Crónicas do Brasil | 24-10-2024 22:17

O capitalismo venceu?

Vinicius Todeschini

"A Vitória de Pirro", passou a ser conhecida como uma vitória com sabor de derrota e ensinou que priorizar uma única batalha, sem considerar a guerra como um todo, pode ser o começo da derrocada, mesmo se saindo vitorioso. O capitalismo em sua versão mais moderna, o neoliberalismo, está levando a competição a níveis nunca dantes visto, o resultado é uma concentração de renda absurda e o aumento da miséria e da fome.

Só se for uma vitória de Pirro, porque a busca por novas dinâmicas competitivas estão levando os empresários a uma constante política de redução de custos, com isso a exploração e a mais valia crescem sem nenhuma consideração pela qualidade de vida da força de trabalho, além do que, nessa busca, se optou pela automatização do trabalho, onde mais postos desaparecem todos os dias, como no caso dos bancos e agora, também, dos supermercados. Se organizam lobbys para levar projetos adiante sem se considerar o impacto ambiental. As estruturas necessárias como sistema de esgotos, tratamentos de dejetos e destinação do lixo são subestimados, quando, pelo menos, são considerados. Para o economista austríaco, Joseph Schumpeter, a abundância compartilhada ao alcance de todos é o que levaria ao fim do capitalismo. Para ele, ao contrário de Marx, o fim da capitalismo não se dará pelas suas contradições, mas sim pelo seu sucesso. O ciclo sempre começa com inovações tecnológicas provocando uma explosão de desenvolvimento que, algum tempo depois, se estabiliza, e, finalmente, entra em recessão, uma espécie de Samsãra econômica incessante e repetitiva, mas em fases; em eons.

A Batalha de Ásculo, em 279 A.C , onde Pirro - rei e general do Epiro – lutou contra os romanos e venceu, mas obteve tantas baixas e prejuízos que teria dito: “outra vitória como esta e estamos acabados”. Assim, ‘A Vitória de Pirro’, passou a ser conhecida como uma vitória com sabor de derrota e ensinou que priorizar uma única batalha, sem considerar a guerra como um todo, pode ser o começo da derrocada, mesmo se saindo vitorioso. O capitalismo em sua versão mais moderna, o neoliberalismo, está levando a competição a níveis nunca dantes visto, o resultado é uma concentração de renda absurda e o aumento da miséria e da fome. O experimento que Milei está fazendo na Argentina está torturando o seu povo e a pobreza aumenta diariamente no país vizinho. A propalada vitória capitalista está calcada na derrocada da URSS, mas o que aconteceu por lá tem outra explicações; uma delas e a mais tradicional, porque provém de marxistas, é de que lá aconteceu uma passagem direta de um regime praticamente feudal para a implantação do comunismo, mas existem muitas outras, o fato é que a sucessão de bizarrices da ‘Era Stalin’ criaram bases com muitas rachaduras e destinadas a ruírem logo ali adiante, assim foi.

“O Brasil ainda dorme, mas não há sono mundo/A vida não explica o poema/O tempo não perde um segundo”. (Vinicius Todeschini). Aqui no país continente as raízes do colonialismo marcaram e ainda moldam estruturas que definem posições e comportamentos. Desde o “Complexo de Vira-Lata”, cunhado por Nelson Rodrigues, passando pelo Pobre de Direita e pela “Elite do Atraso” (Jessé Souza), chegamos ao ponto de ter elegido um cidadão que queria acabar com a democracia e recriar uma nova ditadura aos moldes da primeira. O ataque a democracia não é exclusividade dos trópicos e no “centro da democracia mundial”, a volta iminente de Trump prenuncia dias mais sombrios para os orgulhosos americanos.

As inovações tecnológicas desencadeiam novas eras e demora muito até que haja algum controle sobre os excessos de cada novidade. Do caos criado se beneficiam os oportunistas e até baixar a poeira eles dão as cartas e jogam de mão. No momento é como se fosse um céu aberto onde aviões podem voar sem rota definida e guiados, apenas, pela visão dos pilotos, o desastre é iminente. A resistência a qualquer regulamentação é feita usando as explicações mais estapafúrdias e comparações sem nenhum ponto de realidade e sempre partem dos estão surfando na crista dessa onda, mas toda onda, por mais forte que seja, quebra na praia. Elon Musk que o diga, porque, apesar de toda arrogância, teve que ceder às imposições da Justiça Brasileira e perdeu o duelo -que ele levou para o lado pessoal- com o ministro do STF, Alexandre de Morais. Nesse jogo de pôquer venceu quem tinha as melhores cartas e nunca blefou.

Não há vitória sem sacrifício, nem derrota sem baixas, os homens sempre viveram em guerra, nunca houve um período de paz completo no mundo. “E assim de guerra em paz/De paz em guerra/Todo povo desta terra/Quando pode cantar/Canta de dor”. (Mauro Duarte-Paulo Cesar Pinheiro). A dicotomia do Estado corrupto versus uma Iniciativa Privada ilibada não existe na realidade, mas o mito persiste e se ressignifica cooptando almas perdidas nas periferias das cidades grandes e médias. As cidades pequenas são um caso à parte, a maioria ainda vive uma espécie de Feudalismo, sob as botas do agronegócio. A superconcentração de rendas na mão de um clube fechado de super-ricos e poderosos passa, necessariamente, pelo usurpação dos bens públicos, como é o caso da Vale do Rio Doce, entregue a eles em troca de royalties risíveis. O colonialismo deixou um legado e ele não se dissipará completamente até que a última alma acossada pelo ignorância seja liberta. “Entre os melhores americanos e europeus, ou seja, aqueles que não são conscientemente racistas, nota-se o esforço “politicamente correto” de se tratar um africano ou um latino-americano como se este fosse efetivamente igual. Ora, o mero esforço já mostra a eficácia do preconceito que divide o mundo entre pessoas de maior e de menor valor”. (Jessé Souza).

Vinicius Todeschini 22-10-2024

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