O desastre do ultra neoliberalismo
O mundo ficou pequeno diante das nossas telas e se transformou, pouco a pouco, em uma reality show, onde não precisamos mais de inscrição, todos estão incluídos, independentemente de qualquer escolha. O desalento com o próprio conceito de liberdade está posto, porque os rumos de um mundo mais justo, cujo escopo seria; 'todos com direitos iguais', se perdeu no decorrer das últimas décadas. Com o avanço da internet e do sistema digital, bilhões de pessoas podem ser monitoradas diretamente das suas casas, sem que sejam consultadas.
O mundo parece andar em círculos, sempre de volta ao ponto de partida e seguindo as mesmas etapas até terminar um ciclo e começar outro que, ‘no es lo mismo, pero es igual’. Todos os passos do ciclo atual estão seguindo a mesma ordem do anterior, com contextos, cenários e atores diferentes, por tudo isso, a possibilidade de uma guerra mundial é real. O fato do general norte-americano, Mark Milley, ter declarado recentemente, na Base Conjunta Myer-Henderson, na Virgínia: “Não fazemos juramento a um rei, ou rainha, ou tirano, ou ditador, e não fazemos juramento a um aspirante a ditador. Não fazemos um juramento a um indivíduo. Fazemos um juramento à constituição, e fazemos um juramento à ideia que é a América, e estamos dispostos a morrer para protegê-la”, nos mostra que a resistência ao pretenso imperador do mundo, Donald Trump, já começa a aparecer em seu próprio país e isso acalenta o desejo de que este pesadelo acabe, mas o projeto da Extrema-Direita prevê a desconstrução da democracia, como forma de impor um novo tipo de escravidão, ainda mais tirana que a atual, onde, feito baratas tontas, a população lutará somente pela sua sobrevivência, enquanto os poderosos continuarão a desfrutar la dolce vita. “O capitalismo gera seu próprio coveiro”, afirmou Karl Marx, mas, antes disso acontecer, bilhões serão enterrados vivos pelo exterminador do futuro, que é o ultra neoliberalismo.
Não há nenhuma saída, porque a ideia de socialismo não chega mais às massas, completamente cooptadas pela ideologia do consumo, onde ter um iPhone é mais importante que ler e ter cultura. A queda na leitura de livros é vertiginosa, basta ver o fechamento de grandes livrarias, como a Cultura e a Saraiva, parece que o narcisismo assumiu proporções dantescas e as patologias de caráter entraram ‘na ordem do dia’ e tudo que precisamos para viver terá que ser conquistado individualmente, ‘patrolando’ a concorrência. A ministra Marina Silva, esta semana, recebeu este tipo de tratamento no Congresso Nacional, através de duas excrescências que ocupam espaço no Senado, Marcos Rogério (PL-RO) e Plínio Valério (PSDB-AM). Em determinado momento o senador Marcos Rogério afirmou que ela tinha que “se pôr no seu lugar”, ao que ela respondeu: “Eu não posso aceitar que alguém me diga qual é o meu lugar. Meu lugar é o da defesa da democracia, do meio ambiente, da luta contra a desigualdade, da proteção da biodiversidade e da promoção da infraestrutura necessária ao país”. Na verdade, a ministra incomoda os defensores do agronegócio, porque defende uma economia sustentável em equilíbrio com o meio-ambiente e, também, pela sua origem; uma mulher negra, pobre e sem formação vinda do seringal Bagaço, no Acre, mas que conseguiu reverter a sua tragédia social e se tornar uma referência em seu campo de atuação.
O mundo ficou pequeno diante das nossas telas e se transformou, pouco a pouco, em uma reality show, onde não precisamos mais de inscrição, todos estão incluídos, independentemente de qualquer escolha. O desalento com o próprio conceito de liberdade está posto, porque os rumos de um mundo mais justo, cujo escopo seria; 'todos com direitos iguais', se perdeu no decorrer das últimas décadas. Com o avanço da internet e do sistema digital, bilhões de pessoas podem ser monitoradas diretamente das suas casas, sem que sejam consultadas sobre isso e assim somos catalogados em taxonomias sociais complexas, devidamente nomeadas pelos que controlam as grandes plataformas digitais. As Big Techs tomaram conta e hoje são ameaças reais a qualquer tipo de estabilidade, porque os seus interesses estão acima dos interesses de paz, harmonia e justiça social, tão desejado por gerações anteriores. É o mundo ao revés, cuja hegemonia se impõe tão somente pelo poder econômico, que não é mais fruto de algum trabalho produtivo, mas sim pela quantidade de seguidores em redes sociais, que ao abrirem o seu espaço multiplicam em várias camadas os ganhos dos donos.
Os líderes poderosos do mundo atual, em sua maioria, são pessoas que buscam o controle através da imposição da força. O massacre dos palestinos pelo grupo que está no poder em Israel, liderados por Benjamin Netanyahu, é um verdadeiro genocídio programado, porque, a despeito, dos grupos que se opõe a Israel e suas políticas expansionistas e de controle da região, as ações e retaliações de parte a parte nunca construíram qualquer outra perspectiva. A única chance foi desperdiçada com o assassinato de Yitzhak Rabin, em 4 de novembro de 1995, depois que o acordo com Arafat estava delineado, através dos ‘Acordos de Oslo’. Ao assassinar Rabin, o ultranacionalista Yigal Amir, decretou, também, a morte de qualquer acordo de paz entre palestinos e israelenses e sepultou, definitivamente, como se vê agora, qualquer nova possibilidade razoável para isso. A lógica da Extrema-Direita é sempre a mesma: resolver os problemas do momento da forma mais radical, sem levar em conta todos os desdobramentos históricos e contemporâneos. Para o grupo que comanda Israel, a guerra contra o povo palestino é a ‘solução final’ para todos os problemas da região. O povo israelense, que pensa de forma lúcida, sabe que Israel será julgada e condenada por suas ações atuais, assim como foi o nazismo, e este período entrará para a história como genocídio e será ressignificado, indeterminadamente, por incontáveis gerações.
Vinicius Todeschini 30-05-2025