Polícia e a sua serventia...Polícia ao seu dispor doutor!
Vamos entrar em mais um ano novo, mas este, especialmente, chega trazendo muitas apreensões aos que vivem abaixo da linha do poder, que é a absoluta maioria da população mundial. Figuras como Putin, Trump, Elon Musk, Milei, Netanyahu e Maduro nos deixam à mercê de um mundo hostil, sempre pronto para apertar o acelerador do apocalipse.
Serventia remete a servo, aquele que serve aos poderosos em troca de um reconhecimento e que traz em si, contido, uma chaga de desprezo e um salário que traduz o seu valor para os que mandam. Nos últimos tempos, aqui no Brasil, as polícias têm se destacado, diariamente, por produzir tragédias absurdas e desumanas. Não passa um dia em que policiais (servidores públicos) não cometam barbaridades contra a população civil e isso em todos os níveis de atuação (:) polícia militar ou polícias judiciárias, sejam dos estados ou da União. Policiais da PRF-Polícia Rodoviária Federal- atingiram com tiros de fuzil o carro de uma família que se dirigia à Ceia de Natal em casa de parentes e feriram gravemente na cabeça a filha do casal. A estupidez do trágico ato fez com que o pai da moça dissesse uma frase que simboliza todo o estupefato que essas situações causam. “Pensei que era um bandido atirando, porque um policial não iria fazer isso’. A tragédia aconteceu na Rodovia Washington Luís (BR-040), em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, no estado do Rio de Janeiro. Isso remete imediatamente a uma situação que está cristalizada e que fez o ministro da Justiça Ricardo Lewandowski declarar que a polícia não pode combater o crime cometendo outro, um axioma que deveria ser regra de ouro na Segurança Pública, mas não é, para as elites brasileiras os crimes só são importantes se são praticados contra eles e seu patrimônio.
No Brasil, os efeitos do colonialismo se introjetaram de tal forma na cultura nacional, que o vice-prefeito de São Paulo, indicado por Bolsonaro na chapa de Ricardo Nunes, o coronel da reserva da Polícia Militar, Ricardo de Mello Araújo, declarou que ‘a abordagem policial nos Jardins (bairro nobre da capital paulista) tem de ser diferente da periferia’, onde estão os bairros populares. Antes do advento do bolsonarismo existiam alguns pruridos em afirmar isso assim, abertamente, mas uma verdade que todos conhecem, mas esse tempo já passou e os fascistas saíram do armário e em muitos estados e municípios estão no poder. ‘Atirar primeiro e perguntar depois, massacrar antes e discriminar depois quem foi massacrado’, são práticas comuns da polícia brasileira, sempre negada oficialmente, é claro, mas nos últimos tempos essas instituições estão conseguindo se superar e tornaram-se ainda mais letais do que sempre foram. Nos estados onde o bolsonarismo comanda isso é notório, mas tem acontecido na Bahia também onde os governos do PT se sucedem. A atração que estas profissões têm para pessoas perturbadas e antissociais impõe que novos critérios sejam adotados para a seleção e a formação desses quadros, principalmente agora com o aumento vertiginoso da população. Estudos com animais comprovam que o aumento da população de indivíduos no mesmo ambiente onde havia uma quantidade menor anteriormente dispara reações paranoides e violentas de uns contra os outros.
A representação do Estado por forças que estão incumbidas de manter a segurança interna do país é uma questão delicada, porque aqui as polícias sempre estiveram a serviços das elites e não da população como um todo. Todos por aqui têm muitas histórias para contar de abordagens policiais equivocadas, algumas que mostravam a proteção aos de classe mais elevada e outras a truculência aos mais pobres. Não é um problema fácil de resolver e os políticos, sem exceção, nunca quiseram enfrentar esta questão fundamental com intenções reais de mudar, pelo menos, alguma coisa. Lula, por exemplo, na primeira campanha vitoriosa à presidência prometeu unificar as polícias, mas nunca mais tocou nesse assunto e já está no terceiro mandato. Bolsonaro soube muito bem usar o empoderamento das polícias como forma de cooptar a fidelidade irrestrita dos policiais, um bom exemplo é a PRF, cujo ex-comandante está preso por tentar conter ilegalmente os eleitores do presidente Lula, eleito em 2022.
Vamos entrar em mais um ano novo, mas este, especialmente, chega trazendo muitas apreensões aos que vivem abaixo da linha do poder, que é a absoluta maioria da população mundial. Figuras como Putin, Trump, Elon Musk, Milei, Netanyahu e Maduro nos deixam à mercê de um mundo hostil, sempre pronto para apertar o acelerador do apocalipse. A pobreza de 80% da população do país indica que os mais ricos e poderosos querem que isso continue assim, porque se sentem de outra linhagem e não acham que a maioria possa conviver com eles em nível de igualdade, por isso pessoas como Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola e Lula serão sempre odiadas por eles, afinal, mesmo que não tenham alcançado êxito total em suas políticas para a emancipação do povo, mexerem com estruturas ainda mais elitistas e arcaicas de dominação de uma classe sobre as outras e isso é crime lesa-pátria para os poderosos do país. Contam para isso com forças armadas de todas as ordens, todas devidamente adequadas ao seu escopo e na maior parte contentes por poderem servir aos seus senhores, mesmo que venham da mesma classe social dos que massacram diariamente em suas rondas e operações. A Síndrome do Oprimido explica, por isso odeiam tanto Paulo Freire.
Vinicius Todeschini 30-12-2024