O Congresso do Atraso (Caquistocracia à brasileira)
Um dos exemplos mais patéticos é o projeto de castração química para pedófilos condenados, que foi aprovado na Câmara dos Deputados. É um projeto que nasce apenas para dar conta a esse eleitorado que está condenando o país a se transformar em uma espécie de ‘talibã cristão’ ( : ) A lei em questão não terá nenhuma efetividade no combate a esse tipo de crime, mas serve para se ter uma ideia do nível dos deputados atuais: o deputado do PL-Partido Liberal por Goiás, Alcides Ribeiro, acusado de estuprar um menino de 13 anos, votou a favor do projeto. O mesmo cidadão já foi acusado, em 2016 ( : ) de assediar meninos das categorias de base do Atlético Goianiense.
Com o ex-deputado, o contumaz fora da lei Eduardo Cunha, o Brasil experimentou o gosto amargo de um golpe político contra a presidenta Dilma e a escalada sem precedentes de um fascismo virulento e cruel, cujo representante e símbolo maior é um sujeito sem qualidades morais e intelectuais para representar qualquer coisa, mas representa, fielmente, pelo menos 25% da população, que somados aos interesseiros, o número chega a quase 50%. São pessoas que pensam assim e se sentem identificadas e representadas por essa figura. Eduardo Cunha, no entanto, vinha de baixo e nunca pertenceu às oligarquias que comandam o país, mas soube servi-las muito bem em troca de ganhos financeiros vultuosos, como se verificou depois, porém, Artur Lira, trouxe uma nova dimensão para a política nacional, representante que é das velhas oligarquias do nordeste, precisamente de Alagoas. Foi beneficiado pela grande onda antipetista que varreu o país e retirou dos esgotos da política os piores oportunistas, os ratos que habitam às velhas galerias da política nacional, sempre prontos a aproveitar qualquer chance para migrarem dos esgotos para a ribalta. O país experimenta hoje o que é ser refém da “Elite do Atraso”, como definiu brilhantemente às elites brasileiras, o professor Jessé Souza.
Algumas leis aprovadas por este Congresso beiram o absurdo e atendem aos interesses exclusivos das elites entronizadas em berço esplêndido e vivendo às custas da sangria da nação, que eles dizem amar, mas o verbo real é ‘mamar’, mamar ad aeternum nas grandes tetas da mãe pátria. A beira da sucessão Arthur Lira deverá eleger o seu sucessor, confirmando assim o grande poder que amealhou dentro do Congresso, usando de manobras que todos sabemos quais são, mas que não são ditas claramente pela grande mídia nacional, que só se preocupa em defender às idiossincrasias do “mercado”, porque, justamente, ali estão os seus patrões. O Brasil jamais decolará rumo ao Primeiro Mundo dessa forma, porque na verdade não interessa às elites que o país chegue a esse patamar, pois assim teriam que enfrentar a concorrência de gente, além de mais inteligente e preparada, oriunda do povo. Não há como não mencionar a grande dificuldade dos cínicos em aceitar pessoas inteligentes, honestas e bem-intencionadas, porque não faz sentido que exista gente assim no mundo, é, simplesmente, uma heresia.
A Reforma Tributária, o Pacote de Contenção de Gastos Públicos, tudo isso enfrenta alta resistência de um Congresso que pressiona o governo e o judiciário para liberar às emendas Pix sem que tenham que prestar contas sobre a destinação do dinheiro público. Paralelamente a criação de leis que beneficiam os ricos, criam leis esdrúxulas para atender os seus eleitores fanáticos e conservadores que fazem da Bíblia o seu manual e jamais fazem reflexões mais elaboradas. Um dos exemplos mais patéticos é o projeto de castração química para pedófilos condenados, que foi aprovado na Câmara dos Deputados. É um projeto que nasce apenas para dar conta a esse eleitorado que está condenando o país a se transformar em uma espécie de ‘talibã cristão’. A emenda ao projeto que inclui a castração química é do ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles, aquele que queria aproveitar qualquer brecha política para fazer ‘passar a boiada’ e acabar com leis de proteção ambiental. A lei em questão não terá nenhuma efetividade no combate a esse tipo de crime, mas serve para se ter uma ideia do nível dos deputados atuais: o deputado do PL-Partido Liberal por Goiás, Alcides Ribeiro, acusado de estuprar um menino de 13 anos votou a favor do projeto. O mesmo cidadão já foi acusado, em 2016, pelo senador Kajuru (ex-comentarista de futebol) de assediar meninos das categorias de base do Atlético Goianiense.
Uma manobra consagrada pelos congressistas brasileiros atuais é a incorporação de ‘jabutis’ (matérias alienígenas ao projeto inicial) às propostas que parecem representar um avanço, mas dessa forma elas acabam por incluir retrocessos e diluir pequenos avanços, destituídos assim da sua função precípua. No PL (Projeto de Lei) 528/20, que foi apelidado de ‘combustíveis do futuro’, o ‘jabuti’ é contratação de 4.250 MW de térmicas a gás nos locais onde não há gás canalizado, também inclui a prorrogação dos contratos de térmicas a carvão até 31 de dezembro de 2050, com o agravante da inflexibilidade de 70% – que determina que às usinas sejam pagas mesmo que não utilizadas o tempo todo e a prorrogação de PCHs (pequenas centrais hidrelétricas) com novos prazos de contratação. Enfim, mesmo com o veto presidencial ela voltará ao Congresso e será aprovada. Não há, evidentemente, como criar e consolidar políticas, mesmo em coisas tão vitais como a salubridade da vida no planeta, com pessoas assim controlando o Poder. Trump, eleito mais uma vez presidente dos EUA, prepara, por sua vez, um caminho onde os retrocessos serão muitos e os avanços ambientais e sociais, serão nenhum. Governar em um mundo cindido e delirante, onde às redes sociais assumiram um protagonismo, dando voz a todos os tipos de desvario não será tarefa fácil, a não ser para destruir princípios humanistas que elevaram a humanidade à ‘civilização’, por isso não há nenhuma boa expectativa para o próximo ano, muito pelo contrário, às apreensões são muitas e todas elas justificáveis. ‘Diga-me quem são teus governantes e eu te direi quem és, ou pelo menos o país em que vives’...
Vinicius Todeschini 14-12-2024