O Fim da Pobreza
A pobreza parece não ter fim e só a sua existência já deveria ser mais que suficiente para envergonhar a humanidade, porém, isso não acontece, só alguns abnegados lutam realmente contra o status quo. O fim da pobreza deveria ser um marco a ser alcançado, obsessivamente, até nenhum ser humano ficar à mercê de tamanha injustiça e iniquidade e todos pudessem viver ( : ) de forma digna e civilizada.
A eleição de Claudia Sheinbaum como presidente do México, país que está logo atrás do Brasil em termos de economia na América Latina, é um alento, mas, em virtude dos resultados de alguns governos de Esquerda no continente, as expectativas estão recheadas de ambiguidades. Alberto Fernandes, na Argentina, não conseguiu eleger seu sucessor e o fracasso do seu governo acabou por contribuir para a ascensão da Extrema-Direita, com mais um representante do neoliberalismo radical, Javier Milei. O povo argentino está em uma situação crítica com as políticas postas em prática por Milei e não há perspectiva de mudança a curto prazo. A pobreza avança novamente trazendo a fome com ela e, os intermináveis ciclos de mais ou de menos pobreza, entram em mais um ciclo de decadência para o povo. A extrema miséria anda ao derredor dos argentinos, enquanto Milei destila seu ego pelo mundo em doses cavalares.
Os governantes de Extrema-Direita depois de eleitos se tornam uma ameaça à democracia, assim tem sido. Para isso contam com elites gananciosas e militares ressentidos como aliados e, na Argentina, eles foram julgados e condenados pelos seus crimes durante a ditadura. Quase sempre preferem, como no caso da Hungria, corroer as instituições democráticas de dentro para fora e, pouco a pouco, acabar com as liberdade políticas e os direitos civis e trabalhistas conquistados. Por isso, aqui no Brasil, não querem criminalizar as fake news, porque o importante é chegar ao poder para implodir as frágeis democracias ocidentais. Estas fragilidades ficaram, completamente, expostas quando “a maior democracia do mundo” foi seriamente ameaçada por Donald Trump, que agora se tornou o primeiro ex-presidente do país a receber um veredito de culpado em um processo criminal, mas mesmo assim concorrerá à presidência dos EUA.
Os governos que se sucedem na América Latina não conseguem romper com os ciclos intermináveis de pobreza na região, no caso do México o índice é de 36%, e isso tem sido fatal para todos esses países, que ficam à mercê de resultados sociais sempre muito aquém do razoável. O Brasil, o México e a Argentina são exemplos clássicos no continente do que se pode chamar de 'falsos patamares sociais', porque, muito embora, tenham partes bem desenvolvidas e períodos em que a pobreza regride, não conseguem erradicar, definitivamente, a miséria entranhada em suas veias abertas, “As Veias Abertas da América Latina”, como disse, Eduardo Galeano. O fim da pobreza é o maior desafio mundial, mas não para todos, para esses a pobreza é só mais uma realidade que existe, mas não lhes toca.
Enquanto houver bilhões de pessoas sem acesso a civilização e sem condições plenas para o seu desenvolvimento, nunca saberemos quantos realmente são propensos a praticarem o mal, porque tudo fica contaminado por uma desigualdade absurda. Os índices das diferenças sociais não param de crescer no mundo e não é coincidência que os índices de desequilíbrio ambiental também. Modelar o mundo se baseando no consumo foi uma escolha deliberada dos poderosos, o único problema é que os seus poderes não se estendem a natureza. O planeta vem dando sinais de alerta há muito tempo, entretanto, nos encontros para estabelecer políticas de redução de emissão de carbono, se estabelecem prazos baseados em políticas econômicas regionalizadas, completamente distantes da realidade planetária. E por aqui, além disso tudo, os neoliberais querem privatizar as praias e tornar a vida ainda mais difícil para o povo.
Existem tragédias inevitáveis e não faltam exemplos disso, mas existem tragédias evitáveis, como a quem estamos ainda vivenciando em Porto Alegre, onde sequer a manutenção necessária no sistema de proteção da cidade estava a pleno. Agora o rio-lago-estuário se recusa a voltar para o velho leito e repiques são constantes: casas são reinvadidas pelas águas e a tragédia parece não ter mais fim. Não há mais como não encarar a dura realidade do desequilíbrio ambiental, com os seus paroxismos visíveis em todos os lugares do mundo. A permanente mobilização da maioria das pessoas para sobreviver facilita a manutenção da alienação e o culto ao consumo de novos produtos, somados ao entretenimento vazio e fútil e a uma cultura das aparências, que está tornando o mundo um lugar cada vez mais inóspito e destituído de sentido. As diferenças sociais estão estratificadas e adquirir produtos como iPhone se tornou mais importante para as novas gerações que tentar mudar o mundo.
A pobreza parece não ter fim e só a sua existência já deveria ser mais que suficiente para envergonhar a humanidade, porém, isso não acontece, só alguns abnegados lutam realmente contra o status quo. O fim da pobreza deveria ser um marco a ser alcançado, obsessivamente, até nenhum ser humano ficar à mercê de tamanha injustiça e iniquidade e todos pudessem viver, esta curta passagem pelo planeta, de forma digna e civilizada. Nos bairros mais centrais de Porto Alegre o número de moradores de rua não para de aumentar, enquanto as águas teimam em se manter altas e ameaçadoras, realimentando uma angústia quase insuportável. A ambição e o despreparo dos nossos governantes ficaram expostas, mas a que preço? Não há mais como não perceber a nulidade das suas políticas: sempre voltadas ao lucro dos ricos e a manutenção da pobreza; e as suas mentiras; sempre ditas de forma melíflua.
Vinicius Todeschini 06-06-2024