Manual Para Perder Eleições
Hoje a Direita está a reboque da Extrema-Direita, muito por conta da mitologia cristalizada com sucesso pelos extremistas. A maior luta deste segmento ideológico, ancorado nas bordas da irracionalidade e do passionalismo, é defender o direito de mentir, indefinidamente e sem nenhum limite, para detratar o inimigo.
Perder ou ganhar não é uma questão de sorte, é preciso entender o que está acontecendo para se criar estratégias e táticas capazes de alterar e influenciar o meio. Os políticos sabem que o mais importante não é a mensagem, mas o produto que estão vendendo e, dentro deste conceito -produto- está inserido o personagem e o público-alvo, além de um discurso formal apenas para explicar, sumariamente, os bordões da campanha. Hoje a Direita está a reboque da Extrema-Direita, muito por conta da mitologia cristalizada com sucesso pelos extremistas. A maior luta deste segmento ideológico, ancorado nas bordas da irracionalidade e do passionalismo, é defender o direito de mentir, indefinidamente e sem nenhum limite, para detratar o inimigo. Não existem mais adversários, todos que se opõem ao neoliberalismo mais perverso e manobras parlamentares que garantam maiores ganhos e proteção contra as leis, são inimigos, declarados ou não. O resultado é o pior possível e o nível que já era baixo desceu pelo ralo.
O viés do neofascismo brasileiro -leia-se bolsonarismo- deu voz a oportunistas vorazes e sem nenhum escrúpulo, pessoas capazes de falar qualquer coisa que crie repercussão suficiente para galgar uma oportunidade no exclusivo universo dos políticos profissionais. Existem alguns segmentos que o capitalismo consagrou -para os que conseguirem adentrá-los é claro- e, se fizerem jus ao que os levou até lá, os privilégios outorgados serão imensos: poder, dinheiro, fama e posse de bens. O futebol das grandes Ligas é um exemplo disso, mesmo que a infinita maioria dos jogadores profissionais fora delas joguem só pela sobrevivência. No mundo da política atual o mau-caratismo ou, o que é mais comum, a ausência de caráter, tornou-se uma qualidade muito apreciada por vários segmentos e não só pelos mais radicais.
O bolsonarismo emergiu lentamente de uma fermentação, onde a levedura principal foi a insatisfação humana, aliás, condição natural do homem, segundo o “eterno” ministro de Economia da Ditadura, Delfim Netto, que faleceu no dia 12 do mês corrente aos 96 anos. Delfim Netto, quando era cobrado pela miséria do povo brasileiro e a consequente insatisfação popular, usava este jargão; “A insatisfação é o estado natural do homem”. Delfim era daqueles economistas liberais que acreditava que a condenação de milhões a uma vida de privações era condição sine qua non para o crescimento de um país e a erradicação da miséria, o que nunca deu certo, aliás, haja vista a pátria-mor do capitalismo, os EUA, onde existem bolsões de misérias em todos os lugares e homeless se multiplicam pelas cidades. ‘Primeiro é preciso fazer crescer o bolo para depois repartir’, repetia, incansavelmente, o velho Delfim, mas a fermentação cresceu e com isso um dos piores representantes da espécie humana chegou à presidência da República, Bolsonaro, e as consequências disso estão sendo pagas, porém, dificilmente serão saldadas, porque o bolsonarismo, hoje, é um imenso guarda-chuva onde se abrigam as piores tendências políticas.
As eleições municipais brasileiras estão na ‘ordem do dia’ e na maior e mais rica cidade do Brasil, São Paulo, acontece uma disputa acirrada, confirmada no primeiro debate. Ali temos dois representantes do bolsonarismo: o escolhido e atual prefeito, Ricardo Nunes, que herdou a prefeitura de Bruno Covas (falecido durante o mandato) e o enjeitado, Pablo Marçal, que não tem nenhuma vergonha em demonstrar ser o que é. No debate, o indefectível jornalista José Luiz Datena, comandante há 21 anos do programa “Brasil Urgente”, que em sua saga diária pela Rede Bandeirantes defende, intransigentemente, os policiais, atacou o atual prefeito sem nenhum prurido e o acusou de uma série de ilegalidades. Pela Esquerda, Guilherme Boulos, um intelectual que lidera o MTST- Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, que tem o apoio do presidente Lula, representa a esperança de um governo que se debruce sobre as mazelas sociais da megalópole. Correndo por fora, Tabata do Amaral, que teve a coragem de falar sobre a denúncia de violência doméstica sofrida pela esposa de Ricardo Nunes, ele tergiversou, mas sentiu o golpe. O debate paulistano é chapa quente e o segundo turno está indefinido.
Em Porto Alegre, apesar das enchentes e das falhas grotescas da prefeitura em proteger a cidade do caos, o prefeito Sebastião Melo segue como favorito para ganhar a eleição. O primeiro debate foi morno e sem grandes inovações, inclusive pelo formato escolhido. Foram 4 candidatos participantes: o atual prefeito, Maria do Rosário, do PT e a candidata mais forte da Oposição, Juliana Brizola, do PDT, além do candidato Felipe Camozzato, do Partido Novo, um mero coadjuvante que está ali pela exposição e para apoiar o prefeito. Os opositores de Melo não conseguiram alcançar seu intento de desestabilizar o prefeito e por ser a principal rival, Maria do Rosário, deixou a desejar. A deputada federal pelo PT não conseguiu passar uma imagem que possa aglutinar mais apoio do que já tem e isso gera uma grande preocupação nas hostes petistas para o segundo turno, Melo, ao contrário, conta com um amplo apoio de vários partidos, além de ser uma figura que não tem dificuldades em frequentar bairros populares. Tudo indica que se não houver uma grande mudança na coordenação da campanha de Rosário a derrota é uma perspectiva real, pois, pelo menos até agora, o ‘Manual Para Perder Eleições’ está sendo seguido à risca.
Vinicius Todeschini 15-08-2024