Crónicas do Brasil | 27-07-2024 07:00

Gringo Velho

Vinicius Todeschini

O presidente Lula, um aliado histórico da Venezuela desde os tempos de Hugo Chávez, e que sempre teve pruridos em criticar o regime de Maduro, se mostrou preocupado e afirmou: “Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue”. Maduro respondeu: “Quem se assustou que tome chá de camomila”.

"Não sei se Deus existe. Mas em breve vou descobrir." (Carlos Fuentes). Biden renunciou a sua candidatura à reeleição, cedeu diante da pressão dos seus acólitos que, preocupados com a sua capacidade para enfrentar um inimigo, cuja relação com a lei, é perversa. Os velhos leões, quando estão no crepúsculo das suas vidas, se retiram para morrer com dignidade em algum canto esquecido da savana africana, certamente esses formidáveis felinos não elaboram rituais para se retirar, alguns saem quase corridos pela jovem concorrência que se impõe diante deles. Alguns, entretanto, ainda enfrentam um último desafiante -o novo candidato a rei do bando- porque se ganharem prolongam um pouco mais o seu reinado e se perderem levam como prêmio, tão somente, algumas cicatrizes a mais. Biden preferiu se poupar desse enfrentamento, provavelmente infeliz, pela amostragem do último debate com Trump, e se retirou da disputa. No novo tempo, Kamala Harris, será a candidata contra o representante do ódio. Kamala em sânscrito é flor de lótus, mas não se enganem, muitas flores são perigosas e até mesmo mortais.

Donald Trump tem 78 anos, três a menos que Joe Biden, mas parece estar em melhor forma, no entanto, isso pode ser enganoso, os jogos de poder exigem muito esforço para manter as aparências e Trump é um especialista nisso. No Brasil, ao contrário dos EUA, Bolsonaro sempre exibiu péssima forma, com um abdômen deformado por alguma patologia nunca explicitada. A suposta facada caiu perfeitamente como álibi para este homem doente esconder o seu verdadeiro mal. A desinteligência de Bolsonaro também foi muito útil para uma Esquerda atônita e desacostumada a lidar com o neofascismo brasileiro. Ações delirantes e ataques paranoicos contra as mídias tradicionais, que sempre apoiaram os ditames neoliberais, como a Rede Globo, por exemplo (que nasceu e prosperou sob as benesses da ditadura brasileira de 21 anos de duração), corroboram a cognição obtusa do ex-capitão e de seus asseclas, onde ‘o gabinete do ódio’, presidido por Carlos Bolsonaro, sempre esteve na vanguarda da criação dessas ações políticas.

O escritor venezuelano, Alberto Barrera Tyszka, autor do livro, “A Doença”, ganhador do prêmio Herralde, na Espanha, e premiado na China como melhor romance estrangeiro, pela Casa Editorial do Povo, acredita que as estruturas de poder legadas pelos caudilhos, como Hugo Chávez (ele é coautor de uma biografia de Chávez junto com Cristina Marcano) dispensariam a figura do caudilho carismático, porque manteriam “uma eficácia e crueldade terríveis”. Isso explicaria, em parte, a longevidade de Nicolas Maduro no poder. Arrogante, medíocre e desprovido de qualquer carisma, ele agora está ameaçando convulsionar à Venezuela com um banho de sangue, caso não vença as próximas eleições do dia 28 do mês corrente. Estará mesmo disposto a correr tantos riscos para se manter no poder, ou é apenas mais um blefe, como no episódio em que ameaçou invadir à Guiana por causa do petróleo descoberto em Essequibo, região que representa 70% do território do país vizinho?

O presidente Lula, um aliado histórico da Venezuela desde os tempos de Hugo Chávez, e que sempre teve pruridos em criticar o regime de Maduro, se mostrou preocupado e afirmou: “Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue”. Maduro respondeu: “Quem se assustou que tome chá de camomila”. É importante ressaltar que o atual mandatário está muito abaixo do seu adversário nas pesquisas mais recentes, mas especialistas alertam que virou tradição na Venezuela superestimar a diferença a favor da oposição, a atual é em torno de 30 pontos. O professor da Universidade de Denver, nos EUA, o venezuelano Francisco Rodriguez, acha inconfiáveis as pesquisas do país. Para ele os institutos de pesquisas sobrevalorizam o voto na oposição, em média 27,8% nos últimos 10 anos. Ele acredita que existe um virtual empate técnico entre González e Maduro.

O mundo atual é como um trem em alta velocidade que ninguém consegue deter para corrigir o rumo, mas os trilhos não são infinitos e acabam depois da última estação, no entanto, os que poderiam pará-lo ou, ao menos, diminuir a sua velocidade, estão envolvidos em tantas disputas pelo poder que não farão o que deve ser feito. A continuidade desta forma de viver está exaurindo o planeta e o tornando o desequilíbrio cada vez suscetível a criação de catástrofes climáticas, como a que atingiu o Rio Grande do Sul recentemente, e remete diretamente ao modelo “desenvolvimentista” baseado no consumo, implementado há séculos. A desistência de Joe Biden, o presidente americano que conseguiu evitar mais quatro anos de Donald Trump, em 2020, acabou por criar uma nova egrégora nas fileiras democratas, isso se confirmou pelas doações em massa à campanha do Partido Democrata depois do anúncio de Biden. Não que isso pare o trem, mas, pelo menos, não aumenta a sua velocidade. De alguma forma estamos todos presos (:) presos em um planeta, em um continente, presos em um país e em uma cidade. Quando viajamos é liberdade condicional, quando moramos fora é exílio. Não dá para sairmos vivos desta história e nenhuma resposta está soprando ao vento. "É só o vento lá fora". (Renato Russo).

Vinicius Todeschini 25-07-2024

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