Pequeno Inventário de Injustiças
A irresponsabilidade com a segurança das pessoas e do meio ambiente impressiona, porque quase todas estas situações seriam evitáveis se houvessem o comprometimento necessário com a vida, no entanto, o que se percebe é o contrário; nenhum interesse além do lucro.
De cada quatro decisões em segunda instância, no Tribunal de Justiças do Estado de Minas Gerais – TJMG, três foram desfavoráveis às vítimas da tragédia de Brumadinho. O desastre ambiental de 25 de janeiro de 2019 foi completo, com mais de 12 milhões de metros cúbicos de lama e detritos, os chamados rejeitos, despejados sobre o ambiente. Foram mais de 26 municípios atingidos e 272 pessoas morreram quando a barragem da Vale S.A., mineradora multinacional brasileira, rompeu. De lá para cá ninguém foi punido e cerca de 15, dos 24 envolvidos, já foram absolvidos. O crime ambiental prescreverá em 2024. Isso já seria demasiado em qualquer contexto, mas havia um precedente, a tragédia de Mariana em 05 de novembro de 2015, que deixou 19 mortos e derramou 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos. A Barragem do Fundão rompeu e, segundo o governo federal, foram atingidos (:) 663 Km de rios e córregos, 1469 hectares de vegetação, 207 edificações de Bento Rodrigues (subdistrito de Mariana) e 600 famílias ficaram desabrigadas. Esta barragem era controlada pela Samarco Mineração, que pertence as duas maiores mineradoras do mundo: a brasileira Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton. Olha a Vale aí de novo!
A irresponsabilidade com a segurança das pessoas e do meio ambiente impressiona, porque quase todas estas situações seriam evitáveis se houvessem o comprometimento necessário com a vida, no entanto, o que se percebe é o contrário; nenhum interesse além do lucro. Tudo mais é procrastinado em função dos interesses comerciais e para que os ganhos continuem em alta. O povo se comprime nestes lugares atrás de uma vida melhor, mais digna, com ganhos suficientes para criar e manter uma família, porém, além dos baixos salários, acaba sendo tragado pela irresponsabilidade social e ambiental de megaempresas. O conceito de progresso precisa ser urgentemente revisto, entretanto, isso não acontecerá tão cedo, mesmo que a cada nova tragédia surjam mais e mais discursos afirmando o contrário.
As tragédias ambientais chamam a atenção porque elas acabam por tirar da zona de conforto os mais ricos, aqueles que nunca se preocuparam com mais nada, além do crescimento das suas empresas e das suas riquezas materiais. Com o enfraquecimento das posições mais progressistas, afinadas com alguma ideia de igualdade e o avanço contínuo do neoliberalismo e do conservadorismo, o poder da grana atropelou todos os limites. O avanço extemporâneo do fascismo pelo mundo, em seus diversos matizes, parecia indicar não haver nada que pudesse oferecer uma resistência mais séria e propositiva a isso, algo que pudesse propor, pelo menos, alternativas sustentáveis de desenvolvimento, mas é a natureza que está a romper com este modus operandi predominante, que é predatório e devastador, porque as injustiças perpetradas pelos poderosos, ad aeternum, contra o povo nunca foram suficientes para indignar “os justos”.
A Amazônia neste momento está muito contaminada com mercúrio pela ação do garimpo ilegal. Esta substância, altamente tóxica, causa graves morbidades e elas aparecem a médio e a longo prazo, como mutações genéticas. Um exemplo é Minamata no Japão, lá a indústria química Chisso lançou resíduos contaminados com mercúrio desde a década de 1930, mas as patologias causadas pelo resíduos que contém mercúrio, que foram batizadas como a doença de Minamata, só surgiram em 1956. A contaminação se deu da mesma maneira que está acontecendo agora na Amazônia, através dos peixes, fonte de proteína essencial para os povos da região. No caso do Japão, o poder econômico dessa indústria japonesa atrasou as investigações e quando a contaminação foi confirmada já era tarde demais, porque pessoas e animais já estavam contaminados. Existem registros de 1435 mortos e mais de 20 mil contaminados e até hoje pessoas recebem indenizações em decorrência dessa tragédia humana e ambiental. No Brasil, porém, os povos indígenas que estão sendo contaminados e vilipendiados pelo garimpo ilegal receberão? O fato é que o Estado brasileiro não tem total controle sobre o seu vasto território.
O jornalista, Luan Araújo, que foi perseguido pela deputada federal bolsonarista, Carla Zambelli, de arma em punho, em 2022, acabou sendo condenado pelo juiz, Fabrício Reali Zia, do Juizado Especial Criminal do TJ-SP (Tribunal do Justiça de São Paulo). Ele foi processado por um artigo que escreveu sobre a belicosa deputada após o fato, entretanto, no Supremo Tribunal Federal, existe um processo que investiga a parlamentar por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal com o uso de arma de fogo. O jornalista já está condenado, embora ainda caiba recurso, mesmo tendo sido perseguido como um criminoso pelos Jardins, bairro nobre de São Paulo. Enquanto isso em Porto Alegre: -Dr. O senhor poderia me ajudar, perdi quase tudo na enchente? – Chegou atrasado, eu acabei de ajudar o cidadão que pintou a minha casa, que também perdeu tudo, mas não se preocupe, fica para a próxima, outras enchentes virão...
Vinicius Todeschini 12-06-2024