Crónicas do Brasil | 29-03-2025 14:38

Marcha Fúnebre para Bolsonaro

Vinicius Todeschini

Leão de palácio e de cercadinhos, Bolsonaro já demonstrou muitas vezes que, além de pavio curto, é um homem pusilânime. Ele depende da proteção das suas tropas, no caso os fanáticos que o seguem como ele fosse o messias que, aliás, carrega no nome, Jair Messias Bolsonaro, para demonstrar valentia.

A denúncia foi aceita, Bolsonaro e mais sete golpistas se tornaram réus, entre eles 5 militares e 2 delegados da Polícia Federal. Não é pouca coisa, considerando que o Brasil tem um histórico comprovado de resolver seus conflitos com anistias e concessões, tanto para os algozes, quanto para os que foram perseguidos, como se não fossem pares antípodas do conflito, por isso o país se tornou um uma grande viveiro para a gestação de fascistas, principalmente dentro das Forças Armadas e das polícias. Bolsonaro até tentou não ser Bolsonaro e compareceu no primeiro dia ao STF-Superior Tribunal Federal, mas no outro dia, quando a denúncia foi aceita, o rei das fake news se tornou refém de uma, a de que receberia uma tornozeleira eletrônica, caso comparecesse ao STF. A sua fiel guia de cabeceira, a paranoia, fez com que preferisse assistir o julgamento do gabinete do filho mais velho e senador da República, Flávio Bolsonaro.

O senador Flávio Bolsonaro se tornou muito conhecido pelas acusações de rachadinhas, prática onde os políticos exigem a devolução de parte do salário dos seus assistentes e assessores, como contrapartida aos cargos que ocupam em seus gabinetes. O senador também se destacou pelo enriquecimento desproporcional do seu patrimônio, feito em tempo recorde. A famiglia Bolsonaro, dos 107 imóveis registrados pelo clã, 51 foram adquiridos, total ou parcialmente, com dinheiro vivo. O patrimônio de Flávio cresceu 397,1% entre 2006 e 2018, período em exerceu três dos seus quatro mandatos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e o faturamento absurdo da sua franquia, uma loja de chocolates no Barra Shopping, chamou a atenção do Ministério Público. Há também a compra de uma mansão em Brasília, avaliada em R$ 5,97 milhões e quitada de forma antecipada. Como se percebe, Flávio Bolsonaro como senador é um grande negociante. Fabrício Queiroz, ex-policial e ex-assessor, era o operador do esquema de rachadinhas.

O trompetista, Fabiano Leitão, tocou a Marcha Fúnebre, com as devidas vênias de Chopin, e também um jingle que ficou conhecido na campanha de 2022, "Tá na hora de o Jair já ir embora, enquanto Bolsonaro fazia uma longa declaração, logo depois de ter sido declarado réu pelo STF. Durante a explanação, o ex-presidente voltou a ser o velho fascista de sempre: irascível, delirante e mitônomo. Durante o tempo que falou, desfiou um rosário de lágrimas sobre uma suposta perseguição pessoal a ele e enalteceu feitos do seu governo que nunca aconteceram. Em sua fala improvisada e muitas vezes desconexa, ele esteve a ponto de explodir várias vezes, mas conseguiu se conter, mesmo que o excessivo rubor facial denunciasse o nível da sua pressão sanguínea e os píncaros da angústia que lhe perpassava, tentou até rir do músico para disfarçar, mas pode ter criado provas contra si, segundo alguns observadores.

Leão de palácio e de cercadinhos, Bolsonaro já demonstrou muitas vezes que, além de pavio curto, é um homem pusilânime. Ele depende da proteção das suas tropas, no caso os fanáticos que o seguem como ele fosse o messias que, aliás, carrega no nome, Jair Messias Bolsonaro, para demonstrar valentia. Pregando uma anistia para os condenados de 8 de janeiro de 2023 em interesse próprio, porque tem medo de ser preso e aos 70 anos não existem penas leves, o que ele realmente teme é o sepultamento da sua carreira política e o afastamento definitivo do Poder. O seu sonho era ser como Trump é nos EUA, um criminoso que escapou da Justiça do seu país e se tornou mais uma vez presidente. Bolsonaro, mesmo nas cordas, é incansável na reprodução do mesmo discurso.

O ministro Luiz Fux é o único ministro que destoa da tendência preponderante da Primeira Turma, assim mesmo votou com o relator, Alexandre de Moraes, mas fez uma ressalva sobre a dosimetria das penas citando o caso de Débora Rodrigues, a mulher que pichou a estátua, “A Justiça”, com a frase, “perdeu, mané”. Era uma resposta ao ministro Luís Roberto Barroso que disse essa frase ao ser hostilizado por bolsonaristas em Nova York. Ela recentemente pediu desculpas ao ministro Alexandre: "Eu nunca mais me envolverei em nada que seja relacionado a política ou manifestações. Isso me deixou traumatizada e não me representa. Não é o que eu sou”. No entanto, os votos de Alexandre de Moraes e de Flávio Dino, têm cinco acusações: deterioração de patrimônio tombado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado com violência e associação criminosa armada.

O ministro Luiz Fux interrompeu o julgamento da ré ao ‘pedir vistas’ e argumentou, durante a sua explanação onde votou a favor da denúncia, que irá se aprofundar no caso da cabeleireira Débora. ‘Lavajatista’ juramentado, Fux ficou famoso pelo episódio de divulgação de conversas dos procuradores de Curitiba, no aplicativo Telegram. Na conversa entre os procuradores e o ex-juiz, Sergio Moro, Deltan Dallagnol afirma que conversou com Fux em Brasília e que ele teria respondido que poderiam contar com ele, ao que Moro exultante respondeu: “Excelente. In Fux we trust”. Bolsonaro aproveitou a fala de Fux para usar Débora como vítima e se incluir. A insistência na anistia por Bolsonaro faz sentido, porque, pela Constituição, tentativa de golpe de Estado não está na lista de crimes que não podem ser anistiados. A ministra Cármen Lúcia é que foi certeira: “O golpe não teve êxito, senão não estaríamos aqui".

Vinicius Todeschini 28-03-2025

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