Crónicas do Brasil | 03-05-2025 22:52

O declínio das conquistas civilizatórias

Vinicius Todeschini

O governador de São Paulo é o preferido dos grandes empresários e sua política de ‘atirar, matar e perguntar depois’, implementada na Segurança Pública de São Paulo, é aplaudida por esse segmento e, também, por “empreendedores” que acreditaram na lorota de que todos podem ficar ricos, seguidores fiéis do ‘God Money’, que nem se pode mais chamar de vil metal, porque se ‘des-consubstanciou’ em algo intangível e digital.

A canção criada por Raul Seixas em uma época remota (anos 70), ‘As aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor, tem a seguinte estrofe: “A civilização se tornou complicada/Que ficou tão frágil como um computador/Que se uma criança descobrir/O calcanhar de Aquiles/Com um só palito para o motor”. Parece que a afirmação acertou em cheio, muito embora, Raul, que morreu no início da década de 90, não tenha presenciado a grande explosão tecnológica iniciada a partir do desenvolvimento da Internet. A Era da Informação, não deveria ser chamada assim, seria mais adequado que fosse a Era da Desinformação, porque o bombardeio a que as pessoas estão expostas nas redes sociais e nos sites, divulgadores de informações, torna cada vez mais complicado a verificação de cada item. Os próprios sites oficiais das Big Techs são capazes de divulgar fake news e nas redes sociais existe uma velocidade sem precedentes para fazer as informações circularem, disparadas por robôs ou por militantes do caos e da discórdia.

Não há tréguas, nem remorso, por isso só se pode esperar de pessoas como, Allan dos Santos, youtuber e blogueiro, um militante das piores causas, um extremista de Extrema-Direita, foragido da Justiça brasileira que vive nos EUA, desde que Alexandre de Moraes decretou a sua prisão, em 5 de outubro de 2021, coisas ainda piores, porque é a sua profissão é lucrar com a confusão. Existe um pedido de extradição feito pelo STF, em 2023, mas as leis americanas e os tratados vigentes entre os dois países não incluem os tipos de crimes que ele praticou, assim segue livre para continuar a sua saga, onde os fatos não interessam, somente as versões. Quando a Extrema-Direita critica alguma coisa de forma pertinente, ela mesma acaba por destruir a força dos seus argumentos, porque em todos os casos a má-intenção se revela e assim, quando critica o Serviço Público, por exemplo, que realmente tem vícios e falhas, não apresenta nenhum projeto para resolver o que reprova, porque o escopo é acabar com o Serviço Público de qualidade. Não investir para sucatear para, finalmente, entregar de 'mão beijada’ aos empresários, que são, simplesmente, negociantes, desprovidos de qualquer espírito público para servir a população, eis o método. É uma estratégia predatória, que trata cidades, apenas, como negócios e pessoas como clientes.

O mundo em que vivemos está mercê de um ‘sistema’, onde hackers, com alta capacidade técnica e desprovidos de qualquer senso moral e ético, podem desestabilizá-lo a qualquer momento, seja para ganhar dinheiro ou apenas para mostrar a sua capacidade, um ‘sistema’ que está sujeito a bugs, além de outros defeitos comuns que as máquinas costumam apresentar, porque máquinas estragam a qualquer momento. Espanha e em Portugal ainda enfrentam as consequências disso, um ‘Apagão’ que deixou cidades inteiras paralisadas, criando pânico e confirmando ‘a sensação de insegurança’ como um estado permanente para a vida atual. O declínio dos valores civilizatórios já vem de algum tempo, se pode eleger os anos 80 para isso, com a ascensão de Ronald Reagan e Margareth Thatcher, nos EUA e na Inglaterra e a implantação do neoliberalismo, com os processos de globalização e precarização do trabalho. O fim do estado de bem-estar social, iniciado ao final da Segunda Guerra Mundial, acabou há tempos e, mesmo nele, havia avanços a serem feitos, mas, hoje, isso seria como fazer uma cirurgia plástica em um cadáver.

Aqui no Brasil, Bolsonaro aproveita da sua estadia no hospital para atacar a política brasileira e o STF e assim manter seus apoiadores engajados, porém, ele corre sério risco de ser substituído por um monstro que ele mesmo criou, Tarcísio de Freitas. O governador de São Paulo é o preferido dos grandes empresários e sua política de ‘atirar, matar e perguntar depois’, implementada na Segurança Pública de São Paulo, é aplaudida por esse segmento e, também, por “empreendedores” que acreditaram na lorota de que todos podem ficar ricos, seguidores fiéis do ‘God Money’, que nem se pode mais chamar de vil metal, porque se ‘des-consubstanciou’ em algo intangível e digital. Existem pesquisas que dão empate técnico entre Lula e Tarcísio no segundo turno da eleição presidencial, parece que o monstro criado por Bolsonaro pode devorá-lo e rei morto é rei posto. O atual governador de São Paulo se aproxima muito mais do perfil preferido pelos donos das grandes corporações empresariais, bancárias e da Grande Mídia.

Com Benjamin Netanyahu se mantendo no governo através da guerra sistemática e genocida contra os palestinos e a ameaça de um ataque total ao Irã, com o novo acordo de Trump com Zelensky, que lhe dará acesso aos depósitos minerais de alto valor estratégico da Ucrânia, extremamente cobiçados por Moscou, em troca de proteção ao país, porque, afinal, não há como resistir à Rússia, indefinidamente, sem ajuda norte-americana, o mundo caminha à beira do abismo e sem nenhuma garantia que não haverá ainda mais conflitos, que, fatalmente, esboroarão as bordas do precipício. Viver em um mundo assim e ver o 1º de maio parecer mais uma data fúnebre do que uma comemoração dos trabalhadores por conquistas feitas, só confirma o mundo hostil em que vivemos. Sem perspectiva de melhora a curto e médio prazo estamos remediados a só ter esperança, porque foi o que ficou dentro da Caixa de Pandora.

Vinicius Todeschini 30-04-2025

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