ao debate, mas só para serem, novamente, arquivadas após o pleito.

Lula no governo significa um avanço, mesmo que uns não queiram, e os que não querem são os liberais recalcitrantes que desejam privatizar tudo, até um simples banco de uma praça pública. A ideia de tornar cada atividade humana um ato capitalista gerador de renda lhes obceca de tal forma, que são incapazes de compartilhar o que deveria ser de todos. Um mundo que precisa urbanizar tudo e para isso destruir a natureza e continuar construindo e produzindo coisas que, quando obsoletas, viram montanhas de lixo não são compatíveis com o planeta. Uma sociedade baseada no consumo permanente, onde reciclar surge como única alternativa não é viável, não é sustentável, porque, simplesmente, não se pode reciclar tudo e na velocidade da produção que almejam os ferozes capitalistas em busca de oferendas para o seu deus. A ganância é uma deusa voraz e insaciável e consumirá a todos se não for detida. Por isso, Lula, não agrada “o mercado”, por isso Bolsonaro, Guedes e companhia eram os parceiros ideais.

Na quarta-feira à noite, dia 23, uma legião de inescrupulosos congressistas aprovaram regime de urgência para a PL Nº 490/07, que visa surrupiar o direito dos povos originários as suas terras. No texto aprovado a demarcação de novas terras passará para o Congresso Nacional e explorações hídricas, expansão da malha rodoviária e a exploração de alternativas energéticas, garimpeiras e mineradoras poderão ser implementadas sem consultas aos povos indígenas, caso seja aprovado pelo plenário. O projeto está cheio de inconstitucionalidades e é obra de um Congresso Nacional mais conservador e neoliberal possível, sob a regência de Arthur Lira, um mix de congressista e “coroné das caatingas alagoanas”. O projeto, além de ferir a Constituição em vigor no país, fere normativas internacionais que o país é signatário, como a Convenção 169 sobre Povos Indígenas e Tribais em Países Independentes da Organização Internação do Trabalho (OIT), ratificada pelo Congresso Nacional. É a desconstrução geral dos direitos do povo brasileiro que está em curso e que não parará só com a derrota de Bolsonaro.

A busca incessante de esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente, dirigido por Marina Silva, é um dos objetivos do agronegócio. Os representantes deste segmento da economia nacional têm se notabilizado por ações contra o meio ambiente e durante o governo tóxico de Bolsonaro receberam todas as benesses possíveis, inclusive com recorde de liberação de agrotóxicos. Entre 2019 e 2022 foram 2.182 liberações, segundo o CGAA (Coordenação Geral de Agrotóxicos e Afins), do Ministério da Agricultura. Desses produtos, 45% são proibidos pela União Europeia. Só um exemplo para dar a dimensão da tragédia brasileira: a ametrina, usada em cultivos de abacaxi, café, cana de açúcar, banana, algodão e milho, que está em 27 dos produtos registrados, está associada pelos cientistas com o surgimento de câncer de próstata e dos ovários e banida da Europa há 20 anos. O povo precisa entender que são os seus inimigos.

Vinicius Todeschini 25-05-2023

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1694
    11-12-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1694
    11-12-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo