Crónicas do Brasil | 19-01-2024 21:10

O pior exército do mundo

Vinicius Todeschini

O exército brasileiro está inserido dentro de uma cultura elitista, onde os poderosos vivem vidas principescas com imensos direitos e privilégios, em detrimento da maioria da população que vive na corda bamba e sem garantias mínimas de sobrevivência. Passam governos e nada muda em relação a isso, ninguém se encoraja a bater de frente contra os representantes dessas poderosíssimas instituições que comandam o país.

Um artigo publicado no Portal Sohu.com, da China, pontua que 80% dos gastos militares no Brasil se destinam a pagar salários, pensões e aposentadorias, não podemos esquecer que muitas das filhas de militares ainda ficam com a pensão após a morte do pai. O Portal cita também uma frase de Hitler: “Se os soldados brasileiros soubessem lutar as cobras poderiam fumar cigarros”, em função do fraco desempenho dos soldados brasileiros no início da sua participação na II Guerra Mundial frente ao exército alemão. No final a cobra fumou, porque os brasileiros conquistaram o Monte Castelo e renderam 15 mil alemães, inclusive dois generais. Os pracinhas brasileiros provaram, apesar dos inúmeros problemas físicos e de saúde, consequência da desnutrição e da falta de assistência à saúde a que o povo, secularmente, foi submetido, o seu valor. No entanto, a crítica ao exército brasileiro do ponto de vista estrutural procede e o próprio artigo tenta explicar e elenca algumas razões para isso.

A recente compra de dez adegas pelo Ministério da Defesa para “o conforto dos militares” (alegação do próprio Ministério) ao preço unitário de R4 6.219,00 é sintomática e confirma algumas das razões alegadas para o exército brasileiro se mostrar tão distante da sua função precípua. Talvez por isso o oficialato e os militares de alta patente tenham tempo para se ocupar de questões políticas e conspirações. Um exército altamente profissionalizado e atuante deveria estar patrulhando as nossas fronteiras, extensas e abertas aos contrabandistas e traficantes de armas e drogas, mas não é isso o que acontece, as atuações do exército nas favelas do Rio de Janeiro, durante a intervenção federal, foi um verdadeiro fiasco, mostrando o seu despreparo para atuar em situações em que o profissionalismo é fundamental. Os EUA aboliram o serviço militar obrigatório em 1973, pouco antes do fim da Guerra do Vietnã, quando foram derrotados pelos vietcongs. Aqui a maioria dos jovens soldados servem apenas como mão de obra barata para funções serviçais.

Uma das razões alegadas para esta definição do exército brasileiro pelo Portal chinês é que geopoliticamente o país não se sente ameaçado por nenhum país e mantém boas relações com os americanos, se sentindo incluído dentro do guarda-chuva de proteção dos americanos. É como se o Brasil fosse um animal que está em segurança por não possuir predadores naturais, mas no mundo em que vivemos nenhum país deveria se sentir assim, completamente seguro. O exército brasileiro está inserido dentro de uma cultura elitista, onde os poderosos vivem vidas principescas com imensos direitos e privilégios, em detrimento da maioria da população que vive na corda bamba e sem garantias mínimas de sobrevivência. Passam governos e nada muda em relação a isso, ninguém se encoraja a bater de frente contra os representantes dessas poderosíssimas instituições que comandam o país. Os políticos não querem se indispor contra nenhuma outra autoridade poderosa da elite brasileira e assim continuamos a pagar a conta dos privilégios de poucos.

O pior colonialismo é sempre aquele praticado pelo colonizado contra o seu próprio povo, porque a crueldade é ainda maior. O grupo evangélico, Consciência Cristã, chegou a bancar a vinda do pastor calvinista norte-americano, Douglas Wilson, que defende abertamente a escravidão dos negros pelos cristãos brancos, para palestrar em seu congresso, que aconteceria no feriado de carnaval na Paraíba, mas a repercussão foi tão negativa que a sua participação foi cancelada. Estrela do movimento, ‘Nacionalismo Cristão’, inimigo da democracia e apoiador de Trump, o pastor alega que a Guerra da Secessão impediu que os escravos fossem levados para o Norte onde em contrariam mestres mais piedosos. Liberdade é um direito inalienável, mas por esse fato se pode medir a dimensão da resistência de muitos que não aceitam a igualdade entre os iguais: afinal, não estamos todos na mesma condição diante da vida e da morte? As diferenças entre as pessoas confirmam as infinitas possibilidade para tudo, tanto para o bem, quanto para o mal, mas as ondas de retrocesso que varrem o mundo atualmente confirmam, que como espécie, ainda não esgotamos todo o nosso estoque de nulidades.

Quando vivemos sob o jugo do pior presidente da nossa história, Jair Bolsonaro, ele promoveu um desfile de blindados em frente ao Palácio do Planalto e o Congresso Nacional para intimidar e confirmar à população o apoio militar, mas o evento se revelou mais um fiasco, porque o que se viu foram verdadeiras sucatas soltando fumaça e fazendo barulho, confirmando a fragilidade e o despreparo das Forças Armadas brasileiras, como diz o Portal chinês. A maioria das autoridades também não compareceu, só os golpistas do próprio governo estiveram lá e cerca de 60 fanáticos com a camisa verde-amarela pedindo mais um golpe militar. O risível parece não ter fim no Brasil e a saga da extrema-direita brasileira ainda parece estar longe de acabar por aqui, para o nosso desconsolo. A miséria combinada com uma das piores elites do mundo nos dá a certeza de que a saga contra a democracia e a igualdade tão cedo não terá fim por aqui.

Vinicius Todeschini 19-01-2024

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