Crónicas do Brasil | 11-06-2025 15:30

Um vírus oportunista

Vinicius Todeschini

O Holocausto perpetuado pelos nazistas contra o povo judeu é um fato, mas as novas versões que o negam encontram cada vez mais amparo e, com o passar dos anos, parece que a memória da tragédia que significou o nazismo esmaece e essas novas versões negacionistas ganham força. A própria ex-primeira-ministra alemã, Angela Merkel, afirmou a sua preocupação sobre isso e declarou que ‘a lembrança dos crimes nazistas é “inseparável” da identidade alemã’. A cidade de Blumenau, em Santa Catarina, que tem 365 mil habitantes e 63 células neonazistas é um indicativo da gravidade deste processo e dos seu alto poder de proliferação.

Uma sociedade é como um corpo, quando o corpo enfraquece, vírus que convivem, reprimidos em suas ações, dentro desse corpo, finalmente conseguem infectá-lo. Existem milhares de vírus que coexistem dentro dos nossos corpos, em um estudo recente publicado pela revista científica, Cell, os cientistas divulgaram que existem cerca de 140 mil vírus, apenas no sistema digestório humano, mais da metade ainda não foi devidamente estudada. Os vírus que infectam uma sociedade em sua maioria também não são conhecidos, quem diria, há 20 anos atrás, que o vírus do bolsonarismo estava se proliferando insidiosamente dentro do nosso país, contaminado tudo a sua volta e trazendo de volta a mais hedionda das doenças sociais, o fascismo. As pessoas demoraram para perceber que, àquela quantidade de notícias falsas, as fakes news, eram os sintomas evidentes de que a contaminação estava se espalhando por todas as latitudes e longitudes da pátria mãe, distraída em seus afazeres comezinhos. Quando, finalmente, acordamos a doença já estava instalada no corpo social brasileiro e agora deveria se buscar a cura, uma vacina, aliás, sempre negada pelos bolsonaristas.

Em Santa Catarina há um processo em andamento de inversão da verdade, onde se divulgou que o holocausto foi contra o povo alemão e não contra o povo judeu. Um dos responsáveis por isso é Altair Reinehr, professor de história e escritor, pai da ex-vice-governadora do estado, Daniela Reinehr. Ele pregava abertamente esta tese e para isso usava livros de uma editora, que foi devidamente condenada por mentir sobre os fatos da II Guerra Mundial. Em Santa Catarina as células nazistas se proliferaram e a insistência em uma mentira repetida, insidiosamente, criou resultados nefastos. Reinehr testemunhou a favor de Siegfried Ellwanger Castan, o escritor do livro. “Holocausto: Judeu ou Alemão?”, que acabou condenado por racismo pelo STF-Supremo Tribunal Federal. O livro negacionista é muito famoso e ainda circula nas hostes neonazistas, principalmente nesse estado. O Holocausto perpetuado pelos nazistas contra o povo judeu é um fato, mas as novas versões que o negam encontram cada vez mais amparo e, com o passar dos anos, parece que a memória da tragédia que significou o nazismo esmaece e essas novas versões negacionistas ganham força. A própria ex-primeira-ministra alemã, Angela Merkel, afirmou a sua preocupação sobre isso e declarou que ‘a lembrança dos crimes nazistas é “inseparável” da identidade alemã’. A cidade de Blumenau, em Santa Catarina, que tem 365 mil habitantes e 63 células neonazistas é um indicativo da gravidade deste processo e dos seu alto poder de proliferação.

O esmaecimento da memória sobre os fatos históricos recentes, como a ascensão do fascismo e do nazismo, a eclosão da II Guerra Mundial, o Holocausto contra o povo judeu e todas as barbaridades que isso causou parecem não ter mais o mesmo impacto nas novas gerações. O novo mundo, que se desenvolve a frente dos nossos olhos, parece ter desenvolvido uma cegueira seletiva ao passado recente. Nas mudanças de épocas, onde uma nova tecnologia surpreende o mundo, a sociedade parece romper com o passado rapidamente, mesmo que este passado tenha acontecido há pouco tempo, assim foi no começo do século XX com o advento do rádio e dos jornais. A sua massificação permitiu que Mussolini os usassem como ferramentas fundamentais para lançar as sementes de um movimento, que criou as bases para o todos os outros movimentos de Extrema-Direita daquele tempo e que levaram à II Guerra Mundial, da qual, as novas gerações passaram a desconsiderar como fato recente e sim como algo pré-histórico. O mundo digital usado pela Extrema-Direita atual é assim, cria coisas para descoesionar e desinstitucionalizar a sociedade e assim estimular o ultra individualismo como norma comportamental para os novos tempos.

“A Nova Era Trump” a cada dia apresenta uma nova polêmica e assim mantém o mundo em expectativa sobre os seus próximos passos, a última novidade foi o rompimento entre ele e Elon Musk, rompimento que pode ser mais um movimento teatralizado para gerar mais assunto e distrair a população norte-americana dos seus reais problemas. O fato é que o presidente norte-americano é um especialista em criar situações que mobilizem o público, a sua trajetória não deixa nenhuma duvida a este respeito, porque foi assim que se tornou popular, como apresentador do programa “O Aprendiz”, no ar entre, 2004 e 2017, pela NBC, além de apresentador, Trump, era coprodutor. É inegável o seu talento para conduzir situações onde os embates entre oponentes em busca de um objetivo pré-definido acontecem, mas o mundo não é um reality show, por mais que os donos do Poder e das Big Techs tentem nos convencer do contrário. No mundo real há choques culturais entre culturas milenares e os EUA não é uma nação tão antiga, nem tão homogênea a ponto de superar a complexidade dessas civilizações milenares. Na China se tem apenas um partido, mas as políticas podem ser alteradas e nos EUA, ao contrário, existem mais partidos -a rigor são 2- mas as políticas não podem ser alteradas.

Vinicius Todeschini 09-06-2025

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1720
    11-06-2025
    Capa Médio Tejo
    Edição nº 1720
    11-06-2025
    Capa Lezíria Tejo
    Edição nº 1720
    11-06-2025
    Capa Vale Tejo