Crónicas do Brasil | 07-07-2024 10:07

A reinvenção do fascismo

Vinicius Todeschini

O ser humano introjeta o patrão, o chefe, assim como na outra ponta, o peão, o empregado. No Brasil, quando alguém quer dizer que algo foi de primeira linha se refere a isso muitas vezes assim; “foi de patrão” . É difícil resistir ao que está posto e nunca superado, por isso o fascismo nunca morreu, mesmo tendo cometido as maiores barbaridades contra a vida e a dignidade humana.

A hierarquia é uma construção cultural que se perpetua nas estruturas do inconsciente. O ser humano introjeta o patrão, o chefe, assim como na outra ponta, o peão, o empregado. No Brasil, quando alguém quer dizer que algo foi de primeira linha se refere a isso muitas vezes assim; “foi de patrão” . É difícil resistir ao que está posto e nunca superado, por isso o fascismo nunca morreu, mesmo tendo cometido as maiores barbaridades contra a vida e a dignidade humana. O seu ressurgimento não é uma nova invenção ou uma ressignificação, porque basicamente não mudaram os signos, mas sim a roupagem, esta sim mudou. As estruturas sob a qual estão sendo reinventados todos os velhos signos fascistas se assentam na mesma base de cem anos atrás e que já estava internalizada pela humanidade muito tempo antes, desde que o primeiro homem discriminou e explorou o seu semelhante.

O crescimento do “Reagrupamento Nacional (RN), grupo de Marine Le Pen e Jordan Bardella, é significativo e vem surfando na onda do neofascismo, que ameaça o mundo com outro grande retrocesso. As consequências desses últimos acontecimentos são imprevisíveis e nenhuma delas auspiciosa. No Brasil, na Argentina, nos EUA e agora na França, a Extrema-Direita se mostra eficiente em conquistar novos nichos e avança perigosamente rumo ao poder. Bardella, a nova estrela fascista, é mais uma invenção com todos os ingredientes de sempre, como foi Collor no Brasil (:) jovem dinâmico com um discurso agressivo e promessas vãs. As novas condições construídas por mudanças nas superestruturas, com o surgimento e a afirmação das redes sociais, fez com que certas possibilidades que eram remotas, há poucos anos atrás, tenham se transformado em reais ameaças às democracias e aos direitos humanos, duramente conquistados na luta, justamente, contra o fascismo.

As grandes corporações, donas das grandes mídias, apoiam o neoliberalismo, intransigentemente, e para eles não importam os meios, sempre apoiarão os que estão com ‘o Mercado’, por isso, ‘o Mercado’, sempre que Lula fala, principalmente contra a alta taxa de juros, magicamente, o dólar dispara. A taxa de juros brasileira não recua e existe uma previsão -que soa como ameaça- que poderá subir ainda mais. Lula é “o culpado” de tudo isso para os representantes dessas corporações, porque ele é a favor do povo, mesmo não sendo, necessariamente, contra ‘o Mercado’, mas ‘o Mercado’, este sim, é totalmente contra Lula. As falas do presidente passaram a ser o balizador oficial da alta do dólar e da taxa de juros e como Lula continuará criticando o Banco Central (leia-se Campos Neto) seguiremos assim, aos trancos e barrancos, avançando aqui e tropeçando ali. As elites brasileiras são incansáveis em impedir o crescimento do povo, querem os privilégios da sucessão para os seus filhos, institucionalizando assim, tacitamente, uma monarquia dinástica onde os seus privilégios estejam perpetuados, através da continuidade dos seus nos postos mais importantes da nação, impedindo assim qualquer mobilidade social e mantendo o povo na pobreza.

A reinvenção do fascismo acontece cada vez que a Direita, em várias eleições sucessivas e pelos meios democráticos, não consegue chegar ao poder. Aí entra em cena o velho fascismo, agora reinventado, para fazer aquilo em que é especialista; o uso de quaisquer meios para alcançar o fins almejados. A violência, a truculência e a obliteração de todas as regras faz parte, porque só o que vale é o objetivo final. Bolsonaro tentou um Golpe de Estado, mas falhou e só não deu certo porque os tempos são outros e, a mesma desinformação gerada pelo excesso, pela distorção e manipulação dos fatos, acabou por salvar à democracia. Os fascistas liderados por Mussolini usaram os jornais para inventar e divulgar fakes news, hoje as redes sociais fazem esse papel com mais rapidez e eficiência.

A alteração no clima do planeta fará com que as pessoas, por bem ou por mal, se adaptem ao que se estabeleceu chamar de “o novo normal”. Nada mais indevido, aliás, e bem ao gosto do capitalismo, sempre ansioso e voraz para criar novos produtos, porque a única forma de vida que o capitalismo reconhece é o ‘o consumidor’. Os EUA enfrenta a ameaça real da volta de Trump ao poder, um negacionista de 78 anos que tem muito pouco a perder e deseja desfrutar os seus últimos anos aumentando o que tem de diminuir e diminuindo, ainda mais, o que resta de sensatez ao país, que é um dos campeões na destruição do meio ambiente. Não há saída, porque não existem novas terras para serem colonizadas, nenhuma nova fronteira a ser desbravada, se o planeta acabar acabam as espécies e mesmo que os negacionistas não queiram aceitar, somos, somente, uma espécie a mais. A vitória do Partido Trabalhista na Inglaterra com uma pauta mais social é positiva, porém, em outros países da Europa a Extrema-Direita continua a sua saga da reinvenção do que já foi, comprovadamente, razão de repúdio e desprezo pelos malfeitos dos seus maiores representantes (:) Hitler, Mussolini, Franco e tantos outros deixaram seus nomes inscritos na história e devem ser, permanentemente, lembrados, porque novamente os seus arquétipos, estão aí, agora em outros atores, mas prontos para reproduzir em escala ainda maior, tragédias, desgraças e mortes.

Vinicius Todeschini 06-07-2024

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