O Blefe - O Império Contra-Ataca
O mundo perdeu a vergonha de ser mau e a banda podre chegou ao poder, não só em governos, mas através de Big Techs ricas e empoderadas, até mais que os próprios bancos. Elas avançam com a firme intenção de se imiscuir em todas as áreas da vida humana.
Se você trabalha por um salário de fome e não reclama você é um “guerreiro” e estará enquadrado dentro da ‘meritocracia’ e, “mais dia, menos, dia será beneficiado por isso”. Se reclama da disparidade social absurda e escorchante você é um comunista... As elites sempre flertaram com o fascismo e nunca tiveram pruridos em aderir quando as classes populares ascendem a setores considerados exclusivos a eles e seus descendentes. Abraçam rapidamente discursos que quebrem essa ascensão e para isso o amálgama atual; religião/fake news, é a síntese perfeita para dar uma ideia de novidade sem alterar a ordem social e, principalmente, o status quo. O que o escritor italiano, Giuseppe Tomasi di Lampedusa, em seu livro ‘Il Gattopardo’, definiu assim: “É preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma".
As religiões do mundo -cerca de 56 mil, segundo o teólogo e parapsicólogo, Padre Óscar González Quevedo- sempre desempenharam um papel fundamental no controle social e todas têm em comum uma teologia; doutrina não observável, construída mitologicamente e sustentada pela fé dos seus seguidores. A Extrema-Direita, através da síntese, religião/fake news, se apossou do imaginário popular e em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo -responsável pelo sucateamento do sistema de proteção da cidade nas enchentes- conseguiu se reeleger facilmente e está transformando a cidade em um canteiro de obras das construtoras de prédios que o financiaram. Não há investimentos em infraestrutura, mas sim o desmonte do serviço público de forma cirúrgica e inexorável. Melo veio claramente com esta missão e agora chegou a vez do DMAE-Departamento Municipal de Águas e Esgotos. Tudo ficará mais caro e ineficiente, porém os pobres votaram nele e entregaram a cidade a setores da iniciativa privada, cujo único escopo é o lucro.
O avanço da tecnologia, que deveria trazer progresso social está se apresentando como um real perigo que ameaça destruir todas as conquistas sociais, como já foi feito com a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência. Cada vez se trabalha mais apenas para o dinheiro circular. Os jovens foram cooptados por uma lógica perversa, onde o tempo foi desconsiderado. Motoboys enlouquecidos fazendo as maiores barbaridades no trânsito em serviços de tele-entregas e motoristas de aplicativos dirigindo 12 horas por dia somente para sobreviver e enriquecer as grandes corporações. Quanto mais envelhecemos, mais precisamos de proteção e no inverno do nosso tempo, quando a velhice nos tomará e exigirá assistência, serão milhões de pessoas procurando no SUS uma chance de sobrevivência. As aposentadorias cada vez menores e o tempo de contribuição maior, certamente fazem parte de um plano de erradicação dos pobres, porque a maioria morrerá ainda trabalhando, porém, contribuindo para uma aposentadoria que não virá, ou mesmo que venha, será parca e por pouco tempo.
O mundo perdeu a vergonha de ser mau e a banda podre chegou ao poder, não só em governos, mas através de Big Techs ricas e empoderadas, até mais que os próprios bancos. Elas avançam com a firme intenção de se imiscuir em todas as áreas da vida humana. Com o advento da IA (Inteligência Artificial) o mundo se depara com uma ‘Nova Era’, onde tudo será ditado por algoritmos, mas como não se cansa de dizer um dos neurocientistas mais importantes do mundo, Miguel Nicolelis: "Se tudo o que você vai fazer daqui pra frente é baseado em um banco de dados do que já foi feito, você não tem futuro”. Os argumentos do cientista são poderosos e claros; Ele argumenta que cérebro e computadores não são nem remotamente comparáveis, porque o cérebro humano é analógico e por isso não faz distinção entre hardware e software, ele funciona como estrutura o tempo todo, tudo misturado. Para ele a palavra ‘inteligência’ foi sequestrada.
Os EUA estão se candidatando a se transformar em uma espécie de “IV Reich”, por mais irônico e trágico que isso possa parecer. O presidente americano não se cansa de ameaçar e lançar novas possibilidades para o mundo ficar ainda pior do que é. Afirmou que pretende comandar a Faixa de Gaza e fez esta declaração ao lado do famigerado primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que pareceu surpreso ante o exposto. Trump não parou por aí e ameaçou destruir o Irã caso esse país desenvolva armas nucleares, mas em seguida fez uma outra postagem amenizando o fato e afirmando que os relatos de que os EUA, em conjunto com Israel, iriam explodir o Irã em pedacinhos seriam exagerados. Ele teme um atentado contra si e deixou ordens expressas para que destruam totalmente o país caso seja assassinado. Os EUA mataram um herói nacional, o general Qassem Soleimani, assassinado em 2020 a mando de Trump. Foi grande a comoção no Irã por essa morte e, certamente, não será esquecida tão cedo.
O jogo de presidente norte-americano se torna cada vez mais perigoso, na medida em que o mundo não se mostra disposto a brincar com o perigo a cada nova jogada de Trump e, incansavelmente, fazer distinções entre blefe ou uma ameaça real. Se teme uma tragédia sem precedentes, em um mundo conturbado pela desigualdade e pelas injustiças perpetuadas pelo capitalismo. O presidente norte-americano parece agir como se estivesse em um reality show, como fez a vida inteira, e não no comando de uma máquina de guerra poderosa o suficiente para destruir o mundo e a si mesmo.
Vinicius Todeschini 05-02-2025