Sem anistia e sem multidão
O projeto neofascista brasileiro está articulado ao modelo proposto pela Extrema-Direita mundial, onde Trump aparece como líder máximo, mas apenas como referência simbólica, porque ele não tem conteúdo, muito menos profundidade, para criar discursos que hipnotizem multidões, mas mesmo que essas multidões sejam mais cooptadas atualmente por formas difusas e fragmentadas, o carisma ainda é essencial. Os líderes do neofascismo não reúnem mais multidões como nos tempos de Mussolini e Hitler, hoje em dia as redes sociais são as ferramentas mais preciosas.
A manifestação neofascista a favor da Anistia, na Avenida Paulista, cidade de São Paulo e capital do estado mais rico e mais populoso do país, tentava dar uma resposta ao fiasco da manifestação anterior, feita em Copacabana, Rio de Janeiro, mas o resultado foi mais uma vez decepcionante, porque foram apenas 44,9 mil manifestantes, dados Apurados pela metodologia do Monitor Político do Cebrap, parceria com a ONG, More in Common, que se utiliza de imagens capturadas por drones sobre a multidão e analisadas por softwares de IA-Inteligência Artificial. O resultado alcançado no auge da manifestação, às 15h44, confirma mais uma vez que a capacidade de mobilização das tropas neofascistas está em franca decadência, mesmo com as pesquisas usadas pela grande Mídia contra o governo Lula e, principalmente, contra a reeleição do atual presidente. Pesquisas apontam resultados a partir de perguntas dirigidas ao público, aí que se pode criar formas tendenciosas de condução, por isso muitas vezes acabam sendo mais utilizadas para isso do que para apontar reflexos sobre o que a população realmente pensa. No caso brasileiro isso é muito evidente, basta entender que no Brasil as elites criaram o neocolonialismo, baseados nos mesmos métodos de exploração dos colonizadores do país, apenas adaptados aos novos tempos.
A luta de Bolsonaro e do seu grupo de apoio mais próximo é em causa própria e apoiada pelas elites, mas somente porque não existe uma alternativa a Bolsonaro à Direita, porque todos os outros candidatos a candidato seriam derrotados mais facilmente por Lula, do que o ex-presidente. No entanto, o povo brasileiro, mesmo catequizado através dos séculos pelos curas, principalmente, e também por pastores, presbíteros e afins, conserva em seu íntimo uma revolta contra ‘os senhores da terra’. Todo brasileiro, com raras exceções, traz em si esse atavismo gravado em seu DNA, porque somos mestiços, por isso não é à toa que as regiões onde o neofascismo consegue mais afirmação ideológica é justamente onde os descendentes europeus mais fechados e racistas predominam. O racismo está intrínseco nesses grupos e a mistura de raças combatida abertamente. O sul do país concentra a maioria dos que pensam e agem assim, como se estivessem em outro país, uma espécie de Nova Europa, como se a Europa também não tivesse passado em tempos remotos pelos mesmo processo de mistura de raças. O povo brasileiro demonstra ao ser, em sua maioria, contra a Anistia, apregoada como solução para pacificar o país pelos bolsonaristas, que essa revolta existe e se não é manifesta em sua plenitude permanece latente e aparece, de alguma forma, em momentos cruciais do país.
O projeto neofascista brasileiro está articulado ao modelo proposto pela Extrema-Direita mundial, onde Trump aparece como líder máximo, mas apenas como referência simbólica, porque ele não tem conteúdo, muito menos profundidade, para criar discursos que hipnotizem multidões, mas mesmo que essas multidões sejam mais cooptadas atualmente por formas difusas e fragmentadas, o carisma ainda é essencial. Os líderes do neofascismo não reúnem mais multidões como nos tempos de Mussolini e Hitler, hoje em dia as redes sociais são as ferramentas mais preciosas para eles e dali disparam, incansavelmente, artilharia pesada de fake news em escala industrial. Empresários empoderados pelo neoliberalismo apoiam esses líderes, porque sabem que o ultra neoliberalismo que querem implantar precisa destruir a democracia, porque, mesmo que ela não tenha sido capaz de solucionar os desafios sociais contemporâneos, ainda é o baluarte da sustentação do Estado de Direito, onde existem leis e regras que, mesmo os poderosos não estão acima, muito embora privilegiados e mais difíceis de serem atingidos.
O Estado de Bem-Estar Social -a Era de Ouro da Social-Democracia- aos poucos deu lugar a governos que foram sucateando o serviço público de qualidade para entregá-los de mão beijada aos empresários, sempre ávidos para explorar e ganhar mais dinheiro. O Rio Grande do Sul, através do seu ambicioso governador, Eduardo Leite, cujo sonho maior é chegar à presidência da República, é um exemplo perfeito de como isso acontece. Ele conseguiu desarticular um Código Ambiental duramente estruturado através décadas de trabalho, cujo proteção ambiental colocava o estado sulista na vanguarda do seu tempo, cortando ou alterando cerca quase 500 regras desse Código, e a ironia disso tudo é estampada em uma nova prerrogativa criada, aquela que torna o empresário capaz de liberar o próprio projeto através de uma simples declaração do interessado de que não haverá danos ambientais em suas obras e construções. O resultado é um retrocesso absurdo e perigoso, porque em tempos de mudanças climáticas radicais, deveria ser, justamente, o contrário; regramentos cada vez mais específicos e rigorosos, porque o planeta, há muito tempo, dá mostras do seu esgotamento pela intervenção humana. Pessoas como Eduardo Leite podem ser até mais letais que Bolsonaro, porque são mais articuladas e agem dentro das regras para desmontá-las e em seguida criar outras e, através delas, estruturar todas as condições para o desastre final, aquele que nos colocará diante do fim dos tempos por danos a irreversíveis à Nave Mãe.
Vinicius Todeschini 07-04-2025