‘Quase ninguém compareceu ao enterro da tua última quimera’
Na onda reacionária que varreu o país, os brasileiros elegeram o pior Congresso da história: ‘O Congresso do Atraso’, a quem Bolsonaro entregou o Orçamento Secreto, a oficialização da corrupção ativa no país.
Perdoe-me poeta Augusto dos Anjos pela torção do seu verso, que usei como título para ilustrar mais um capítulo patético da Extrema-Direita brasileira, bancada por figuras bizarras, mas altamente perigosas e povoadas por más intenções, todas elas escrotas e homicidas. Não há o que perdoar nos atos da tentativa fracassada de golpe de Estado feita por Bolsonaro e o seu grupo, é preciso se entender que existem muitos homens e mulheres eleitos pelo voto popular que estão atrelados a ideia-mor de ditadura permanente para o país, tanto no Congresso Nacional, quanto nas Câmaras estaduais e municipais e em cargos executivos. Traem a Constituição como quem troca de marca de uísque, sem nenhum compromisso com nada, a não ser os seus próprios interesses, se servem da democracia, que tolerou a sua ascensão através de uma produção industrial de fake news, mas querem acabar com ela porque assim poderão levar adiante com mais facilidade os seus projetos neoliberais, onde estão excluídos quaisquer resquícios de justiça social. Transformam o país em um canteiro de obras de construtoras de prédios, as suas financiadoras, gentrificam os bairros para transformá-los em redutos de uma burguesia que nada tem a ver com aquele lugar, sem criar novas infraestruturas que as suportem. Não se preocupam com qualquer equilíbrio ambiental, o objetivo é somente ganhar muito dinheiro.
A ideia anunciada era reunir mais de 1 milhão de pessoas no dia 16 de abril em Copacabana, Rio de Janeiro, mas, segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP, foram 18 mil pessoas e 30 mil segundo o Datafolha. Bolsonaro superestima o potencial das suas mentiras continuarem surtindo efeito na população que, embora, seja conservadora por séculos de colonialismo e neocolonialismo (por conta das elites) e pregação religiosa incessante feita por curas, pastores e afins, que resultou na introjeção da dialética de senhor-escravo, assim mesmo o povo começa a perceber que ali está um sujeito destituído de qualquer interesse público ou empatia. Ele e seu grupo pregam uma volta à Idade Média em termos de valores e convivência e a subversão da Constituição. Querem mais que chegar ao Poder, desejam se perpetuar no topo da pirâmide para continuarem se locupletando como fizeram nos 4 anos que governaram. Na onda reacionária que varreu o país, os brasileiros elegeram o pior Congresso da história: ‘O Congresso do Atraso’, a quem Bolsonaro entregou o Orçamento Secreto, a oficialização da corrupção ativa no país e só agora, por iniciativa do ministro do STF, Flávio Dino, se conseguiu estancar a sangria. O Superior Tribunal Federal e Lula são os principais alvos dos bolsonaristas, justamente por defenderam a democracia.
A Grande Mídia não deu nenhum destaque ao fracasso da manifestação bolsonarista, cujo objetivo é desconstruir as estruturas que mitigam a tragédia social brasileira. São incansáveis em criticar Lula e o seu governo, ora amenizando seus feitos, ora criticando severamente qualquer movimento em defesa dos desfavorecidos pelo neoliberalismo excludente. O Brasil, onde 1% da população ‘dá as cartas e joga de mão’, parece embretado nas mãos das suas elites, representantes atuais do colonialismo mais cruel, que chocou Charles Darwin em sua passagem pelo Rio de Janeiro. A democracia baseada na Constituição de 1988, que garante direitos sociais e proteção aos desfavorecidos, onde o SUS e a Previdência se destacam, são seus principais alvos, querem diminuí-las ao ponto que não façam mais nenhuma diferença, para que novas formas de escravidão sejam introduzidas e o povo as aceite passivamente. Falam em liberdade, mas o que desejam mesmo é a liberdade de fazer escravos. O povo precisa romper com essa dialética, só assim poderá virar o jogo, ou como disse a abolicionista americana, Harriet Tubman: “Libertei mil escravos. Podia ter libertado outros mil se eles soubessem que eram escravos”.
O plano federal para a Segurança Pública do governo federal é um exemplo da resistência dos bolsonaristas a um combate mais eficiente ao crime organizado, principalmente. O escopo é integrar os entes federados e conferir status constitucional ao Sistema Único de Segurança Pública (Susp), como existe no Sistema Único de Saúde (SUS) e no Sistema Nacional de Educação (SNE). O plano federal de Segurança Pública é necessário para o país, mas esbarra, justamente, nos governadores bolsonaristas que desejam manter a sua política de atirar primeiro e perguntar depois. A Polícia Militar de São Paulo, a mais letal do país, do governador Tarcísio de Freitas, virtual candidato à presidência em 2026, e a goiana do governador Ronaldo Caiado, outro candidato ao mesmo cargo, querem continuar assim por vontade dos seus governadores, que enxergam nisso uma prerrogativa favorável ao governo federal nas próximas eleições, porque a União passaria a ser responsável pelas diretrizes gerais da política de segurança e defesa social, incluindo o sistema penitenciário, e, naturalmente, os resultados disso capitalizariam a candidatura de Lula à reeleição. A ideia de padronizar, criando uma linguagem única para todos os protocolos, por exemplo, facilitaria enormemente os processos e a eficiência do sistema em todos os entes federativos, porém isso não parece interessar quem anda na linha tênue entre o legal e o ilegal nesse país.
Vinicius Todeschini 22-03-2025