Crónicas do Brasil | 13-02-2025 09:11

Um Principado chamado Brazil

Vinicius Todeschini

Chamar o Brasil de ‘República das Bananas’ é injusto, muito embora o país seja um grande produtor dessa fruta, o Brasil é na verdade um ‘Grande Principado’, onde tudo passa pela continuidade de um colonialismo perverso, outrora imposto pelos europeus, mas introjetado e desenvolvido pelas elites colonizadas, que o professor Jessé Souza batizou de Elite do Atraso, no livro com o mesmo nome.

O Brasil não é único país do mundo que concede tantos privilégios aos seus mais altos funcionários, mas é, certamente, um dos que mais faz isso. O Congresso Nacional, o Judiciário e o Executivo disputam o primeiro lugar em regalias, responsáveis pelos custos absurdos do país e sem uma contrapartida à altura das demandas da população que, aliás, não param de crescer. O Congresso Nacional, segundo uma pesquisa da Nações Unidas com a União Interparlamentar (UIP) e divulgada pela BBC, é o segundo mais caro em todo planeta, com um custo de US$ 4,4 bilhões. O custo anual de cada parlamentar é de US$ 7,4 milhões, custos que não param de aumentar, porque os deputados continuam legislando em causa própria. Segundo a pesquisa, apenas 18% da população acha bom o trabalho dos parlamentares, mas diante desse descalabro, ainda é um índice muito alto de aprovação. O número de penduricalhos criados por eles em seu próprio benefícios inclui (:) passagens aéreas, telefonia, serviços postais, combustível, hospedagens, IPTU..., enfim uma lista infindável de vantagens que não trazem nenhum retorno para o país, mas aqui política é um jogo e o povo apenas um coringa do baralho.

A partir de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, o Congresso foi ampliando o seu espaço de atuação e com Arthur Lira na presidência chegou ao ponto de tornar o Poder Executivo uma espécie de refém. Hoje em dia os governadores e prefeitos quando vão a Brasília não estão atrás de algum ministro ou do próprio presidente da República, como era de praxe, mas sim de parlamentares. O Orçamento Secreto foi o ponto de virada total, quando Bolsonaro, de forma obtusa, entregou prerrogativas do Executivo ao Congresso na tentativa de se reeleger a qualquer custo. O resultado disso é que o presidencialismo está em xeque e Arthur Lira ainda está no poder, pois conseguiu eleger seu sucessor, Hugo Motta. O sucessor é um discípulo e tem em comum com o mestre o reacionarismo, o bolsonarismo e a herança coronelista. Em sua primeira declaração o novo presidente da Câmara afirmou que não houve uma tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2022, porém a repercussão foi tão negativa que ele rapidamente tratou de amenizar o clima entrando em contato com os ministros do STF-Supremo Tribunal Federal- para se explicar e defender a democracia. O novo coronézinho, assim como o anterior, está totalmente afinado com a Extrema-Direita brasileira e os fascistas não são democratas, apenas usam a democracia.

Chamar o Brasil de ‘República das Bananas’ é injusto, muito embora o país seja um grande produtor dessa fruta, o Brasil é na verdade um ‘Grande Principado’, onde tudo passa pela continuidade de um colonialismo perverso, outrora imposto pelos europeus, mas introjetado e desenvolvido pelas elites colonizadas, que o professor Jessé Souza batizou de Elite do Atraso, no livro com o mesmo nome. Não há dúvidas que é isso, basta olhar a história do país e compará-la com a atualidade para se chegar à mesma conclusão que ele chegou. Uma Elite cuja única missão é preservar a sua posição no topo da cadeia alimentar, como um predador que estraçalha sem dó a quem atravessar à sua frente. A única diferença de um predador natural é que não fazem isso apenas para matar a fome, mas para acumular riquezas e mais riquezas, enquanto o povo padece pelas ruas e pelas favelas, que se multiplicam pelo país. Nesse ‘Grande Principado’ não há lugar para a compaixão ou qualquer tipo de altruísmo, porque com o advento do neofascismo se perdeu completamente qualquer prurido em ser cruel e desumano.

O ex-presidente Bolsonaro ataca de forma virulenta qualquer um que queira ser o representante da Extrema-Direita em 2026 e está apostando todas as suas fichas no projeto de lei complementar (PLP) 141/2023, do deputado federal pelo Partido Liberal do Rio Grande do Sul, Bibo Nunes, que na prática diminui o tempo de inelegibilidade de 8 para 2 anos. Em postagem no X, antigo Twitter, Bolsonaro atacou duramente a Lei, afirmando que ela só serve para perseguir políticos de Direita, mas foi imediatamente corrigido por leitores atentos que contextualizaram corretamente o que aconteceu: “A Lei da Ficha Limpa já foi e é aplicada em políticos esquerda e de direita. Inclusive Lula não pôde disputar 2018 por causa desta lei. Lula só recuperou os dir. políticos devido ao voto de Nunes Marques, indicado por Bolsonaro, que desempatou a favor do atual presidente”. Oportunista e recalcitrante, o ex-presidente tomou mais uma invertida, mas ele continuará sua ladainha enquanto não for parado devidamente. Bolsonaro não está apto a concorrer porque acumula duas penas de inelegibilidade, além de estar indiciado em três inquéritos pela Polícia Federal. Os processos em sua totalidade aguardam o parecer da PGR-Procuradoria Geral da República. Não é pouca coisa, mas no Principado Brazil tudo pode acontecer...

Vinicius Todeschini 12-02-2025

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