Crónicas do Brasil | 06-01-2025 19:42

O Globo de Ouro

Vinicius Todeschini

O Brasil não deveria manter uma máquina pública tão custosa aos cofres públicos e comandado por pessoas que só fazem trabalhar para si mesmos. Os poderes constituídos no país deveriam passar por um reforma completa que diminuísse privilégios e enxugasse custos, como vários países do mundo já o fizeram, mas isso é altamente improvável que aconteça por aqui.

A premiação recebida por Fernanda Torres no Globo de Ouro, como melhor atriz por sua atuação no filme, ‘Ainda Estou Aqui’, traz um alento a um país atravessado por um fascismo insidioso e impregnado pelo fanatismo evangélico. O Brasil merece um respiro, não que isso seja o suficiente para inaugurar uma nova fase, porque ela só virá quando existir ‘uma nova espécie de penicilina’ que consiga destruir, definitivamente, os vírus do colonialismo e não os deixar somente indetectáveis. Diante do ataque incessante das forças reativas e reacionárias que dominam o ‘Congresso do Atraso’, ainda é muito cedo, ou tarde demais, para se alimentar esperanças em mudanças, principalmente para aqueles, que como eu, já passaram dos 60 anos. Mudanças sociais são lentas e se processam invisíveis aos olhos, mas estão sempre acontecendo, porém é muito difícil prever o que virá daqui a 2 anos, quanto mais daqui a 30 anos.

Fernanda Torres é filha de dois grandes atores, o pai Fernando Torres e a mãe Fernanda Montenegro, que, aliás, concorreu ao Oscar de melhor atriz com ‘Central do Brasil’, filme que ganhou o Globo de Ouro em 1999. Fernanda Montenegro não ganhou o Oscar e o filme brasileiro acabou perdendo o prêmio para o filme italiano ‘A vida é bela’, de Roberto Benigni. O cineasta brasileiro, Walter Salles, sai como grande vencedor, porque ele dirigiu os dois filmes e de uma certa forma faz jus a um axioma do economista escocês, Adam Smith, ‘de que os ricos deveriam ajudar os pobres a também ficarem ricos’...Com um patrimônio líquido de US$ 4,2 bilhões, segundo a Forbes, Walter Salles tem feito muito pelo cinema brasileiro, diferente da maioria dos outros super-ricos que só fazem drenar a nação.

O Brasil enfrenta sérias dificuldades com a ascensão vertiginosa do bolsonarismo e cada vez mais fascistas saindo do armário. Um exemplo está aqui na cidade de Porto Alegre, que quase foi destruída pela enchente em 2024. O prefeito foi reeleito com muita facilidade, contrariando qualquer senso razoável de avaliação da sua performance à frente da prefeitura. Sebastião Melo é goiano, mas veio para Porto Alegre muito jovem para tentar a vida e atingiu o posto máximo da cidade, prefeito, depois de uma longa caminhada. Apesar da origem de trabalhador e um passado ligado às ideias de Centro-Esquerda, Melo provou não teve nenhum escrúpulo em assumir o fascismo brasileiro em voga, não só fez isso como passou a atacar a Esquerda com virulência, principalmente o PT, alvo predileto dos bolsonaristas, mas em seu discurso após a sua reeleição Melo se superou e disse que ninguém deve ser processado por defender a ditadura. Formado em Direito pela Unisinos, Melo sabe que isso não tem fundamento, porque não é certo usar a democracia para defender um regime que a extingue e com isso a liberdade de expressão, mas o seu objetivo é confundir ainda mais a mente colonizada dos eleitores, como sempre fez: “Pra nós, homenagear Che Guevara é homenagear a vida e a luta dos oprimidos. Foi um homem que lutou contra a espoliação deste império americano que comanda o mundo”, disse ele há pouco mais de 10 anos.

O jornalista Chico Pinheiro publicou em sua conta no X uma lista dos dez parlamentares que mais receberam emendas em dezembro e no topo da lista está o maior defensor do uso da cloroquina durante a Pandemia, o senador pelo Rio Grande do Sul, Luiz Carlos Heinze, com a singela quantia de R$ 37,3 milhões, Rogério Marinho, senador pelo Rio Grande do Norte, vem logo em seguida com R$ 32,7 milhões. A lista segue e inclui Marcos Pontes, o astronauta brasileiro, com R$ 28,3 milhões, em quinto lugar. Não é à toa a revolta contra o ministro Flávio Dino do STF que suspendeu o pagamento das famosas Emendas PIX, exigindo para liberá-las, simplesmente, transparência, coisa que não existe mais no Congresso, principalmente depois da criação do Orçamento Secreto, quando Bolsonaro entregou ao ‘coroné’ Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, a chave do cofre da nação.

O Brasil não deveria manter uma máquina pública tão custosa aos cofres públicos e comandado por pessoas que só fazem trabalhar para si mesmos. Os poderes constituídos no país deveriam passar por um reforma completa que diminuísse privilégios e enxugasse custos, como vários países do mundo já o fizeram, mas isso é altamente improvável que aconteça por aqui. A punição a juízes e desembargadores corruptos e praticantes de outros tipos de crimes, por exemplo, é a aposentadoria precoce com salários e benefícios completos, como aconteceu com o juiz Nicola dos Santos Neto, o famoso juiz Lalau. O servidor do TRE-Tribunal Regional Eleitoral, Demerson Dias, alertou na época do escândalo e da prisão do ex-juiz, que as medidas de controle do Judiciário só teriam efetividade ‘se consistissem em instâncias públicas e não confraria administrativa’, como é o caso do CNJ-Conselho Nacional de Justiça. As mudanças por aqui nunca acontecem quando são fundamentais, elas só acontecem quando tragédias se configuram e o medo de uma situação insuperável toma conta das elites, só assim elas são feitas, mas sempre pela metade, com medidas paliativas feitas para criar a impressão de mudança, quando na verdade nada mudou.

Vinicius Todeschini 06-01-2025

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