Crónicas do Brasil | 14-03-2025 11:07

A Última Etapa do Capitalismo

Vinicius Todeschini

A Teologia da Liberdade ( : ) foi amplamente superada pelo ‘Teologia da Prosperidade’ que, nada mais é que uma forma de manter a ilusão entre os excluídos de ascensão social.

Marx previa a superação do capitalismo e acertou quando disse que o aumento vertiginoso das riquezas de uns poucos provoca um aumento da miséria e do número de miseráveis, fato que ocorre, atualmente, em uma proporção sem precedentes. Há cerca de 50 anos a população da Terra era cerca de 3,5 bilhões de pessoas, porém, agora, já ultrapassamos os 8 bilhões, além disso, não houve evolução da mobilidade social, muito pelo contrário, mas ocorreu o surgimento de novas estratégias capitalistas para cooptar as classes oprimidas, uma alquimia de fundamentalismo religioso, empreendedorismo e meritocracia para, sistematicamente, retirar mais direitos sociais e previdenciários, através de reformas perversas. Políticos populistas com um discurso sobre empreendedorismo e anti esquerda estão se reelegendo, confirmando que a estratégia está dando certo. Pessoas pobres aderiram a um discurso que corrói ainda mais a precária estrutura social onde foram confinados por este sistema.

As ruas das grandes cidades do país estão abarrotadas de motoboys pilotando de forma temerária as suas motocicletas onde a exigência de rapidez nas tele-entregas não leva em conta a integridade do piloto. Motoristas de aplicativos que dirigem 12 horas por dia para sobreviver, muitas vezes em carros alugados, onde o lucro é apenas uma ficção. São jovens, os motoboys e os motoristas de aplicativos, e, certamente, não estão pensando em seu futuro, quando manter este ritmo de trabalho não será mais possível sem graves comprometimentos à sua saúde. A previsão de Marx da aceleração desses processos; o aumento das riquezas na mão dos super-ricos e o aumento da miséria, devastaria o mundo em uma luta de classes. Os donos do mundo, no entanto, estão à frente dos que se opõem a eles, criando novas manobras diversionistas e, através delas, cooptam aqueles que exploram. Dividir para governar e continuar governando é a máxima dos poderosos, ‘mudar para tudo continuar como sempre foi’ é o seu mantra.

Políticos transformaram as prefeituras e os estados em balcão de negócios, como acontece em Porto Alegre, onde o prefeito -o maior responsável pela defasagem e sucateamento do sistema de proteção da cidade- não autoriza a nomeação dos aprovados em concurso público, mesmo havendo uma profunda defasagem de profissionais, segundo a Oposição são mais 446 postos vagos. Ele também não investe em infraestrutura, mas libera cada vez mais áreas para as grandes construtoras, suas financiadoras. O grande problema para a superação do capitalismo acontece justamente pelo fato dos poderosos dominarem todo o sistema e terem em seu poder as armas e os exércitos mais letais do mundo. A cooptação das classes menos privilegiadas pelos donos do mundo se dá, também, pelo enfraquecimento da Esquerda e a sua insistência em tentar impor novas pautas de avanço social sem levar em conta o conservadorismo entranhado no Brasil há séculos, frutos de um cristianismo deturpado por líderes religiosos, que sempre estiveram a serviço dos interesses da classe dominante e dos seus próprios interesses.

A novidade não vem do que está posto, mas ela surge no mesmo ambiente e rompe com aquela estrutura que foi funcional e lucrativa. Os empresários se adaptam rapidamente a novas tecnologias, mas os trabalhadores perdem seus postos de trabalho, seus salários e a sua própria dignidade, porque não são mais necessários. ‘A Teologia da Liberdade’ que se levantou contra isso é da década de sessenta do século passado e, durante algum tempo, manteve a sua perspectiva, ‘a opção preferencial pelos pobres’, mas agora está praticamente exaurida em sua influência, até mesmo entre os pobres, e foi amplamente superada pelo ‘Teologia da Prosperidade’ que, nada mais é que uma forma de manter a ilusão entre os excluídos de ascensão social. Essa teologia prega a superação da miséria através de práticas espirituais. Dentro desta perspectiva, doenças, sofrimentos e misérias seriam causadas pela própria pessoa que sofre, em função da sua falta de fé e de comprometimento com a igreja e seus pastores. No entanto, quando estão doentes esses mesmos pastores vão aos médicos e não a outros pastores para que os curem.

Marx previu outras coisas, além do colapso capitalista, escreveu que no futuro ‘um exército de aflitos’ perambularia nas grandes cidades sem trabalho ou perspectiva -no livro publicado postumamente, ‘Grundrisse Manuscritos Econômicos’- decorrência da exclusão sistemática de várias gerações do mercado de trabalho, substituídos por máquinas cada vez mais sofisticadas. Igrejas evangélicas que surgiram sem parar, como a do ex-umbandista, Edir Macedo, a Universal, se tornaram verdadeiros impérios e atuam em vários países, onde, aliás, são acusadas de falcatruas de todo os tipos. A Igreja de Edir é dona de uma rede gigantesca de comunicação no Brasil, a Rede Record, que concorre no mesmo nível com as outras grandes redes. Incansáveis em pedir dinheiro aos seus seguidores, os pastores dessa igreja e de outras da mesma raiz, não têm qualquer prurido em agir assim, porque foram treinados para isso. Essas igrejas criaram novas possibilidades de doutrinação, que não existiam antes, e o processo de lumpenização da população cresceu em proporções gigantescas, tudo isso aconteceu à vista de vários líderes da Esquerda que, no mínimo, subestimaram o fato, mas agora o inimigo já avançou e está identificado.

Vinicius Todeschini 12-03-2025

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