Tarifando...
Os EUA é uma amálgama de regiões díspares em formação, desenvolvimento e atraso, mas mesmo assim Trump e seus acólitos insistem em achar que isso é o modelo ideal para o mundo e estão promovendo a extração de petróleo e carvão mineral e a produção industrial em larga escala nos moldes tradicionais, condenada há muito tempo pelos ambientalistas.
Donald Trump decidiu tarifar os filmes que não são feitos nos EUA em 100%, uma medida que, apenas, confirma a sua total desvinculação da realidade, porém, ele ocupa o cargo de presidente da nação com maior poder militar do planeta... Trump vive em seu próprio mundo, onde tudo deve ser como ele determina, em seu delírio messiânico de Poder e de supremacia norte-americana. O cinema americano, assim como os seus automóveis, não tem mais a importância de outrora e no caso dos automóveis, eles já foram superados e, até mesmo humilhados, pela concorrência; alemã, japonesa, sul-coreana e chinesa, entre outras. O retrocesso da sua política começa a atingir o seu próprio país e muitos que votaram nele, cooptados pelo seu delírio de grandeza, começam a ficar preocupados. Isso confirma que, por menor que pareça a importância de um voto individual, ele é decisivo e capaz de levar nações inteiras ao cadafalso da sua própria alucinação, porque o mundo cria muito mais ruínas do que edifica algo bom, mas mesmo nos piores pesadelos que tivemos; Trump, Netanyahu, Bukele e Bolsonaro não existiam.
Os neoliberais criaram a própria forca somente para ganhar mais dinheiro, a globalização é um exemplo. Em sua ganância compulsiva e insaciável acabaram afastando as empresas do seu próprio país e espalhando a produção pelo mundo, para explorar a mão de obra mais barata e não pagar os trabalhadores da sua terra, mais bem remunerados e sindicalizados, o que lhes garantia uma vida digna. O puritanismo, as perversões e a hipocrisia para sustentar estas estruturas, por si mesmo excludentes, criaram um país cheio de distorções e desigualdades, os EUA. Fast-food, Ku Klus Klan, obesidade mórbida, seriais killers, viagens à Lua, muito bacon com ovos, colesterol nas nuvens, armas liberadas e corrida armamentista, mas, apesar disso, o povo negro oprimido pela supremacia branca criou o jazz, o blues, o rock roll, entre tantas manifestações genuínas da mais pura arte. Muddy Waters estava pintando as paredes do estúdio onde costuma gravar, quando já era uma lenda para muitos músicos ingleses. Foi assim que os Rolling Stones o encontraram pela primeira vez. Elvis Presley sempre entoou loas a Chuck Berry, para ele o verdadeiro rei do rock, a B.B. King e a tantos outros que lhe presentearam a música responsável pela sua fama e riqueza. Os EUA jamais foi o país que tanto divulgam certos brasileiros recolonizados.
No Brasil, a bandeira verde-amarela se transformou em um símbolo do neofascismo e agora a divisão no país, que tem a maior extensão territorial da América do Sul, está classificada. Algumas pessoas colocam a bandeira na janela das suas casas e apartamentos e mesmo que sejam minoritários, podem ser extremamente agressivos e demonstrar total intolerância diante de fatos que desconstruam as suas crenças. Não há indícios que isso irá se alterar tão cedo, mesmo que isso crie mais violência e mais doenças (pela atitude negacionista). Quando se retrocede ao início do século XX, a gênese dos processos que levaram ao surgimento do fascismo e do nazismo, se percebe que a nova safra de fascistas (porque são muitas gerações envolvidas) foi gestada em uma incubadora transparente, subestimada em seu potencial virulento. O neofascismo é um bebê de proveta produzido artificialmente, mas em cima de um substrato humano, com pai, mãe, tios e avós. A dificuldade humana em aceitar a própria condição de impermanência e de finitude, somadas às promessas das religiões, mantiveram em fogo brando o conflito humano, em tempos de paz, mas em tempos de discórdia, como o que vivemos, ventos de contrariedade e intolerância atiçaram esse fogo selvagem e as suas chamas estão devorando os valores civilizatórios.
Trump traz ao mundo uma política agressiva que visa revirar o que está posto que, aliás, foi construído pelo modelo que os norte-americanos sempre preconizaram, o liberalismo, que avançou para neoliberalismo e agora alcançou outro patamar, o ultra neoliberalismo, um upgrade em destruição. O mandatário dos EUA é um sujeito que despreza a ciência, os imigrantes, as artes, as diferenças entre culturas, algumas muito mais antigas e consistentes que a do seu país. Ele tem complexo de Deus! Os EUA é uma amálgama de regiões díspares em formação, desenvolvimento e atraso, mas mesmo assim Trump e seus acólitos insistem em achar que isso é o modelo ideal para o mundo e estão promovendo a extração de petróleo e carvão mineral e a produção industrial em larga escala nos moldes tradicionais, condenada há muito tempo pelos ambientalistas. O planeta exaurido por revoluções industriais sucessivas, que destruíram boa parte do meio-ambiente, onde a crise climática confirma que ‘o desastre final’ não é só uma ficção, precisa mudar a direção. Não há opções, a única nave que dispomos para viajar pelo Universo é a Terra, mas quando mais precisamos de uma mudança, o revés de mais um retrocesso surge, na forma de uma velha novidade ainda mais destrutiva, e todos que pensam a respeito se perguntam; existirá alguma saída ou é só o fim? The answer is blowin' in the wind (Bob Dylan).
Vinicius Todeschini 07-05-2025