Crónicas do Brasil | 25-05-2025 09:08

A decadência de Porto Alegre

Vinicius Todeschini

A muy valorosa cidade Porto Alegre (“Muy Leal e Valerosa”, título outorgado à cidade por Dom Pedro II (pela resistência da cidade a três cercos dos farrapos), já foi reconhecida pelo nível de educação, cultura e politização do seu povo, mas hoje, infelizmente, isso se perdeu. O que realmente predomina, hoje em dia, é um alto nível de hostilidade entre as pessoas, onde o etarismo, que se acentua cada vez mais no país, se destaca ( : ) Pelas ruas da cidade o que se vê e uma combinação de abandono e falta de fiscalização, calçadas aos pedaços, prédios abandonados (esperando uma proposta das construtoras), moradores de ruas aglomerados em praças, nos coretos e em todos os cantos da cidade.

Porto Alegre é a capital do estado do Rio Grande do Sul, o estado mais meridional do Brasil e culturas e costumes por aqui são bem diferentes do resto do país. A cidade foi formada, oficialmente, a partir da chegada de famílias proveniente dos Açores, arquipélago português. Cerca de 60 famílias foram dirigidas para cá, atravessando o oceano Atlântico para se estabelecer na atual capital do estado. Muito antes disso a região era habitada por outros povos: guaranis, charruas, minuanos e tapes caminharam nestas terras. Pelo Tratado de Tordesilhas de 1494, o Rio Grande do Sul pertencia a Espanha, mas como havia pouco interesse dos “donos” e nenhuma fiscalização efetiva, desbravadores, principalmente, portugueses, avançaram por essa terras. Os 300 açorianos chegaram por aqui em janeiro de 1752.

O naturalista francês, Auguste de Saint-Hilaire deixou escritos que fazem uma viva descrição do que era a cidade em 1820, quando passou por aqui. Em alguns trechos dos seus relatos se pode ler descrições que nos remetem àquela época: ‘o aspecto agradável do clima (não deveria ser verão quando ele chegou, que são tórridos e úmidos por aqui), o intenso movimento da urbe com seu variado comércio, os belos sobrados, a pouca população de negros, a pobreza dos edifícios públicos, a sujeira das ruas que lhe causou ojeriza (isso infelizmente não mudou muito), um sistema judiciário ineficaz e a confusão administrativa e social em função das arbitrariedades cometidas por autoridades contra a população civil, através dos abusos de poder e do usos da violência (nesse quesito só a forma de cometimentos mudou)’.

A muy valorosa cidade Porto Alegre (“Muy Leal e Valerosa”, título outorgado à cidade por Dom Pedro II (pela resistência da cidade a três cercos dos farrapos), já foi reconhecida pelo nível de educação, cultura e politização do seu povo, mas hoje, infelizmente, isso se perdeu. O que realmente predomina, hoje em dia, é um alto nível de hostilidade entre as pessoas, onde o etarismo, que se acentua cada vez mais no país, se destaca. O etarismo ou idadismo é estrutural, assim como o racismo e apareceu com mais força nos últimos 40 anos, fruto da combinação do envelhecimento da população e da educação extremamente permissiva dada aos jovens. As inúmeras casas de repouso surgidas nas últimas décadas são indicativos dos que os velhos representam para a sociedade brasileira e, a sua sabedoria e conhecimento, parecem não ter nenhum valor para os nativos digitais e, mesmo que sejam analógicos como os mais velhos, não se reconhecem assim. Não existe até agora nenhuma providência dos poderes constituídos sobre isso, além de descontos, lugares especiais nas filas e o título de “melhor idade”, o que só reforça o estigma.


Não há interesse em fazer nada que não redunde em ganhos e mitos, como empreendedorismo e terceirização, (costumam chamar de parceirização) são manipulados pela Grande Mídia para destacar somente os que funcionaram, porque a maioria acaba em falência total e perda do patrimônio que antes existia. As únicas “profissões” que não param de crescer em números são: corretores de imóveis , motoristas de aplicativos e motoboys. Triste cidade, mas que já foi Porto Alegre.


Pelas ruas da cidade o que se vê e uma combinação de abandono e falta de fiscalização, calçadas aos pedaços, prédios abandonados (esperando uma proposta das construtoras), moradores de ruas aglomerados em praças, nos coretos e em todos os cantos da cidade. Alguns atravessam as avenidas de forma temerária, além de fazerem todas as suas necessidades ao relento, enquanto isso novos prédios brotam do chão sem nenhum projeto de infraestrutura que os tornem sustentáveis e levem em conta as grandes levas de pessoas que irão usar as mesmas estruturas de água e esgoto, defasadas há muito tempo. A destruição do Serviço Público de qualidade, que tão bons serviços prestaram e ainda prestam (os que restaram, é claro), através dos governos de Nelson Marchezan Jr e de Sebastião Melo, é a razão disso, mas a permanente despolitização do povo, nas últimas décadas, abriu caminho para Melo e Leite vencerem as eleições e colocar em prática o desmonte sistemático e programático. A gentrificação dos bairros tradicionais e históricos vão, gradativamente, desconstruindo a história e a cultura da cidade, assim foi com Carnaval, colocado em um local distante do Centro Histórico da cidade, confirmando o que todos sabemos; as elites endinheiradas da cidade só querem é multiplicar o seu dinheiro e viajar para o exterior.

O povo é uma contradição para os neocolonialistas e ultra neoliberais, porque não o desejam por perto, porém precisam deles, para que cumpram tarefas subalternas, mas sem alterar a estrutura social. Tanto o prefeito, quanto o governador, são representantes das elites endinheiradas e estão fazendo o seu papel -o de executores da demolição- e tudo isso em nome do ‘sagrado lucro’. Assim foi com o Código Ambiental, alterado em 2019 pelo governador, Eduardo Leite, em mais de 480 itens, onde se destaca a liberação de projetos pelo próprio empresário, com uma simples declaração. ‘É como se a raposa ficasse responsável por gerenciar o galinheiro’. Privatizar, liberar obras visando apenas o dinheiro, não nomear pessoas que passaram em concursos públicos, são algumas das práticas do governo municipal, mas basta uma nova enchente e a cidade afunda. Não há interesse em fazer nada que não redunde em ganhos e mitos, como empreendedorismo e terceirização, (costumam chamar de parceirização) são manipulados pela Grande Mídia para destacar somente os que funcionaram, porque a maioria acaba em falência total e perda do patrimônio que antes existia. As únicas “profissões” que não param de crescer em números são: corretores de imóveis , motoristas de aplicativos e motoboys. Triste cidade, mas que já foi Porto Alegre.

Vinicius Todeschini 23-05-2025

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