A Esquerda Preponderante a Serviço da Extrema Direita
O escritor inglês, C.S. Lewis, afirmou: “De todos os homens maus homens maus religiosos são os piores”. Nós assistimos a isso na prática, depois de um governo de extrema-direita que, durante quatro anos, prejudicou e negligenciou o povo, criando todas as condições para que o número de mortes, durante a pandemia, fosse muito acima de qualquer expectativa e, justamente, em um país que tem expertise em vacinação, como o Brasil.
O cientista político alemão-americano, Yascha Mounk, toca, de forma crítica, em uma questão vital para setores empoderados da “Esquerda Preponderante”, as pautas identitárias. Para ele, essas pautas contribuem no acirramento da polarização atual da sociedade e rivalizam, neste sentido, com o populismo da extrema-direita (sempre pronta para apelar para todos os aspectos que possam confundir e fazer com que o povo não veja o próprio inimigo à sua frente). Mounk chama essas pautas identitárias de -armadilha da identidade- em seu livro “A Armadilha Identitária”. As eleições brasileiras de 2018 comprovaram isso, porque, depois de 14 anos de governos liderados pelo PT e recheados por essas pautas identitárias em discursos de posicionamentos e projetos, muitos flancos se abriram para explorar esses temas e criar sérias resistências junto à população mais empobrecida, incessantemente assediada por Bolsonaro e seus asseclas. A indústria de fake news implementada pela extrema-direita brasileira ainda será devidamente dimensionada, mas não se deve duvidar que ela é, absurdamente, maior do que se imagina.
A insistência com essas pautas dividiu e criou uma imensa planície e foi povoada pelos que aprenderam a usar interpretações religiosas fundamentalistas para criar igrejas e prosélitos, ávidos por respostas prontas que a vida nunca fornece. Não levar em conta, a longa defasagem educacional do povo brasileiro e do seu senso crítico, é desconhecer uma realidade que nos ultrapassa todos os dias, por isso o crescimento em escala geométrica das igrejas pentecostais passou quase despercebido, mesmo não sendo um fenômeno isolado, mas um movimento articulado por grupos políticos-religiosos, conscientes que, um dos caminhos mais poderosos para a dominação das mentes e dos corpos, passa, necessariamente, pelo controle religioso. A bancada evangélica comprova isso todos os dias ao defender pautas e projetos que, se aprovadas, levariam o país para um atraso ainda maior.
O escritor inglês, C.S. Lewis, afirmou: “De todos os homens maus homens maus religiosos são os piores”. Nós assistimos a isso na prática, depois de um governo de extrema-direita que, durante quatro anos, prejudicou e negligenciou o povo, criando todas as condições para que o número de mortes, durante a pandemia, fosse muito acima de qualquer expectativa e, justamente, em um país que tem expertise em vacinação, como o Brasil. Além do negacionismo, o governo Bolsonaro, segundo o TCU-Tribunal de Contas da União, desperdiçou cerca de 28 milhões de doses. Um despropósito desse nível só é promovido por pessoas que não têm escrúpulos quando se trata de impor a sua ideologia, não se tratou só de incompetência.
Os bolsonaristas governam muitos estados importantes, inclusive o mais rico, São Paulo, onde o governador, Tarcísio de Freitas, está diante da maior crise do seu governo, a do setor elétrico privatizado, onde a falta de mão de obra e investimentos na infraestrutura colocou o estado em uma das suas maiores crises de energia da sua história. Só em 2018, quando a ENEL assumiu o setor, houve uma redução de 30% no número de funcionários, além da falta de investimentos. O ex-presidente e seus asseclas também estão empenhados em boicotar a Reforma Tributária, projeto fundamental para alavancar o desenvolvimento do país. A Esquerda tem um projeto ideológico e cultural, enquanto a Direita quer colocar nas mãos dos empresários toda a responsabilidade social do país, empresários que visam apenas o lucro, como se comprova nessa crise energética em São Paulo, efeito de mais uma privatização. Entregar setores estratégicos para o país acaba sempre da mesma forma: com o Estado tendo que reassumir as empresas depois do fracasso das privatizações em serviços fundamentais para a população.
As conquistas sociais devem ser confirmadas dia a dia dentro da cultura e é fundamental entender e respeitar como pensa o povo, em seus vários segmentos, porque processos de mudança cultural acontecem lentamente e não se pode decretá-los, porque existe uma resistência cultural diante do novo e é neste embate que os oportunistas atuam, prontos para apontar o caminho contrário, sem nenhuma preocupação real com as pessoas. Na época que novas leis que afirmaram os direitos da comunidade LGBTQI+, principalmente a Lei 10.948/2001 que criminaliza a homofobia e transfobia, houve uma reação com o aumento das agressões à essas pessoas, porque a intolerância, com o crescimento vertiginoso do fundamentalismo manipulado por políticos de extrema-direita, havia crescido.
A imposição feita pelos que se julgam mais avançados que a maioria nunca funcionou, Paulo Freire seria crítico dessa postura, ele acreditava em mudanças reais quando elas acontecem de baixo para cima e não por imposição acadêmica. Setores da Esquerda ainda acham que é preciso colocar isso goela abaixo, mas a escolha pelo aumento do número de faculdades, por exemplo, trouxe como resultado uma baixa qualidade dos profissionais formados, porque nunca houve uma base sólida nos ensinos de primeiro e segundo graus, como em outros países, além disso, os resultados dos investimentos em educação demandam tempo para dar resultados, mas os políticos de hoje são pragmáticos, governam para os seus nichos e os seus assessores são vaidosos e orgulhosos demais para admitirem que o tiro saiu pela culatra.
Vinicius Todeschini 09-11-2023