Crónicas do Brasil | 17-05-2025 23:41

Privilégios + Impunidade = Brasil

Vinicius Todeschini

O Brasil é uma espécie de monarquia com ares republicanos, onde quem ascende aos círculos mais estreitos do Poder recebe ganhos, privilégios e proteção dignas de um sistema monárquico em seu período áureo. Quando algum poderoso é preso, depois de inúmeros recursos dos seus advogados, ainda assim ele consegue preservar os seus ganhos e cumprir a pena em suas mansões, cercado de confortos e de empregados para servi-los.

O Brasil é uma espécie de monarquia com ares republicanos, onde quem ascende aos círculos mais estreitos do Poder recebe ganhos, privilégios e proteção dignas de um sistema monárquico em seu período áureo. Quando algum poderoso é preso, depois de inúmeros recursos dos seus advogados, ainda assim ele consegue preservar os seus ganhos e cumprir a pena em suas mansões, cercado de confortos e de empregados para servi-los. Assim foi com o juiz Lalau, Nicolau dos Santos Neto, que, entre 1994 e 1998, roubou dinheiro público destinados à construção do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª região (TRT-2). Ele foi condenado, mas cumpriu a pena em prisão domiciliar e manteve os seus privilégios e ganhos, apesar de ter roubado cerca de 170 milhões, valores da época, cerca de 1 bilhão em valores atuais. Agora acontece algo parecido com o ex-presidente Fernando Collor, que foi condenado a 8 anos e 10 meses de prisão por corrupção e outros crimes, mas também já foi liberado para cumprir a pena em regime domiciliar. Collor, quando presidente da República, se notabilizou por confiscar a poupança de milhões de brasileiros, levando muitos ao suicídio e por ter montado um esquema de corrupção que levou ao seu impeachment.

O ex-deputado federal Roberto Jefferson que, além de condenações por ataques ao Estado Democrático de Direito, atacou a Polícia Federal com granadas e tiros de fuzil, resultando em ferimentos a dois agentes, também receberá o mesmo privilégio, no entanto, a Justiça Brasileira se nega a liberar alguém que roube para matar a sua fome e a dos seus filhos. Assim funciona esta estrutura perversa que rege a sociedade brasileira e mantém o país na lista dos mais injustos do mundo em todos os aspectos. A deputada federal, Carla Zambelli, foi condenada pela Primeira Turma do STF-Supremo Tribunal Federal a 10 anos de prisão e a perda do mandato parlamentar. Ela se elegeu através das fake news que inundaram o país e foi condenada pela invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça, além de inserção de documentos falsos, Carla Zambelli contratou o hacker, Walter Delgatti Neto, para invadir os sistemas públicos e, também, foi filmada perseguindo com uma arma em punho, em plena luz do dia, um cidadão que a criticou. Para evitar a prisão já declarou que os seus médicos são unânimes em afirmar que ela não sobreviveria na cadeia. A ironia disso é: no Brasil se paga com clemência a quem sempre usou de crueldade

A estratégia da Extrema-Direita é sempre a mesma, criar soluções definitivas para os problemas de uma época, projetando em um inimigo inventando todos os males e assim chegar ao Poder. Todos os atos discricionários que praticará contra quem resista aos seus ditames estarão, de antemão, justificados. Assim como Hitler escolheu os judeus em sua época e Trump escolhe os imigrantes agora, não há, portanto, nenhuma mudança de roteiro, mudam apenas os atores e o cenário, porque tudo está justificado pela mitologia criada e repetida, insidiosamente, até se transformar em um fato para quem não reflete sobre a realidade. Na Ditadura Militar, mantida pelas Forças Armadas por 21 anos, o próprio desgaste dos governos sucessivos e incapazes de solucionarem os problemas da sua época, fez com que resolvessem devolver a sociedade civil o comando do país, mas para alguns ficou uma nostalgia daqueles tempos sombrios, onde se podia prender, torturar e matar quem se opusesse aos desvarios autoritários dos poderosos. Bolsonaro lidera esta camada de pessoas que não se cansa de exaltar esse período, como se tivesse sido um Era de Ouro, quando não passou de uma Era de Chumbo, onde se torturou e matou sem ter que pagar por isso e onde criminosos, como o coronel Brilhante Ustra, eram enaltecidos como heróis.

O atual Congresso brasileiro, mais conhecido como ‘Congresso do Atraso’, pretende agora subir de status nesta sua vertiginosa queda para o alto e poderá se tornar o ‘Congresso do Retrocesso’, porque, para livrar a camarilha de Bolsonaro que tentou um Golpe de Estado, está tentando eliminar do Código Penal o status de crime para essa ação. São três projetos de lei que estão esperando que a Mesa Diretora da Casa defina sua tramitação. A Câmara Federal também aprovou o aumento do número de deputados, de 513 para 531, para as eleições de 2026. O projeto aprovado é de autoria do deputado federal pela Paraíba, Damião Feliciano, do partido União Brasil. A alegação é o aumento populacional, mas o Supremo Tribunal Federal – STF, já tinha determinado que o número se mantivesse em 513, baseado no Censo Demográfico de 2022. Não há como se enganar com esse Congresso, ele é extremamente fisiológico e letal como um vírus, que não se importa de matar o hospedeiro, mesmo que morra junto com ele, porque sabe que a sua linhagem permanecerá e encontrará outro hospedeiro para seguir viralizando.

A grande obra dos poderosos, não só no Brasil, é manter a maioria das pessoas no cativeiro da ignorância política, é assim que pessoas tão desqualificadas como Bolsonaro, seu clã e seguidores se mantêm ativos e vivendo às custas do povo. Um povo que vota em que lhes retira direitos conquistados através da luta de inúmeras gerações, sem sequer reagir a isso, um povo que acredita que esses homens sejam superiores e por isso devem ter os destinos de milhões de pessoas em suas mãos. O absurdo disso é inacreditável, mas simplesmente é real, porque acontece diante dos nossos sentidos, como se a própria realidade debochasse da nossa razão e bom senso. Este é o pior legado que um povo pode deixar aos que vierem depois, um legado de ignorância e covardia diante do seu próprio destino.

Vinicius Todeschini 16-05-2025

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