Uma democracia sob constante ataque
Fernando Collor confirmou o poder de manipulação dos poderosos sobre o povo brasileiro. Brizola, ‘o maior presidente que o Brasil teve’, viu os seus sonhos serem frustrados outra vez e teve que engolir mais um sapo, neste caso um sapo barbudo e Lula foi para o segundo turno. Brizola ainda teve que amargar a derrota do seu sucessor no estado do Rio, Darcy Ribeiro, para Moreira Franco que, rapidamente, destruiu o projeto mais ambicioso de educação já implantado no país. “Fracassei em tudo o que tentei na vida...”, disse Darcy Ribeiro e completou; “Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.
O Brasil é uma jovem democracia que ainda não alcançou a maturidade, pois teve o seu destino alterado por vários golpes em seu tortuoso caminho na busca de evolução e estabilidade. Este novo período, inaugurado em 1989, começou muito mal e “o caçador de marajás”, Fernando Collor, foi eleito, mas dois anos depois renunciou, enquanto um processo de impeachment contra ele corria no Senado. Assumiu o vice-presidente Itamar Franco que colocou o sociólogo, Fernando Henrique Cardoso, no cargo de ministro da Economia, o que catapultou, com o advento do real e a estabilização da economia, o nome de FHC para a presidência do país. No seu primeiro mandato -considerado bom- muitas privatizações foram feitas rapidamente, dando margem a sérias controvérsias, mas já esquecidas pela maior parte da população, infelizmente. O senador Pedro Simon proferiu uma frase emblemática, feita em dezembro de 2008, a respeito da privatização da Vale do Rio Doce: “A privatização da Vale do Rio Doce foi uma doação pública a um grupo privado”. Foram oitenta privatizações de janeiro de 1985 a dezembro de 1988.
Collor foi uma figura emblemática no processo de redemocratização, surgiu e sumiu como um cometa nos céus brasileiros, mas o que há de controverso em sua vitória é que naquela época existiam muito quadros políticos mais capacitados com trabalhos prestados ao país e trajetórias admiráveis de luta e resistência contra os golpistas de 1964. O povo, porém, escolheu Collor com o apoio das grandes redes nacionais como a Globo, por exemplo. Sem apoio político e com um esquema de corrupção executado por PC Farias, Fernando Collor confirmou o poder de manipulação dos poderosos sobre o povo brasileiro. Brizola, ‘o maior presidente que o Brasil jamais teve’, viu os seus sonhos serem frustrados outra vez e teve que engolir mais um sapo, neste caso um sapo barbudo e Lula foi para o segundo turno. Brizola ainda teve que amargar a derrota do seu sucessor no estado do Rio, Darcy Ribeiro, para Moreira Franco que, rapidamente, destruiu os CIEPs (Centro Integrado de Educação Pública), o projeto mais ambicioso de educação já implantado no país. “Fracassei em tudo o que tentei na vida...”, disse Darcy Ribeiro e completou; “Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.
No momento atual o governo está enfrentando um Congresso liderado por um homem que não tem nenhum escrúpulo na busca de cargos e vantagens, Arthur Lira. As limitações que Lira consegue impor ao governo atrasará qualquer projeto para o país, porque ele tem o controle do Centrão e não há bancada mais forte dentro da Câmara dos Deputados do que esse grupo, que é criado por “geração espontânea”, fruto de anos de corrupção institucionalizada, consubstanciada por leis, regras e estatutos que lhes garante uma miríade de privilégios. Praticamente intocáveis, cada congressista custa ao país cerca de 74 milhões de dólares anuais, 20 vezes mais que um parlamentar inglês, que custa 360 mil dólares no mesmo período. São cerca de R$10,8 bilhões por ano para manter o Congresso Nacional. O Orçamento Secreto criado em conluio com o desgoverno Bolsonaro deu poderes como jamais se havia visto e Arthur Lira se recente da perda desse poder, mesmo que Lula já tenha cedido muito ao líder da Câmara. Agora é a Caixa Econômica Federal a razão principal para a atual resistência dos congressistas conservadores e amanhã será o quê? Cargos, dinheiro e poder, eis a razão da rusga e não o bem do país, como costumam dizer.
A nova fase da democracia brasileira parece andar aos trancos, porque se sucedem os golpes contra o Estado de Direito. Contra a ex-presidente Dila foi um golpe político, contra o governo recém-eleito, em 8 de janeiro se tentou uma ‘Intentona Fascista’ e agora existe um Congresso recheado de golpistas prontos para atacar à democracia. No estado do Rio de Janeiro a milícia estende os seus tentáculos ao interior do estado, em São Paulo um governo bolsonarista tenta desmantelar toda a rede de proteção social privatizando tudo. É uma luta renhida, portanto ser democrata no Brasil é uma questão de fé, porém não basta acreditar para manter um governo eleito, porque é preciso mudar a estrutura que mantém esse país engessado ao longo dos anos, no entanto os liames que mantém “o pássaro formoso” do desenvolvimento brasileiro no chão são muito mais fortes que se imaginava.
A milícia é uma máfia à brasileira composta por ex-policiais e ex-militares que, na sua convivência com bandidos de todas as estirpes, aprenderam a dar vazão as suas ambições e enveredaram para os negócios em todas as áreas. As favelas já não bastam para eles por isso estão crescendo em direção ao interior e a outros estados. Quem conhece o mar sabe que os tubarões não deixam uma área onde a caça é garantida, assim os tubarões da política jamais abandonarão o seu “pesqueiro”, muito pelo contrário, porque o que está em jogo é o futuro deles. Ao mesmo tempo, o nível dos principais protagonistas nunca foi tão baixo, além de existirem novas forças para desequilibrar um jogo que sempre foi muito duro. Muitos brasileiros acham que ficar assistindo a tudo isso, como os seus antepassados fizeram, é uma forma de sobrevivência, mas agora existe um fogo cruzado com balas perdidas e ninguém se salvará por omissão.
Vinicius Todeschini 05-09-2023