O jogo mortal da espécie
As religiões deram alento aos seres humanos diante da condenação que pesa sobre a humanidade, a finitude, mas criaram tantas guerras e mortes em nome de Deus que produziram mais mal do que bem. Tratar as pessoas que não professam a mesma fé como inimigas é um comportamento recorrente de religiosos fanáticos e este comportamento atravessa milênios sem nenhum sinal de mudança no ar.
Na dança das gerações os ciclos se repetem, mas nunca exatamente iguais porque o tempo não volta e os impulsos da espécie reproduzem comportamentos em novos contextos, sendo impactados por eles. Freud cunhou o conceito “pulsão” para tentar sintetizar isso: a combinação dos instintos com a experiência do nascimento e o desenvolvimento do sujeito (feita por pais sem manual de instruções). Na psicanálise existem tantos trabalhos e autores que escreveram sobre isso que é impossível -em uma vida útil- ler e compreender a tantos dizendo coisas parecidas e, ao mesmo tempo, completamente diferentes. Basta comparar as psicanálises de Melanie Klein e de Freud para compreender o que estou tentando dizer.
Com as infindáveis re-classificações dos DSMs (Manual Diagnóstico Estatístico de Doenças Mentais) surgiram tantas categorias que até o psiquiatra, Allen Frances, coordenador desta publicação durante muito tempo, admitiu a transformação de problemas cotidianos em transtornos mentais, também confirmou que o DSM V traz uma hiperinflação em relação à inflação dos manuais anteriores. O Dr. Allen não está mais à frente da coordenação dos DSMs, parou no anterior, o IV, e reconhece que subestimou o poder das indústrias farmacêuticas em criar novas doenças e, também, pontuou que o número de mortes por abuso de fármacos é maior do que por drogas ilícitas. É dele a frase "A evolução produziu gênios como Einstein e idiotas como Trump". Em seu livro, “O Fim da Racionalidade Americana”, disse mais: "Trump não é louco, mas a nossa sociedade é. Chamar-lhe louco é um insulto aos doentes mentais".
As religiões deram alento aos seres humanos diante da condenação que pesa sobre a humanidade, a finitude, mas criaram tantas guerras e mortes em nome de Deus que produziram mais mal do que bem. Tratar as pessoas que não professam a mesma fé como inimigas é um comportamento recorrente de religiosos fanáticos e este comportamento atravessa milênios sem nenhum sinal de mudança no ar. Se comportar como espécie vivendo o seu tempo e preparando o terreno para que as novas gerações recebam um mundo melhor seria, isto sim, um comportamento sensato e antidestrutivo, porém o que está acontecendo é o oposto disso. O avanço do fundamentalismo e a utilização de fanáticos por políticos agnósticos, como Trump faz nos EUA, criaram todas as condições para retrocessos ainda maiores dos que os atuais e ameaçam a sobrevivência da espécie humana. A barbárie volta a rondar a civilização!
No Brasil a explosão de igrejas pentecostais e neopentecostais seguem à risca o slogan: “pequenas empresas & grandes negócios”. Pastores se comportando como personagens do jet set (:) dirigindo Ferraris, viajando pelo mundo e se hospedando em hotéis inacessíveis para a grande maioria da população virou uma espécie de rotina, enquanto as suas igrejas -isentas de impostos e a maioria situada em zonas periféricas das grandes cidades- são sustentadas pelo povo pobre e de classe média baixa. Bolsonaro tem ampla maioria nesse segmento, muito embora nunca tenha sido religioso (ele se declara católico) assim como se declara uma infinidade de coisas que não é, mas sua esposa, esta sim, participa de um movimento político-religioso que vislumbra a tomada total do poder e a transformação do país em uma república fundamentalista cristã, completamente blindada contra a Esquerda.
As investigações sobre o golpe confirmam o que todos os observadores mais atentos já sabiam: havia um golpe em curso sendo arquitetado pelo ex-presidente e o seu ‘núcleo duro’, incluindo, evidentemente, o indefectível general Heleno, uma das figuras mais sinistras das Forças Armadas. O ex-comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Batista Júnior, em um depoimento de cerca de dez horas à Polícia Federal, declarou que a partir do dia 14-11-2022, depois do relatório do IVL (Instituto Voto Limpo), encomendado pelo Partido Liberal, Bolsonaro começou a conjeturar junto aos comandantes o uso de medidas de exceção. O ex-comandante da Aeronáutica disse que alertou o ex-presidente que o estudo não tinha embasamento técnico, que era basicamente um sofisma, e o comandante do exército, general Freire Júnior, também aconselhou o presidente a não se utilizar de quaisquer medidas de exceção, sob pena de responsabilização penal, só o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, se colocou à disposição do ex-presidente. O depoimento do brigadeiro está publicado na íntegra.
O comportamento predatório de figuras, como Putin, Trump, Bolsonaro, Milei, Netanyahu, Maduro, Orbán e Kim Jong-um acende um alerta vermelho. A separação cada vez mais acentuada entre pobres e ricos, a falta de qualquer halo de humanidade nas disputas ideológicas radicalizadas e as ameaças à democracia, trazem desalento e descontinuidade de se alcançar um real equilíbrio nas relações com o meio-ambiente. O mundo caminha a passos largos para uma situação crítica e os conflitos atuais demonstram a intransigência, não só desses líderes, mas da população que os apoia. Na Rússia, com a oposição devidamente encaixotada, Putin acaba de se reeleger até 2030 com cerca de 87% dos votos e Trump está ameaçando a democracia americana com um banho de sangue caso não se eleja.
Vinicius Todeschini 21-03-2024