Por que eleger o inimigo?
Cenas como beber leite condensado na lata, comer de forma grosseira, usar canetas populares e espalhar que Lula usa canetas de ouro e platina, enfim, essas manobras populistas que foram apropriadas de forma massiva e sem limites para o risível, por esse segmento ideológico, se tornou uma marca dos grupos que começam na Direita e terminam no Fascismo.
No Brasil, em 2018, um fenômeno que vinha sendo gestado ao longo dos anos ficou cristalizado, a eleição de Bolsonaro para à presidência do país. O processo não tem um começo, afinal ele sempre existiu, nunca houve uma destruição completa do fascismo e das ideologias de superioridade racial. Santa Catarina, no sul do Brasil, é um dos estados onde esses grupos estão mais estratificados e o episódio em Roma, na Itália, quando o Ministro Alexandre de Moraes e a sua família foram agredidos, inclusive fisicamente, os envolvidos eram desse estado e estavam identificados com a extrema-direita.
O nazismo foi fundando nos escombros da Primeira Guerra Mundial e nasceu do ódio de alguns alemães inconformados com a derrota, mas, principalmente, com as sanções que colocaram a Alemanha em uma profunda recessão e contaminaram o espírito alemão com a velocidade de um rastilho mortal. O nazismo buscou na eugenia uma pseudo justificativa científica para bancar a superioridade racial dos alemães, por fim acabaram novamente derrotados, mas os milhões de mortos e o genocídio contra os judeus, promovidos pelos nazistas, nunca foi completamente superado e mostrou ao mundo o quando custa caro à humanidade ideias fixas e profundamente equivocadas levadas a sério.
Os que jamais deveriam votar em governantes que retiram seus direitos e precarizam as condições de trabalho - apostando em uma relação paternalista de pai-patrão para manter “a rédea curta” em relação às conquistas individuais da tal “meritocracia” - acabam por cair na armadilha da velha sedução que o “Pai da Nação”, resolverá todos os problemas e, ainda por cima, os protegerá das novas dinâmicas sociais que não entendem. Líderes da Direita e da extrema-direita quando a situação social se agrava pelo resultado de anos de política econômica neoliberal, que arrocha salários e acaba com os serviços públicos para cobrar por tudo que é obrigação de quem organiza, regula e cobra por isso, gostam de responder que o Estado não pode resolver o problema de todos e que cada um tem que buscar o seu espaço através do empreendedorismo. O famigerado líder da extrema-direita brasileira, Bolsonaro, respondeu assim a um grupo de estudantes pobres que reivindicam melhores condições para ter acesso aos estudos: “Vai à Luta”.
Cenas como beber leite condensado na lata, comer de forma grosseira, usar canetas populares e espalhar que Lula usa canetas de ouro e platina, enfim, essas manobras populistas que foram apropriadas de forma massiva e sem limites para o risível, por esse segmento ideológico, se tornou uma marca dos grupos que começam na Direita e terminam no Fascismo. O tempo perdido com estes governantes é terrível, porque eles usam esses períodos para fazer reformas com a cartilha neoliberal na mão e colocam nas costas do povo todo os custos do projeto e nas mãos dos capitalistas todos os ganhos. Sempre foi assim (:) privatizações sem nenhum critério, prioridade aos investimentos do capital estrangeiro, priorização do agronegócio como base econômica de exportação, reforma sindical para limitar qualquer mobilização e reação contra essas reformas e manter, como pregava Lacerda, a submissão do país aos grandes centros capitalistas onde se decidem os rumos dos investimentos mundiais que governam o mundo.
A realidade brasileira é muito difícil para os mais pobres, mas não é exclusividade brasileira essa limitação econômica, populações de países considerados de Terceiro Mundo, mas chamados, hoje em dia, de países em desenvolvimento, convivem diariamente com as péssimas condições sociais e a falta de mobilidade social. O Brasil sempre viveu em um regime de exclusão social, com um terço da população vivendo no limite tênue da sobrevivência, por isso é decepcionante perceber que, em plena Era da Informação, boa parte da população desses países ainda pode ser manipulada facilmente para aderir a projetos que lhes prejudicam. É quase inconcebível que alguém vote contra os seus interesses, mas é o que acontece e as razões subjacentes a esse ato só podem ser entendidas quando se ultrapassa a espessa bruma dos condicionamentos sociais, ou como disse Geraldo Vandré em “Disparada”, parceria com Théo de Andrade: “Na boiada já fui boi/Mas um dia me montei”. Só montado em seu próprio dorso se pode galopar livre e mas com a consciência da liberdade conquistada, não como uma manada em disparada.
A insistência de alguns filósofos sociais em afirmar que Bolsonaro não é fascista, porque tem uma agenda neoliberal e que os bolsonaristas, na verdade, defendem mais democracia, pois são contra as elites, financeiras, intelectuais e acadêmicas que controlam o país, não se confirma. As instituições podem ser aperfeiçoadas, mas os ditadores no poder se tornam cada vez mais déspotas com o passar do tempo, além disto, basta entender o axioma freudiano sobre religião para entender como se estrutura o fanatismo em torno de líderes carismáticos como Hitler, Mussolini e, por que não, Bolsonaro, só que no caso do último suas asas foram cortadas na hora do grande voo. O fim das instituições e um governo controlado por uma figura autoritária e centralizadora e a democracia feita através das redes sociais sem bases, nem limites é o álibi perfeito para uma neo ditadura e para soterrar, definitivamente, as democracias no mundo.
Vinicius Todeschini 21-07-2023