A Marcha da Destruição Continua
A democracia está ameaçada no mundo, aqui os extremistas são apoiados por vários empresários do agronegócio, que veem qualquer defesa do meio ambiente como uma ação política contra eles. Muitos representantes da indústria, do comércio e do setor de serviços, além de banqueiros, também apoiam uma política neoliberal sem limites, em detrimento da presença de um Estado eficiente e regulador.
A velha ideia de que uma grave crise só é superada, completamente, quando se está à beira do abismo não pode ser mais aplicada. O planeta não tem beira e, ao seu redor, há um espaço incomensurável, que é mero eufemismo chamá-lo de abismo. Os esforços para diminuir o impacto humano sobre o planeta se assemelham à fábula da luta de alguns pássaros levando água no bico para apagar um grande incêndio em uma floresta e por isso mais reações naturais ao desequilíbrio do meio-ambiente devastarão cidades e plantações. A população humana da Terra praticamente dobrou em 50 anos e as concentrações populacionais destruíram sistemas inteiros de sustentação da vida. Animais criados para o abate acompanham esse crescimento exponencial e o planeta reage com cataclismas. Já ultrapassamos todos os limites, mas, justo nessa hora, ressurgem os retrocessos civilizatórios manipulados por oportunistas que, aplicando fórmulas messiânicas aos novos contextos e com novíssimas ferramentas digitais, atraem legiões de pessoas, aí sim, em direção ao abismo.
Os retrocessos na política representam atrasos e guerras, como o ato de Bóris Yeltsin que entregou a jovem democracia russa nas mãos de um novo czar, Vladimir Putin, em troca de imunidade. A extrema-direita sempre chega ao poder com a mesma fórmula (:) discursos inflamados e moralistas misturados a religião e pseudo-valores militares que proclamam os salvadores. Falam em nova política, no entanto, só criam mais confusão e atraso para se manter no poder e grande parte da humanidade, atônita e sequiosa de novos deuses que a salvem de si mesmo, segue esses guias de cegos. Só um novo rumo criado com conhecimentos consistentes e confirmados por resultados, onde a espiritualidade poderá ocupar o seu lugar natural no mundo, que é o de contemplação e meditação sobre a nossa breve caminhada sobre a terra, poderá nos redimir. O pensamento mágico combinado com a atração que as multidões exercem sobre pessoas desiludidas -onde é possível dissolver a própria angústia no mar escuro do inconsciente coletivo- sempre será usado por novos candidatos a tiranos, porém, dependendo do grau de entropia das estruturas sociais, um deles poderá ser o último, o derradeiro anticristo.
Quando se vê, aqui no Brasil, pessoas como Nikolas Ferreira, Damares Alves e Michelle Bolsonaro influenciando milhões de pessoas e espalhando confusão com maniqueísmos e apologias religiosas, sempre apelando para o pensamento mágico das multidões, quando se sabe que é, tão somente, um projeto de poder, se pode dimensionar a grave crise de inteligência que assola o país. O que sobra no Brasil é esperteza e eles, os espertos(as) estão vencendo o jogo, aliás, não é à toa que os negócios que mais crescem no Brasil são casas de apostas e casas de repouso. O bolsonarismo criou o seu espaço usando as redes sociais, imitando outros oportunistas que já estavam fazendo isso pelo mundo e funcionou muito bem aqui no país, que, além, de um déficit educacional grave, fruto de uma desigualdade social que potencializa a violência e a cegueira ideológica, tem a tradição “do rouba, mas faz”.
A democracia está ameaçada no mundo, aqui os extremistas são apoiados por vários empresários do agronegócio, que veem qualquer defesa do meio ambiente como uma ação política contra eles. Muitos representantes da indústria, do comércio e do setor de serviços, além de banqueiros, também apoiam uma política neoliberal sem limites, em detrimento da presença de um Estado eficiente e regulador, querem que o controle passe diretamente para as mãos do capital, ou seja; para as suas mãos, livres de controles fiscais e também da imensa dívida social que perpassa toda a sociedade. As estruturas sociais e institucionais brasileiras provaram que são capazes de resistir a tentativas de golpes, mas, ao mesmo tempo, a extrema-direita conseguiu chegar ao poder e pegou gosto por práticas contínuas de subversão e continuará agindo da mesma forma, aparentemente, irracional, mas cujo objetivo é manter cativa as mentes e os seus pensamentos, por isso não pode parar de produzir e repercutir fake news.
A miséria existencial humana não tem fundo e o desejo de viver tudo que a vida, no capitalismo, pode oferecer, corrompe a maioria. Tudo para ter um lugar no panteão dos “vencedores”. Mas a que custo? Esta é a pergunta mais importante e a resposta é óbvia: o preço a pagar é a alma, o centro simbólico do ‘eu’ na sociedade judaico-cristã. Não existem vencedores, todos morrerão, a única vitória seria deixar uma sociedade mais justa e que pudesse aspirar à sobrevivência da humanidade em função de um desenvolvimento social em harmonia com o meio-ambiente e com a vida. A marcha da destruição pode ser parada? Talvez sim, talvez não, a natureza segue um caminho inexorável e indiferente, onde tudo que existe são os ciclos que se sucedem e levam de roldão tudo que parecia eterno. A ignorância permitiu durante milênios que os seres humanos fizessem o que fizeram , porém, tudo é diferente agora. Não somos mais tão ignorantes e nem temos mais um planeta inteiro para povoar, ele está ficando superpopuloso e o impacto da sociedade humana está alcançando níveis insuportáveis de destruição. É possível mudar?
Vinicius Todeschini 07-12-2023