Crónicas do Brasil | 05-09-2024 07:49

O Dono do Mundo

Vinicius Todeschini

O mundo mudou, mas a ilusão de progresso e evolução levou a humanidade a um impasse, este é o paradoxo em que estamos mergulhados. Por um lado, a tecnologia nos trouxe até aqui, mas, por outro, está nos levando à destruição. Elon Musk é a forma mais acabada e emblemática de uma ‘Era’ que insiste em viver as bordas do abismo. Ele não quer ser presidente de nenhum país, quer é ser o dono do mundo.

Os anos 20 do século XX foram pródigos em criar ilusões. Para muitos foi a década mais louca do século, para outros só 10 anos de um desvario que ajudou a criar e potencializar delírios que levaram o mundo a Segunda Guerra Mundial (:) Art Deco, Jazz, Dadaísmo, Surrealismo, Cinema Mudo, tudo isso somado a uma nova liberdade sexual e comportamental; Drogas, Sexo e Jazz, sem esquecer as melindrosas. Rodolfo Valentino, Josephine Baker, Greta Garbo Charles Chaplin, Desenho Animado, o caso Sacco e Vanzetti, a Lei seca (que alimentou o contrabando que daria origem aos gângsteres e a novos magnatas, que ficaram ricos com o contrabando de bebidas, como o patriarca dos Kennedy, Joseph Kennedy, e, também, o auge da Ku Klux Klan. Tudo isso aconteceu em apenas uma década e o mundo nunca mais foi o mesmo. Os anos 60 foram mais reconhecidos, principalmente, por causa dos movimentos libertários e também pela repressão a esses movimentos, mas nos anos 20 as ilusões eram líquidas, se vivia como se não houvesse amanhã e nos 60 era como os bombardeios de napalm no Vietnã, difusos e caóticos.

A Revolução Industrial criou um mundo que seria inimaginável para os antigos, dizimou uma infinidade de formas de convivência e em troca criou as megalópoles com novas patologias industrializadas, embaladas e vendidas como produtos. O egoísmo -fruto do isolamento das pessoas em seus nichos de trabalho, compartimentadas em um estilo de vida repetitivo e monótono como uma linha de produção industrial- atingiu o auge. O campo, como se conhecia, também desapareceu, os fazendeiros atuais são agora empresários do agronegócio, totalmente mecanizado e informatizado e com uma produção calcada em métodos e técnicas. O espírito comunitário se dissolveu como um corante nos líquidos ferventes das indústrias de tecidos. As pessoas passaram a se enxergar como concorrentes pela sobrevivência e as distâncias sociais aumentaram. Se antes havia patrões e uma classe trabalhadora, facilmente distinguíveis, o mundo atual pulverizou as relações e os robôs são os novos capatazes.

O mundo mudou, mas a ilusão de progresso e evolução levou a humanidade a um impasse, este é o paradoxo em que estamos mergulhados. Por um lado, a tecnologia nos trouxe até aqui, mas, por outro, está nos levando à destruição. Elon Musk é a forma mais acabada e emblemática de uma ‘Era’ que insiste em viver as bordas do abismo. Ele não quer ser presidente de nenhum país, quer é ser o dono do mundo e possuído por esse paroxismo narcísico escolheu o Brasil para o seu laboratório e a figura do ministro Alexandre de Moraes como arqui-inimigo. Como ele se considera o Superman, o contraponto, obviamente, seria o Lex Luthor. Para ele a democracia e as instituições estão superadas e no “Novo Mundo”, onde se coloca como arauto, haverá apenas um líder supremo, ele mesmo. Aliado aos setores neoliberais mais radicais, Elon Musk, visa infernizar a vida do governo brasileiro e ameaça bloquear seus ativos, sem dar maiores detalhes de como irá fazer isso. A desobediência civil do megaempresário conta com o apoio de políticos republicanos dos EUA, que já se posicionaram a favor de sanções contra o Brasil, por isso uma vitória de Trump nas eleições americanas será um grande desastre para o mundo e para a democracia. Os ataques de Musk a Kamala Harris não deixam dúvidas que o seu escopo é implodir o sistema. No Brasil, existe um Congresso reacionário e fisiologista, sob a batuta do ‘coroné’ Arthur Lira e acólitos, o apoiando.

O neoliberalismo não tem elaborado nada mais sofisticado para esconder os seus reais objetivos há muito tempo, o que ele visa, e os seus métodos estão cada vez mais escancarados sobre isso, é atacar as instituições que salvaguardam as conquistas sociais do povo. Esta é uma das estratégias mais específicas e empregadas massivamente, tanto em campanhas explícitas, quanto subliminares. Os velhos liberais frequentavam artistas e apoiavam as artes, mas isso é passado, os novos liberais não estão interessados nisso, seus reais objetivos passam pelo domínio total e a erradicação de qualquer oposição e resistência ao capitalismo mais radical de todos os tempos: por isso o entretenimento e não a arte, o corpo e não a alma. Reformas que retiram direitos e investimentos em distrações (que impedem as pessoas de pensar claramente sobre as coisas) são formas de domínio e esta palavra é muito próxima de demônio. Dividir para dominar, demônio vem do grego diábolos (divisor) e ter controle social através da massificação extrema das populações no nível mais baixo possível, eis a “Solução Final” dos neoliberais. Não são tão diferentes dos nazistas, o que muda na “Solução Final” de cada um é que a dos neoliberais é definitiva e tem muito mais chance de passar dos mil anos, como queria Hitler para o III Reich. Seria um triste fim para a espécie humana, ser arrasada pela própria tecnologia que a salvou do fim em outras épocas.

Vinicius Todeschini 03-09-2024

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