Por um triz...
Bolsonaro está por um triz de receber um decreto de prisão e o bolsonarismo, através do seus mais virulentos defensores, afirmam que não há clima para prender Bolsonaro. Prender inimigos, desafetos e rivais políticos -sem prova- não é problema, mas para prender Bolsonaro não bastam nem leis, nem provas, é preciso haver “clima”. Assim agem os fascistas, fazem as suas próprias leis e elas só valem contra os que eles consideram uma ameaça às suas pretensões.
“Para sempre é sempre por um triz”. (Chico Buarque). Se a humanidade tivesse seguido um forma de conviver com o meio-ambiente e não alterá-lo drasticamente, como tem feito, figuras como Hitler, talvez, nem tivessem emergido do fundo do inconsciente de uma cultura corrompida pela prepotência humana. Ao invés de megalópoles, onde os problemas se multiplicam, diariamente, em escala geométrica, viveríamos em aldeias ligadas por navios, trens e percorreríamos estradas com menos automóveis e caminhões, nas quais Alberto Caeiro poderia ter inventado Fernando Pessoa. A Revolução Industrial foi o último suspiro da vida comunitária, onde a convivência era baseada em uma relação muito mais ampla que o conceito restrito de família. Tudo isso se perdeu na longa estrada do tempo e não há volta, o mundo sequer consegue parar a marcha de destruição instaurada a partir dessa fatídica revolução. Para chegar ao poder todos os fins justificam os meios e a política, há muito muito tempo, se transformou em uma arena de guerra, em que os limites são construídos durante os embates e as leis e regras anteriores são apenas formalidades.
Os atentados a presidentes e ex-presidentes são um duro exemplo do grau de violência de que são capazes os entes envolvidos em disputas pelo poder. O atentado contra Trump, envolto ainda em mistérios, é um exemplo. Trump foi atingido de raspão na orelha direita, uma pessoa morreu e duas ficaram feridas. O atirador já identificado é Thomas Crooks de 20 anos, ele foi morto pelo Serviço Secreto, bem ao estilo americano, atira primeiro, pergunta depois. Sua identidade foi confirmada pelo DNA, porque ele não portava nenhum documento. Uma testemunha chegou a avisar os policiais que viu um homem com um rifle subindo no telhado. O atirador tinha registro no Partido Republicano, mas em janeiro de 2021 fez uma doação de 15 dólares, cerca de R$ 80,00 reais, ao Partido Democrata. O intrigante disso tudo é o fato que, o único beneficiado em um atentado quando o candidato sobrevive a ele, é o próprio candidato, como aconteceu aqui no Brasil com Bolsonaro, em 2018, que após “o atentado” disparou e ganhou as eleições.
O atentado cometido por Adélio Bispo, em Juiz de Fora, está povoado por aspectos nebulosos que não garantem nenhuma veracidade à facada que catapultou Bolsonaro à presidência em 2018. No documentário, “Bolsonaro e Adélio-Uma facada no Coração do Brasil”, o premiado jornalista, Joaquim Carvalho, desfia inúmeras situações misteriosas: Carlos Bolsonaro (um dos idealizadores da farsa, segundo o documentário) e Adélio Bispo terem estado no mesmo dia e no mesmo clube de tiro, na Grande Florianópolis, em Santa Catarina, dois meses antes do evento, é uma delas. A Direita e, principalmente, a Extrema-Direita negam a farsa, mas por motivos diversos: a primeira, que apoia qualquer candidato que tenha chance de vencer a Esquerda (leia-se PT), por constrangimento; e a segunda, por um ódio atávico de tudo que represente igualdade e justiça social. No atentado, nos EUA, alguém de fato morreu, mas já se sacrificaram muitas pessoas sem notoriedade para que os objetivos dos poderosos fossem alcançados.
Bolsonaro está por um triz de receber um decreto de prisão e o bolsonarismo, através do seus mais virulentos defensores, afirmam que não há clima para prender Bolsonaro. Prender inimigos, desafetos e rivais políticos -sem prova- não é problema, mas para prender Bolsonaro não bastam nem leis, nem provas, é preciso haver “clima”. Assim agem os fascistas, fazem as suas próprias leis e elas só valem contra os que eles consideram uma ameaça às suas pretensões, como foi na “Noite das Facas Longas”, em 31 de junho de 1934, em Berlim. A possibilidade de farsa em eventos assim é muito grande, porque ações teatralizadas caem bem ao gosto da população, que segue líderes carismáticos com discursos flamejantes, envenenados por preconceitos e discriminações. O ódio contra o estrangeiro -esse é o mote que permeia todo discurso de Trump- muito embora, todos aqueles que atacam os imigrantes sejam descendentes de povos estrangeiros, principalmente dos que foram responsáveis por dizimar os povos originários, mas eles, no entanto, além de nativos, se julgam os donos do país.
A falta de escrúpulos de líderes e seguidores que adotam pautas deste nível de perversidade e crueldade, faz com que não tenham nenhum problema em criar ações radicais para chegar ao poder. A cultura do ódio extremo também estimula pessoas desestruturadas e, sem nada a perder, a agir de forma radical para tentar agradar aos comandantes. As mensagens dessas lideranças dão margem a muitas interpretações e todas elas conduzem ao mal. A falta de sangue na suposta facada levada por Bolsonaro e a inexistência de gotas de sangue na gola da camisa branca de Donald Trump, no presumível tiro que triscou a sua orelha, deixam algo no ar que, combinado com o seu gesto midiático do punho erguido, antes dele ser levado pelos agentes, não é nada bom. Joe Biden admitiu que troca nomes, como fez no encontro da OTAN, quando trocou o nome de Zelensky por Putin, porém, não quer deixar de concorrer. Os democratas estão ainda mais atônitos depois do “atentado” na Pensilvânia e lutam contra o tempo e um inimigo disposto a tudo para chegar e permanecer no poder. Tudo se tornou mais complicado do que já estava e os próximos episódios dessa distopia já tem um mundo inteiro de audiência garantida.
Vinicius Todeschini 19-07-2024