O entulho
É assustador saber que estamos nas mãos de muitos governantes sem qualquer compromisso com o Meio Ambiente e com Justiça Social, muito pelo contrário, (:) privatizações, desenvolvimento sem infraestrutura compatível com o equilíbrio ambiental e precarização do trabalho estão no seu repertório O Brasil, muito embora tenha um governo de Esquerda, as suas ações sofrem um torniquete permanente do Congresso Nacional, nas mãos dos conservadores e da extrema-direita.
Não há nada pior do que ver os resultados de uma catástrofe, mas uma calamidade só é mensurável assim. O Rio Grande do Sul está pagando pelos desacertos dos governantes, somados à alienação dos eleitores, que os elegeram sem saber quais políticas eles adotariam em relação ao Meio Ambiente. Alguns candidatos ficam muito diferentes do que eram na campanha eleitoral, nesta fase são atenciosos e disponíveis para seduzir os eleitores, entretanto -depois de eleitos- acabam revelando ao que vieram e a quem servem. Justiça seja feita; os governos de José Ivo Sartori, que teve como vice-governador JP Cairoli, diretor do Grupo Ipiranga por 32 anos e o atual, de Eduardo Leite, que está em seu segundo mandato, sempre denotaram o seu escopo em relação às privatizações e as políticas públicas.
É interessante pesquisar “as razões” da população para eleger governantes e legisladores que desejam acabar com os Serviços Públicos e assim colocar cidades e regiões inteiras à mercê das intempéries e das crises. O processo que gestou esse monstro de muitas cabeças e confirmou o conceito, ora em vigência, foi lento, mas visível. Se estabeleceu assim um senso comum de pequenos e médios negociantes, muitas vezes financiados pelo Estado, de que o Setor Público não funciona bem e só o Setor Privado é eficiente. O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (encharcado pelas críticas ao fiasco da sua gestão, responsável direta pelas consequências desproporcionais das enchentes) é um exemplo de quem cresceu politicamente apregoando esse senso. Em entrevista a um programa tradicional da Mídia Local, no horário do almoço, ele não se conteve, saiu da persona e ao se referir à burocracia a chamou de “burrocracia”. A ironia disso é: que a burocracia, muitas vezes responsável por atrasar soluções, foi providencial para, pelo menos, diminuir o ritmo da devastação imposta pela sua administração.
As propostas e as parcerias do governo de Porto Alegre são muito evidentes e se apoiam, fundamentalmente, na construção civil. As grandes construtoras da cidade, opositoras das regras que contém as suas ambições desmedidas, querem construir novos prédios e condomínios e para isso contam com o prefeito e o seu vice -um negacionista do aquecimento global- para capitanear o avanço dos seus projetos sobre o Meio Ambiente. O Quarto Distrito, por exemplo, era um local de empresas e depósitos e sempre foi uma área problemática, onde alagamentos eram comuns depois de alguma chuva, e lá nunca foram executados projetos decisivos para a resolução desses problemas, mas foi o local escolhido pela prefeitura para incentivar a abertura de bares, restaurantes e cervejarias. Se esperava que com o aumento de condomínios e empreendimentos comerciais nesta região acontecesse uma restruturação, sob a terra, para dar conta do aumento das demandas pelo sistema de esgotos e de água. O que aconteceu, no governo anterior e no atual, foi o contrário, uma destruição contínua dos serviços, como o DEP-Departamento de Esgotos Pluviais, que era um departamento autônomo e foi anexado ao DMAE.
É assustador saber que estamos nas mãos de muitos governantes sem qualquer compromisso com o Meio Ambiente e com Justiça Social, muito pelo contrário, (:) privatizações, desenvolvimento sem infraestrutura compatível com o equilíbrio ambiental e precarização do trabalho estão no seu repertório O Brasil, muito embora, tenha um governo de Esquerda, as suas ações sofrem um torniquete permanente do Congresso Nacional, nas mãos dos conservadores e da Extrema-Direita. A lacração nas redes sociais permite que os congressistas mais especializados desse segmento publiquem todo o tipo de distorção, que só são desmentidas no debate, como o que aconteceu na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, quando o ministro da Economia, Fernando Haddad, enfrentou e desmentiu uma série de inverdade lacradas nas redes sociais por alguns deputados. Entretanto os que mentem nas redes, e são desmentidos nos debates, não publicam o desmentido e seguem criando fake news.
O ministro desconstruiu uma a uma às falsas acusações dos políticos que o atacaram, chamando o seu governo de gastão e de irresponsável do ponto de vista fiscal. O deputado federal pelo PL-Partido Liberal- do Paraná, Filipe Barros, reapresentou dados de contas públicas sem apresentar as causas desses valores, que aparecem como gastos excessivos da gestão atual. Se trata de uma herança maldita, fruto do calote de Bolsonaro aos precatórios e aos governadores -cerca de 130 bilhões- no entanto, o deputado coloca tudo (lacra nas redes sociais) na conta do atual governo. A Reforma Fiscal aprovada, muito embora, distante de uma Reforma perfeita é um avanço, assim mesmo o ministro é atacado de forma mal-intencionada por quem não tem nada a acrescentar ao debate. O entulho nas ruas de Porto Alegre, por exemplo, é uma prova material do crime contra o seu povo, mas não será suficiente para condenar os culpados, porém, os eleitores têm o poder de julgá-los politicamente. A democracia é um processo custoso e precisa de aperfeiçoamentos constantes, a sua complexidade é tamanha e existem muitas brechas para os seus inimigos, no entanto, ela tem uma vantagem inalcançável pelos outros sistemas: se pode escolher.
Vinicius Todeschini 30-05-2024