Crónicas do Brasil | 01-07-2024 10:39

Os ricos não pagam...

Vinicius Todeschini

O projeto do Estado mínimo nada mais é que a entrega oficial do controle total da nação aos que detém o poder econômico, os que veem o povo como gado. A pauta de costumes, através dos movimentos religiosos, tem esse escopo; fazer a cabeça das pessoas através da imposição dos seus valores, princípios que a maioria dos pregadores não praticam.

A Ipsos (Institut Public de Sondage d’Opinion Sectur) divulgou que, 69% dos entrevistados no Brasil são favoráveis à taxação dos mais ricos, índice praticamente igual à média dos países do G20, que é de 68%. Apesar dos avanços preocupantes de ideologias contrárias a isso, o resultado da pesquisa acaba por ser um alento. A concentração de riquezas nas mãos de poucos é fruto do avanço do neoliberalismo em todas as frentes da sociedade mundial, avanço concomitante ao aumento da miséria e da fome. Os radicalismos da Extrema-Direita no mundo, trazendo a xenofobia como bandeira e defendendo uma pauta de costumes da Idade Média, traz também a defesa intransigente de uma política radical de mercado e privatizações, com a crescente destruição dos serviços públicos. A terceirização cresce em todos os setores, outrora ocupados por um serviço público atualizado e o sucateamento dessas estruturas e serviços confirmou recentemente, aqui em Porto Alegre, o desastre destas políticas.

A Penitenciária da Papuda, em Brasília, onde está preso o ex-chefe da PRF - Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, deverá receber visitas de peso, 17 senadores foram autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF – Supremo Tribunal Federal, a visitar o policial, preso por ter ordenado ações para criar dificuldades aos eleitores de Lula. Bolsonarista e truculento, Silvinei agrediu um lavador de carros e foi processado, inclusive a PRF recomendou a sua expulsão, mas nada aconteceu para ele. Ele publicou em suas redes, às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais, uma mensagem visual pedido votos a Bolsonaro e, algumas horas depois, a deletou. A tropa de senadores, a maioria bolsonaristas, deverá seguir algumas restrições impostas pelo ministro, o que não impedirá o surgimento de “novas narrativas”, bem ao estilo do fascismo bolsonarista. Sergio Moro, cuja única plataforma é o antipetismo e o antilulismo, também está na lista. Ele rompeu com Bolsonaro, entretanto, para não ficar isolado no Senado, apoiou o ex-presidente, além de orientá-lo nos últimos debates presidenciais.

Salve-se quem souber, porque é preciso acordar para os fatos, mesmo que os fatos não nos cheguem claramente e venham em forma de narrativas com infindáveis pedaços. O resultado de um processo de colonização ideológica sempre começa muito antes de dar algum resultado e quando se cristaliza é porque o longo processo está a pleno, como é o caso brasileiro. No estado de São Paulo, o governador e ex-capitão do exército, Tarcísio de Freitas, implementou as escolas cívico-militares e dentro desse projeto, em uma resolução publicada no último dia 20, oficiais da reserva serão os professores de Política e Ética nessas escolas. Isso remete aos Anos de Chumbo quando a ditadura impôs aulas de OSPB – Organização Social e Política Brasileira e Moral e Cívica nas escolas públicas e privadas.

O projeto neofascista brasileiro já está nas ruas e os seus objetivos nunca foram mais claros, porém, a Extrema-Direita não conta agora só com os setores mais conservadores do catolicismo, principalmente, como no período discricionário, mas com a tropa de choque dos evangélicos e sobre isso, Augustus Nicodemus Lopes, pastor da Primeira Igreja Presbiteriana do Recife tem uma frase lapidar: “Nunca os evangélicos cantaram tanto e nunca foram tão analfabetos na Bíblia. Nunca houve tantos animadores de auditório e tão poucos pregadores da palavra de Deus”. O objetivo é manter “os crentes” ocupados, para não pensar nos porquês de tudo isso. Regredir ao ponto seguro é uma ideia que perpassa todo este discurso, subliminarmente, mesmo que na vida real o tal ponto nunca tenha existido.

As eleições municipais prometem dar “pano para mangas” e os seus resultados retroalimentarão as eleições majoritárias de 2026. Lula não tem um sucessor dentro da Esquerda capaz de aglutinar os setores mais ao Centro e mesmo da Direita democrática. Não existe também uma Terceira Via, portanto, o embate se dará entre os radicais da Direita que, provavelmente, escolherão Tarcísio de Freitas como candidato e Lula, como representante das forças populares. A questão é o quanto o povo entende realmente do que está em jogo. Muitos não acreditam na virulência dos projetos da Extrema-Direita, com a sua pauta de costumes e sua política, radicalmente, neoliberal, mesmo que a cada Reforma mais e mais direitos sejam retirados dos que trabalham e a cada Movimento dos conservadores, mais e mais privilégios sejam agregados aos poderosos e aos mais ricos.

O projeto do Estado mínimo nada mais é que a entrega oficial do controle total da nação aos que detém o poder econômico, os que veem o povo como gado. A pauta de costumes, através dos movimentos religiosos, tem esse escopo; fazer a cabeça das pessoas através da imposição dos seus valores, princípios que a maioria dos pregadores não praticam. A Esquerda ainda luta com muitas dificuldades para dar conta desse enfrentamento, porque a repetição da mesma mensagem em diversas formas alimenta o monstro da desinformação, usando o mecanismo do excesso de informação para isso, onde as fake news cumprem bem este objetivo, porque elas não param nunca. Taxar ou não taxar os ricos não deveria ser um dilema em um mundo onde houvesse um mínimo de justiça e lucidez, mas não é o caso.

Vinicius Todeschini 28-06-2024

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