A metástase bolsonarista
O discurso religioso tradicional usa os complexos de culpa da espécie humana com muita propriedade, mas os evangélicos pentecostais e neopentecostais ampliaram em muito as generalizações para incluir a maioria dos dramas pessoais. O resultado foi um sucesso e surgiram verdadeiros impérios desenvolvidos a partir da exploração da boa-fé. A esperteza dos pastores ultrapassou em muito a dos seus concorrentes, por isso o crescimento do número de igrejas em 2019 chegou a 6.356, uma média de 17 novos templos abertos por dia.
O projeto de tomada do poder pela extrema-direita envolveu anos de preparação para ser colocado em prática, porque antes de tudo foi preciso criar uma ampla estrutura para reunir as pessoas e catequizá-las conforme as ideias desse grupo e aí entraram as igrejas evangélicas, com recursos próprios para a manipulação e cooptação das mentes. O discurso religioso tradicional usa os complexos de culpa da espécie humana com muita propriedade, mas os evangélicos pentecostais e neopentecostais ampliaram em muito as generalizações para incluir a maioria dos dramas pessoais. O resultado foi um sucesso e surgiram verdadeiros impérios desenvolvidos a partir da exploração da boa-fé. A esperteza dos pastores ultrapassou em muito a dos seus concorrentes, por isso o crescimento do número de igrejas em 2019 chegou a 6.356, uma média de 17 novos templos abertos por dia, segundo dados da FAPESP (Fundação de Ampara a Pesquisa do Estado de São Paulo). São dados defasados e subnotificados, porque a pesquisa seguiu dados do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), onde as igrejas, mesmo isentas de pagamento de impostos, devem ter registro, mas muitas delas operam na ilegalidade.
A Teologia do Domínio surge da interpretação de uma passagem do Velho Testamento direcionadas ao povo de Israel, onde a igreja seria a herdeira de promessas divinas. O “apóstolo”, Fernando Guillen, da mesma igreja da ex-ministra e atual senadora, Damares Alves, utilizou essa interpretação e a estruturou como um projeto de poder em seu livro “SE7E MONTES”. São as áreas onde a igreja deve tomar posse e exercer domínio (:) Família, Religião, Educação, Mídia, Lazer, Negócios e Governo. O texto deixa claro que o Reinos dos Céus -prometido por Jesus- é aqui mesmo e a igreja seria o meio para os cristãos conquistarem o seu paraíso, em outra palavras: ficar rico. O que esse manual não esclarece é como a quase absoluta totalidade dos cristãos aguentarão firmes assistindo os seus guias se locupletarem com os seus dízimos e ofertas, mas como não será possível nessa vida receber a promessa de prosperidade no mesmo nível dos líderes, os seus pastores certamente terão uma explicação convincente para eles e essa narrativa, evidentemente, incluirá um Reino dos Céus para os não contemplados pelas riquezas.
Os arquitetos desse projeto perceberam a necessidade de um líder carismático e corrupto para chegar ao povo, os milhões que se enquadram perfeitamente no conceito de lumpesinato criado por Marx. Bolsonaro, "o escolhido", com o seu sangue de mau ator criou uma identificação imediata com o lúmpen brasileiro e a sua mensagem maniqueísta de que o Estado é o inimigo e a Iniciativa Privada a salvadora da pátria funcionou. Ele é o garoto-propaganda de um sistema predatório que visa apenas o lucro e detesta o povo e o meio-ambiente, são apenas detalhes para eles. Mal-educado, ignorante, misógino, homofóbico, racista, sádico...enfim, se poderia ficar, indefinidamente, elencando as suas caraterísticas, mas, na verdade, além de desprezível ele é muito esperto e, diga-se de passagem, os filhos saíram iguaizinhos ao pai. Foi um processo longo e gestado sob o olhar complacente da maior parte da Esquerda que cochilava em berço esplêndido, após dois bons governos do presidente Lula. “Dormia a nossa pátria mãe tão distraída/Sem perceber que era subtraída/Em tenebrosas transações”, disse Chico Buarque em “Vai Passar”, samba-enredo feito para a escola de samba “Acorda Brasil” em parceria com Francis Hime.
Na sua passagem pelo governo, Bolsonaro deixou células malignas espalhadas e a descoberta de elementos da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), que estão infiltrados para espionar autoridades dos Três Poderes a seu serviço, é apenas a ponta do iceberg. Antes mesmo do começo da última campanha presidencial já existiam outdoors com a sua foto ao lado de postos da PRF (Polícia Rodoviária Federal). Várias instituições estão eivadas dessa células e prontas para defender o fascismo e a imposição de um sistema neoliberal a pleno. A despeito da miséria que esse sistema já produziu, a imposição total desse sistema seria o fim da linha para milhões de pessoas que vivem “eternamente” na corda bamba, mas esse seria o Brasil tão sonhado pela elite financeira; condomínios luxuosos protegidos por sicários fortemente armados prontos para atirar e cercados de miséria por todos os lados.
As investigações da Polícia Federal alcançaram, o deputado federal Alexandre Ramagem, ex-número 1 da ABIN e depois o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, o filho mais agressivo do patriarca, mas houve vazamento de informações para o Clã Bolsonaro. Não é à toa que no dia em que a PF entrou no gabinete de Carlos, às 7h, durante o recesso parlamentar, o seu assessor, Edivaldo Souza da Silva, lá estava. Em Angra dos Reis, Bolsonaro e os filhos saíram em um barco e dois jets skis entre 5 e 6h, supostamente para pescar, a PF chegou às 8h40. O deputado federal Eduardo Bolsonaro voltou em dos jet sky uma hora depois, Carlos e Bolsonaro retornaram de barco às 11h, mas o senador Flávio Bolsonaro só retornou depois que os policiais partiram e sem o jet sky. O estilo mafioso é evidente por isso o afastamento de Alessandro Moretti, o número 2, não é garantia de nada, porque há inimigos em toda parte, infiltrados nas instituições que servem ao governo e Lula sabe que está cercado por eles, porque é impossível identificar a todos dentro dessa estrutura viciada e tomada pela metástase bolsonarista.
Vinicius Todeschini 02-02-2024