Estado Democrático de Direita?
No Brasil 80% da população é pobre e mesmo o país tendo sido a 6ª economia que mais cresceu em 2024, mesmo assim, uma pesquisa recente coloca que 90% do “Mercado” (leia-se os mais ricos) é contra o governo, na verdade o “Mercado” é contra Lula e o que ele representa.
O conceito ‘eterno retorno’ está ligado ao filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, muito embora seja muito mais antigo, porém acaba sendo reafirmado quando pode ser aplicado em outras épocas. Nessa dinâmica tudo deve se repetir, mesmo que separado por longos períodos de tempo. Fidel Castro pensava que isso não acontecia, porque os contextos que geram fatos semelhantes aos do passado seriam diferentes, mas, talvez, não haja incoerência nisso, porque o que retorna não é exatamente o mesmo, apenas análogo, enfim, basta de filosofia..., porém o inferno também se caracteriza pela repetição incessante de uma coisa já vivida, o mito de Sísifo é bastante ilustrativo sobre isso. Os fatos que ocorrem na linha do tempo da civilização, no entanto, confirmam recorrências de situações que reaparecem em ciclos. A volta do fascismo -cem anos depois- que se espraia pelo mundo, do ocidente ao oriente, parece confirmar isso, assim como as velhas guerras fratricidas. “A morte da empatia humana é um dos primeiros e mais reveladores sinais de uma cultura prestes a cair na barbárie”. Hannah Arendt
Aqui no Brasil, a Marinha criou uma peça publicitária em resposta a uma possível alteração em sua Previdência, que está previsto no Pacote de Corte de Gastos, com alterações nas pensões e regimes de previdência dos militares e cortes orçamentários. Não podemos esquecer que os militares foram poupados na Reforma da Previdência promovida pelo governo Bolsonaro, que retirou direitos e aumentou o tempo de contribuição da população, principalmente dos mais pobres. A mensagem, além de fazer um paradoxo risível entre os militares e sociedade civil, reforçando a divisão entre a caserna e ‘os paisanos’ (como os militares gostam de chamar, pejorativamente, os civis) também contém uma ameaça velada ao governo atual, que a maioria dos militares não gosta. A Marinha foi a única das três forças militares que, através do seu comandante, Almirante Almir Garnier, declarou apoio à aventura golpista do ex-presidente, Jair Bolsonaro, os dois estão indiciados no inquérito da PF. A Marinha brasileira, a mais velha das Forças Armadas do país, tem um passado contraditório, a Revolta das Chibata, de 1910, quando os marinheiros se amotinaram contra os maus tratos e o açoitamento a que eram submetidos, comprova isso.
O projeto da Extrema-Direita era criar uma ditadura com aparência de democracia, o ‘Estado Democrático de Direita’, para não terem problemas internacionais, porque internamente contam com uma grande franja de apoio popular, principalmente entre os que ganham de 2 a 5 salários-mínimos. No Brasil 80% da população é pobre e mesmo o país tendo sido a 6ª economia que mais cresceu em 2024, mesmo assim, uma pesquisa recente coloca que 90% do “Mercado” (leia-se os mais ricos) é contra o governo, na verdade o “Mercado” é contra Lula e o que ele representa. Aqui 42% da população ganha até 2 salários-mínimos. O pobre de direita culpa os que são um pouco mais pobres pela sua situação não melhorar e o governo pelos seus programa sociais, porque acredita que isso o empobrece. Um país rico cheio de gente pobre, mas comandado por gente rica que deseja manter os pobres assim; pobres. Por isso o senador de Santa Catarina, Jorge Seif, se sente à vontade para fazer uma declaração que contém todos os elementos do nazismo sintetizados em uma só frase: “Deveriam ter jogado do penhasco, não de uma ponte”, ao defender a polícia militar paulista. A PM de São Paulo matou, em 2024, 702 pessoas.
O que a política de violência policial, principalmente contra os mais desfavorecidos socialmente não esperava é, que mesmo os policiais manipulando as câmeras para não serem flagrados cometendo crimes, imagens de celulares são feitas por todos e em qualquer situação. O policial militar que jogou o jovem, como se fosse um pacote, da ponte sobre um córrego em São Paulo foi flagrado assim. A porcentagem no Rio de Janeiro de imagens das câmeras que chega ao MP- Ministério Público- é de cerca de 36%, o que de certa forma é melhor que nada, mas é preciso criar e impor regras claras para a atuação policial que, aliás, sempre foi truculenta e contou com o apoio dos mais ricos que mandam no país e setores de classes médias e pobres que foram cooptados pela avalanche de narrativas criadas para recolonizar a mente do gigantesco lumpesinato brasileiro, o que, aliás, não é tarefa difícil, mas exige persistência.
A cena protagonizada pelo policial militar, Luan Felipe Alves Pereira, foi definitiva no sentido de criar uma onda de indignação país afora, No ano passado ele matou um homem com 12 tiros na cidade de Diadema, Grande São Paulo. Preso depois do depoimento, ele verteu lágrimas de crocodilo, mas tentou distorcer os fatos, afirmando que a tentativa era para jogar o homem ao solo, o que as imagens desmentem radicalmente. O governador Tarcísio de Freitas que era contra as câmeras voltou atrás e agora se diz favorável ao uso delas, mas a sua atitude poderá criar o “efeito Pablo Marçal”, ou seja: abrir espaço para um candidato ainda mais extremista que defenderá o uso da violência policial. O governador não demitiu seu secretário de Segurança, Guilherme Derrite, profundamente identificado e associado à família Bolsonaro. No fundo Tarcísio, como todo extremista, também é favorável a violência policial, mas a política é uma arte onde mentir é só faltar com a verdade.
Vinicius Todeschini 06-12-2024